No cenário internacional, o ano de 2021 tem sido de preços mais altos para os lácteos, sustentados pela demanda chinesa, baixo nível de estoque mundial, e por uma oferta menor dos países exportadores. Após uma pequena queda de preços a partir de abril, os preços no leilão GDT de setembro e outubro voltaram a sinalizar altas, com destaque para a manteiga, fechando a US$ 3.688/tonelada.
Como referência de preço internacional ao produtor, é utilizado o indicador do International Farm Comparison Network (IFCN), calculado com base nas variações de preços de um mix de commodities do mercado internacional de lácteos. Para setembro de 2021, o preço bruto ao produtor ficou em US$ 0,432/kg de leite (padrão 4% de gordura e 3,30% de proteína), equivalente a um preço líquido de R$ 2,08/litro, ao câmbio de R$ 5,28 no Brasil.
Diversos países estão enfrentando dificuldades na produção de leite em função da alta nos custos de produção, em grande parte devido a aumentos nos preços internacionais de commodities, como o petróleo, grãos, energia e fertilizantes. O índice de preço das commodities CRB/Reuters subiu de 127 pontos em maio de 2020, para 234, em setembro de 2021, quando atingiu o seu maior valor desde outubro de 2015.
A estimativa de produção mundial de leite para setembro, segundo o IFCN, indica um aumento de 1,10% em relação ao mesmo período de 2020.
Custo
Para os grandes produtores globais, o custo dos grãos (usando, como referência, uma mistura concentrada 70% milho + 30% farelo de soja) tem importante participação no custo de produção de leite.
Os maiores aumentos de custo de grãos ocorreram a partir de setembro de 2020, atingindo o pico histórico de US$ 0,337/kg, em maio de 2021, correspondendo a um preço 51,40% superior à média de 2018-2020. Todavia, de maio a setembro de 2021 houve uma queda de 16%.
Variações
No Brasil, as variações dos preços do leite ao produtor têm sido mais intensas a partir de julho de 2020. Na média dos últimos três anos, o preço real brasileiro foi R$ 1,67/litro. Todavia, a partir do segundo semestre de 2020, se observa um novo patamar de preços líquidos, em R$ 2,21/litro na média dos 15 meses, valor 32% acima em relação à média de 2018-2020.
Apesar do aumento nos preços do leite, a margem para o produtor foi prejudicada pela alta nos custos. O custo da mistura milho e farelo de soja (70%/30%) cresceu mais do que proporcionalmente. O valor médio da mistura, nos últimos três anos (2018-2020), ficou em R$ 1,14/kg. Apenas nos nove meses de 2021 a média fechou em R$ 1,97/kg, valor 73% maior, em relação ao período 2018-2020.
Incertezas
O último trimestre de 2021 ainda reserva um cenário com incertezas e desafios. O início do período de safra, com redução gradual dos preços do leite, e um custo de produção elevado, tende a pressionar negativamente as margens do produtor.
Os laticínios também têm enfrentado dificuldades para repasses de preços em função de uma demanda enfraquecida. Com isso, se observa uma queda generalizada nas cotações dos lácteos, com recuo no mercado atacadista, no mercado spot e ao produtor de leite.
Uma sinalização positiva vem do maior controle da Covid-19 e uma retomada mais rápida do setor de serviços, puxado pelo turismo, eventos, escolas, entre outros. Mas o cenário será bastante desafiador neste final de ano para o setor lácteo brasileiro.
Fonte: Embrapa Gado de Leite
Equipe SNA