
As perspectivas para o comércio internacional e para a economia mundial como um todo já estão sendo impactadas pela iniciativa dos Estados Unidos de impor tarifas unilaterais decretadas sobre seus parceiros comerciais. Esta é uma estratégia que aparentemente visa corrigir o enorme déficit comercial americano, desvalorizando o dólar e incentivando maior produção de bens e serviços no país. Estas medidas têm gerado incertezas e volatilidade nos mercados, aumentando o risco de recessão nos Estados Unidos e em outras potências econômicas mundiais, o que pode refletir no Brasil.
A produção mundial de lácteos segue se ajustando à demanda, com algum aumento registrado na produção, o que tem permitido recentemente ligeira queda nas cotações internacionais de lácteos, após um período de contínuas altas. Após duas quedas consecutivas, o último leilão do GDT registrou estabilidade nas cotações e nos volumes comercializados, com preço médio de U$ 4,245 a tonelada.
No cenário doméstico, os principais indicadores macroeconômicos sinalizam para um crescimento da economia em 2025, estimado em 2% no último Boletim Focus, embora isso represente significativa redução em relação ao registrado no ano de 2024. Os indicadores de emprego e renda seguem favoráveis, garantindo a melhoria do poder de compra da população.
Alguns indicadores da atividade econômica como serviços e vendas do comércio apresentaram queda no primeiro mês do ano, mas com resultados positivos em 12 meses. Os últimos dados fiscais indicam uma pequena queda de 0,90% na dívida bruta brasileira no início de 2025. Estes dados e a evolução da economia brasileira permitiram a queda da cotação do dólar no início deste ano. Mas ainda há incertezas, em função do crescente aumento das expectativas inflacionárias, das altas taxas de juros e da gestão dos gastos públicos. Isso pode impactar o mercado de trabalho e a renda da população, que vêm apresentando resultados positivos, e sustentando a demanda por leite e derivados.
A produção de leite inspecionada cresceu pelo segundo ano consecutivo, aumentando 3,10% em 2024 em relação ao ano anterior. Este é o resultado de margens e termos de trocas mais favoráveis ao produtor, viabilizando a recuperação da produção doméstica.
No entanto, a importação continua em patamar elevado. Com crescentes volumes exportados, a pecuária de leite argentina tem registrado um aumento de produção nos últimos meses. A maior estabilidade econômica, o controle da inflação e a retirada de barreiras às exportações explicam este crescimento e o Brasil é importante destino deste fluxo.
O mês de março marca o início da entressafra do leite no Brasil. Nos cinco meses entre março e julho historicamente a produção mensal cai para abaixo da média observada nos 12 meses do ano. Os preços do mercado spot, que registraram expressiva elevação no mês de março, indicam menor disponibilidade de produto e demanda firme da indústria.
A menor disponibilidade doméstica e uma postura mais agressiva de algumas empresas na captação de novos fornecedores de matéria prima podem alavancar o preço para o produtor nos próximos meses (Figura 1).
A atividade econômica mais aquecida nos últimos anos, com o aumento da massa de rendimento das famílias, tem mantido firme a demanda por lácteos. Isso tem possibilitado o aumento da produção nacional de leite mesmo em um cenário de pressão de importações.
A evolução recente dos termos de troca tem favorecido a maior oferta doméstica de leite e esta situação pode prosseguir nos próximos meses. As dúvidas sobre a evolução do poder de compra da população e os custos domésticos mais altos que os internacionais lançam incertezas sobre a evolução da produção nacional em um cenário de menor crescimento do emprego e da renda, que é uma das possibilidades para o ano de 2025.
