Maurício Antônio Lopes assumiu a presidência da Embrapa, em outubro de 2012, com a clara visão de que a estatal precisava definir novas estratégias e fontes de recursos para preservar o status de principal referência global em pesquisas agropecuárias tropicais, sedimentado nas quatro décadas anteriores. Nesse período, entre outros feitos, colaborou decisivamente para tornar viável o plantio de grãos em grande escala e de forma competitiva no Cerrado.
No início de 2013, o pesquisador alçado ao posto de executivo tinha ao menos uma perna da equação que tentava resolver em gestação: começava a ser analisada no Congresso a criação da Embrapatec, subsidiária privada, de capital fechado, com o objetivo de comercializar as tecnologias da Embrapa e liberdade para se tornar sócia de outras empresas de seu raio de ação, de forma a multiplicar projetos e pesquisas. Isso mesmo com orçamento limitado – no total, foram R$ 2.6 bilhões em 2014, a maior parte destinada ao pagamento de seus funcionários, entre os quais 2.444 pesquisadores.
Mas Lopes sabia que não era suficiente. Para manter seu protagonismo e colaborar para o aumento dos investimentos em pesquisa e inovação no País a pelo menos 2% do PIB agropecuário (em 2012, último dados disponível, o percentual foi de 1,51%), a Embrapa precisaria ser ainda mais ousada. O gás para isso, segundo ele, veio neste ano, apesar das turbulências político-econômicas do país. Com apoio da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que assumiu o cargo no início de 2015, começava a ser delineada a Aliança para a Inovação Agropecuária, a grande aposta atual da estatal para maximizar seu protagonismo e seus resultados.
Anunciada no fim do primeiro semestre pela própria Kátia – a Embrapa é vinculada ao Ministério da Agricultura -, a Aliança já aparece nos slides como “Uma nova visão de futuro para pesquisa e a inovação”. E é tratada por Maurício Lopes como uma “plataforma” que trabalhará os objetivos de longo prazo da estatal, e da pesquisa agropecuária em geral, a partir do estabelecimento de portfólios, processos e uma nova cultura de gestão. “Não podemos nos acomodar em lógicas e processos desenvolvidos nas últimas décadas”. A ordem é dar vida nova à Embrapa, que em abril completou 42 anos.
Lopes esclarece que isso não significa que a Embrapatec tenha sido esquecida. Mas mudou, cresceu e agora está inserida na Aliança, que buscará acelerar seus resultados por meio de uma união de forças entre Embrapa, órgãos estaduais de pesquisa, universidades, produtores rurais e empresas. A ideia é que da união desses elos sejam produzidas as inovações, seja em unidades mistas tocadas com universidades em linha com o modelo francês de plataformas virtuais, seja a partir da capilaridade dos órgãos estaduais. Ou como no caso da soja transgênica Cultivance, lançada ontem em Brasília pela Embrapa e pela alemã Basf após 20 anos de cooperação e US$ 33 milhões em investimentos.
Trata-se da primeira tecnologia transgênica – a semente é resistente a herbicidas – 100% desenvolvida no Brasil. No ano que vem, adianta Lopes, será a vez de a Embrapa lançar no mercado um feijão geneticamente modificado com uma nova tecnologia, que ele preferiu não detalhar. Em outra frente, a estatal e as parceiras John Deere, Syngenta, Dow e Cocamar, entre outras empresas, investem cada uma R$ 500.000,00 por ano no desenvolvimento de modelos sustentáveis de integração lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta.
Quando fala em atrair mais investimentos privados para as pesquisas agropecuárias – 90% dos aportes nessa frente são provenientes do setor público -, Lopes não pensa apenas em empresas, mas também em produtores. Nesse caso, talvez o programa que esteja amadurecendo mais rapidamente é algo similar ao “soja check-off” que existe nos Estados Unidos. Financiado através de uma taxação equivalente a 0,5% do preço de mercado líquido de cada bushel (medida equivalente a 27,2 quilos) de soja colhido, o programa permite promoção do produto americano no país e no exterior, bem como pesquisas na melhoria do grão.
“Também temos que trabalhar melhor o conceito de inteligência territorial estratégica com um conjunto rico de dados e informações. Há mapas de todo o país [feitos com fotos tiradas de satélites] e podemos criar uma base extraordinária concentrada na Embrapa Gestão Territorial”, diz o presidente da estatal. Do desenvolvimento desse conceito viriam planos mais bem embasados para aplicação em regiões como o “Matopiba” (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o Semiárido e a Amazônia.
“Até por conta das mudanças climáticas e da preocupação com a segurança alimentar, o mundo tropical atrai cada vez mais interesse da Ciência”, observa Lopes. Mas para que a Embrapa consiga responder às expectativas que gera, será preciso elevar um montante de aportes limitado a R$ 500 milhões em 2014 (entre custeio e investimentos nas pesquisas) e que, neste ano, talvez nem chegue a isso. Pouco para acompanhar o passo de multinacionais que investem mais de US$ 1 bilhão por ano e valor insuficiente para que o Brasil amplie sua fatia nos aportes globais em pesquisa e inovação agropecuária, hoje em torno de 5%.
Fonte: Valor Econômico