Milho, fertilizantes e meio ambiente representam oportunidades para o agronegócio brasileiro. A afirmação é do diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Márcio Sette Fortes, que participou, na última sexta-feira, ao lado de especialistas, da mesa redonda “Perspectivas do agro brasileiro no mercado internacional em 2021”, promovida por videoconferência pela União Brasileira dos Agraristas Universitários (Ubau).
O debate, que contou com o apoio do Ministério da Agricultura, da SNA e de outras entidades, destacou as estimativas para o agronegócio no País, diante de sua capacidade de expansão da produção agrícola, de geração de empregos e de manutenção dos fluxos de exportação, fatores que foram estimulados pela crise provocada pela pandemia do novo Coronavírus.
Durante o encontro, Fortes disse que, no âmbito da Parceria Econômica Regional Abrangente (tratado de livre-comércio da região Ásia-Pacífico), o Brasil poderá aproveitar uma possível aumento da demanda de milho, diante do crescimento da produção de frango da Tailândia e das altas nas importações de frango da China, destinadas à manutenção de estoques, para negociar os preços por tonelada do cereal.
“Estamos em um momento muito favorável. De 2020 para 2021, os preços negociados do milho passaram de US$ 170 para US$ 233 a tonelada”, destacou o diretor da SNA. “O mesmo acontece com a soja. Os preços aumentaram de US$ 344 dólares em 2020 para uma expectativa de US$ 400 dólares a tonelada, e o câmbio continua com boas expectativas”.
China
Por outro lado, Fortes não descartou a possibilidade de que o governo americano de Joe Biden consolide uma aproximação maior com a China para fazer retroceder a política instituída no governo Trump de aplicação de sanções.
O especialista afirmou que isso poderia representar um aumento na venda de milho para o mercado chinês, mas também ressaltou que é preciso considerar, a exemplo do que ocorre no Brasil, os problemas climáticos que também afetam os EUA.
Nitrogenados
O diretor da SNA destacou ainda que o Brasil poderá diminuir sua dependência na importação de fertilizantes e incentivar a produção nacional. A oportunidade, segundo ele, está em um termo assinado entre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Petrobras, que prevê a venda das participações da estatal nas empresas controladas do setor de gás.
“Com o desinvestimento, abre-se uma competição interna maior do produto gás no mercado brasileiro. Fertilizantes nitrogenados utilizam o gás natural como fonte de hidrogênio em sua produção. Esse gás representa 80% do custo do fertilizante nitrogenado”, explicou Fortes.
Segundo ele, uma possível competição das empresas do setor deverá baixar o preço do gás, reduzindo os custos de produção e diminuindo a dependência do País quanto às importações de fertilizantes. “Isso vai trazer mais autonomia, favorecendo a produção nacional, com impacto no preço final do produto agrícola a ser exportado, que se tornará mais competitivo”, ressaltou o diretor da SNA.
“O País importa cerca de quase 80% dos fertilizantes que consome, mas esse número oscila. Em 2018, por exemplo, importamos 12.500 toneladas para sustentar a produção do agro”.
Posicionamento
Na área ambiental, Fortes chamou a atenção para o fato de que o Brasil precisa aproveitar a realização de encontros internacionais sobre mudança de clima programados para esse ano no Reino Unido, na China e nas Nações Unidas para “colocar na mesa de negociações do mundo sua imagem de bom produtor com respeito às leis ambientais”.
“A questão ambiental pesa sobre o Brasil sob forma de denúncias, que muitas vezes não representam a realidade mas atingem nossa imagem. Haverá uma tendência alinhamento das posições europeias nesses encontros e o Brasil não pode perder essa oportunidade (de se posicionar)”, disse o diretor da SNA. “O problema está no efeito dominó do discurso sobre o Brasil, que já está afetando o acordo Mercosul-UE”.
Ainda durante o evento, Fortes ressaltou a importância do trabalho do Ministério da Agricultura na ampliação da rastreabilidade do gado, e estimou que a Balança Comercial terá saldo positivo em 2021, “com um resultado puxado mais pelas commodities e menos pelos manufaturados”.
Desafios
José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, diretor de Programa da Secretaria Executiva do Ministério da Agricultura, falou sobre as ações do governo para garantir a produção, o abastecimento e a geração de renda durante a pandemia e ressaltou os atuais desafios do setor.
Entre eles, destacou a necessidade de desconcentrar grande parte produção, atualmente sob a responsabilidade de uma pequena porcentagem de estabelecimentos mais ricos, e de priorizar ao escoamento da produção agrícola (soja e milho) a partir do Arco Norte, como forma de melhorar a logística e diminuir os custos de frete.
Vieira também defendeu o ganho de escala produtiva para um maior número de produtores, por meio de políticas voltadas ao fomento do cooperativismo e das associações produtivas.
“Quanto maior a escala, melhores são os preços de venda e maior a capacidade do agricultor de barganhar custos. Logo, ele consegue aumentar sua lucratividade e realizar mais investimentos. Ganhando escala, o produtor consegue acessar novos mercados. Isso é bom para a rentabilidade e para o crescimento econômico”, disse o secretário, que também considerou a segurança fundiária como outro desafio.
“Praticamente 1/4 do território nacional é preservado junto aos produtores agropecuários brasileiros. O Brasil preserva 66,3% de seu território e as áreas destinadas às lavouras equivalem a somente 7% do território nacional”, informou Vieira, lembrando que o crescimento produtivo não se dá pelo aumento da área e sim pela incorporação de novas tecnologias.
“Políticas de distribuição de terras sem a garantia de acesso às tecnologias e ao conhecimento não são efetivas”, concluiu.
Participações
Também participaram da mesa redonda o advogado Frederico Favacho, que falou sobre a pauta brasileira de exportações, a dependência do País com a China e questões ambientais; o jurista Lutero de Paiva Pereira, que abordou a imagem do Brasil no exterior e os investimentos estrangeiros no País, e a diplomata brasileira na embaixada de Londres na área do agronegócio, Carolina von der Weid, que destacou os desafios de acesso do agro ao mercado internacional, ressaltando aspectos como agregação de valor, sustentabilidade, certificação e rastreabilidade.
O evento online foi organizado pela secretária ad hoc da Ubau, Heloísa Bagatin Cardoso, e teve a mediação da advogada internacionalista Jéssica Nogueira.
Assista ao debate, na íntegra, na TV Agrarista da Ubau no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Qjhr3vj_gTE
Fonte: Ubau
Equipe SNA