Embrapa renova aposta em parcerias

Contestado por um grupo de servidores, mas apoiado, sobretudo, por produtores de algodão, Sebastião Barbosa, novo presidente da Embrapa, defende que a estatal amplie os acordos de cooperação com organismos internacionais como forma de garantir recursos para financiar suas pesquisas. No orçamento proposto pelo governo para 2019, há R$ 3.6 bilhões destinados à Embrapa, mas apenas 8,5% desse montante deverão ser destinados a pesquisas, a grande maioria dos recursos será para pagamento de pessoal.

Aos 74 anos, Barbosa assumirá o cargo no dia 10. Foi escolhido para um mandato de três anos, renováveis por mais três, independentemente do partido do próximo presidente da República. De fala mansa e pausada, o pesquisador aposentado é mineiro de Lavras, no sul de Minas, onde se formou engenheiro agrônomo. E na primeira entrevista concedida após ter sido definido como novo chefe da Embrapa, afirmou ao Valor que a estatal precisa retomar seu protagonismo internacional.

Em parte devido a problemas orçamentários, a Embrapa viu encolher nos últimos tempos sua rede de escritórios e laboratórios de pesquisas espalhados por diversos países, sobretudo na África, onde países como a China, por exemplo, vêm ampliando investimentos. Barbosa quer estancar o processo. Espera manter os laboratórios (Labex) existentes em países como França, EUA, Coreia do Sul e China e enxerga boas oportunidades de transferência de tecnologia para polos do Oriente Médio, onde há potencial para o desenvolvimento da agricultura.

Além disso, Barbosa pretende que instituições como FAO (braço de agricultura e alimentação da ONU), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD) banquem a contratação de pesquisadores do setor privado, selecionados por meio de editais, para projetos de pesquisa específicos indicados pela Embrapa. Segundo o novo presidente, a estatal precisa ser “oxigenada” e renovar seus quadros para atrair profissionais que atuem em frentes modernas como nanotecnologia, agroenergia e alimentos funcionais.

Atualmente, a Embrapa recebe somente cerca de R$ 130 milhões por ano das parcerias que participa no país e no exterior. Barbosa acredita ser possível elevar essa ajuda de forma expressiva, e confia em sua própria experiência para lograr êxito na empreitada. Ele trabalhou 17 anos como especialista da FAO na sede do órgão, em Roma, e em um escritório da entidade em Santiago, no Chile. Esse trânsito internacional pesou na decisão do conselho da Embrapa de escolhê-lo como presidente em um processo seletivo no qual participaram 16 candidatos.

“A Embrapa não pode ser um problema para o governo ou para a sociedade, tem de ser parte da solução. Há muitas outras prioridades no país e precisamos buscar maneiras de melhorar nosso orçamento sem necessariamente dependermos do Tesouro”, disse Barbosa. “Temos que desenvolver parcerias com agências internacionais e são muitas as possibilidades. Não podemos ficar deitados em berço esplêndido”.

Embora permaneça como referência mundial em pesquisas agrícolas, a Embrapa hoje encara críticas de parte do agronegócio e de seus próprios servidores. O atual presidente, Maurício Lopes, estimulou parcerias com empresas privadas em sua gestão, que começou em 2012, preservou o corpo de funcionários estável em cerca de 1.200 pessoas e conseguiu que o orçamento aumentasse de R$ 2.1 bilhões para R$ 3.4 bilhões em 2018. Mas a reestruturação que deflagrou, e que ainda está em curso, provoca descontentamentos.

O objetivo da reestruturação administrativa e financeira de Lopes é reduzir custos por meio do enxugamento de unidades de pesquisa e serviços, da diminuição de cargos comissionados e de um plano de desligamento incentivado. Mas o presidente é acusado de não ter consultado gestores e funcionários da estatal nesse processo. Barbosa se comprometeu com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a dar continuidade às ações, mas prometeu conversar com chefes de unidades e centros de pesquisa antes de “solução drástica”.

E sabe que não navegará em águas tranquilas. O sindicato dos servidores da Embrapa se opôs a seu nome para a presidência por considerá-lo mais linha dura que o necessário em sua passagem pela chefia da Embrapa Algodão e também por ter assumido esse cargo quando já estava aposentado. Barbosa lembra que em 2014, quando se tornou gestor da unidade, isso era permitido. E disse que não sabe se é ou não linha dura, mas que continuará cobrando produtividade e eficiência, das quais a Embrapa não pode prescindir.

 

Fonte: Valor Econômico

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