O mundo hoje coloca nas costas do Brasil a responsabilidade de garantir a segurança alimentar. Com essa afirmação, o presidente da Academia Nacional de Agricultura, Roberto Rodrigues, abriu o painel “Agronegócio – Desafios para o crescimento”, na quinta-feira, 22 de agosto, durante o Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), realizado no centro do Rio de Janeiro. O painel teve ainda a participação do chefe-geral da Embrapa Estudos e Capacitação (CACAT), Elísio Contini, e moderação do presidente da SNA, Antonio Alvarenga.
Durante o evento, o ex-ministro e coordenador de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas apresentou um panorama da importância da produção rural nas relações internacionais do Brasil. Ao citar o desafio de diversificar a matriz energética mundial, Rodrigues declarou que, ao contrário dos alimentos, que com tecnologia adequada podem ser produzidos em qualquer lugar, a produção de agroenergia depende de condições específicas. Segundo o especialista, os países tropicais emergentes saem na frente nesse processo, assumindo posição estratégica.
Ao mesmo tempo em que apontam a necessidade de produzir cada vez mais e melhor, os organismos internacionais, diz Rodrigues, pressionam pela preservação dos biomas nativos e dos recursos naturais. Segundo ele, os investimentos em tecnologia garantiram avanços expressivos nesse sentido. “Se tivéssemos hoje a mesma produtividade de 20 anos atrás, mais 68 milhões de hectares teriam que ser utilizados para alcançarmos os mesmos resultados. O Brasil fez uma revolução silenciosa no campo, que nenhum outro país fez”, enfatizou.
O tema “Agronegócio – Desafios para o crescimento” entra em debate em um ano em que, com previsão de safra histórica, a agricultura nacional sustentará, de forma ainda mais significativa, os números da balança comercial brasileira.
Na última década, o setor quadriplicou seu faturamento em exportações, saltando de US$ 24,8 bilhões em 2002 para US$ 95,18 bilhões em 2012. Em 2013, as projeções são ainda mais animadoras. “O agronegócio brasileiro está exportando US$ 100 bilhões este ano”, comemorou Alvarenga.
Roberto Rodrigues chamou a atenção para o fato de muitas das discussões feitas em conferências do setor agrícola não surtirem efeito prático. Para ele, é preciso articular estratégias para proporcionar o desenvolvimento efetivo da atividade. “Até 2020, a oferta mundial de alimentos tem que crescer 20%. E, para que o mundo aumente a oferta em 20%, o Brasil terá que crescer 40%”, afirmou.
O chefe-geral da Embrapa Estudos e Capacitação (CACAT), Elísio Contini, encerrou o painel destacando tecnologias que foram capazes de expandir a produtividade de diversas culturas no Brasil. “Algumas tecnologias importantes foram trabalhadas, como o controle biológico e o plantio direto, mas a agricultura nos cerrados foi uma grande sacada brasileira. Nas décadas de 1960 e 1970, havia um boi para cada 5 a 10 hectares, essa era a média nos cerrados brasileiros, de 207 milhões de hectares. Hoje, a produtividade da soja no cerrado é superior à do líder, os Estados Unidos. Eu me lembro que, na década de 1970, quando entrei para a Embrapa, várias pessoas diziam ‘nessa terra não dá nada’, ‘não plante milho’, ‘aqui soja nem pensar’. Pesquisadores, agricultores e governo acreditaram e hoje temos essa maravilha de expansão nos cerrados. Outro ponto foi a tropicalização da soja, o que devemos fazer também com outros produtos”, sugere Contini.
Ao falar de futuro, Contini acrescentou que, para aumentar a competitividade da agricultura brasileira, é necessário adquirir também conhecimentos que estão sendo desenvolvidos internacionalmente e incorporá-los à produção nacional. Ele lembra que, para isso, em 1998, a Embrapa começou a criar laboratórios no exterior. “Estados Unidos, Europa e Ásia são os três grandes polos de conhecimento no mundo. E sem esse conhecimento não vamos dar o salto que precisamos”, avalia.
Por Equipe SNA/RJ