Atingidas em cheio pela combinação entre valorização do dólar, contrabando e maior dificuldade dos produtores em obter crédito, a receita das vendas de defensivos agrícolas no Brasil confirmou as projeções e encerraram 2015 com o primeiro recuo em dólar em seis anos. E o tombo foi doloroso para a indústria: a receita caiu 21,56% em relação ao ano anterior, para US$ 9.61 bilhões, conforme levantamento do Sindiveg, sindicato que representa empresas do segmento.
“No início de 2015, já tínhamos uma expectativa ruim, mas não esperávamos uma desvalorização do real [ante o dólar] tão grande”, disse ao Valor Silvia Fagnani, vice-presidente executiva do Sindiveg. Mais de 90% dos produtos da área são importados ou fabricados à base de matérias-primas trazidas do exterior, o que revela o tamanho da influência do câmbio nesse mercado – e a indústria ainda não conseguiu repassar toda alta da moeda americana aos produtos.
O desempenho negativo no Brasil contribuiu muito, segundo Silvia, para a desaceleração do mercado global de defensivos no ano passado – houve queda de 9,8% das vendas, para US$ 54.6 bilhões. O Brasil, ainda assim, permaneceu na dianteira, seguido pelos EUA.
Em real, porém, a receita das companhias do segmento continuou em ascensão. Considerando a PTAX média de 2015 (R$ 3,3385), as empresas contabilizaram R$ 32.01 bilhões em vendas, contra R$ 28.8 bilhões em 2014, quando a PTAX média foi de R$ 2,3550.
A soja permaneceu capitaneando a comercialização de agroquímicos no Brasil, absorvendo 52% da receita apurada. Na sequência vieram a cana (10%), o milho (10%) e o algodão (7%). Maior Estado produtor de grãos, Mato Grosso foi o principal mercado para os defensivos, com 22,9% das vendas. São Paulo, que em 2014 tinha descido à quarta posição devido aos problemas com a seca, voltou à vice-liderança com a recuperação das lavouras de cana, laranja e café e respondeu por 13,4% das vendas. Em seguida vieram o Paraná (13,3%) e o Rio Grande do Sul (12,8%).
O atraso na liberação do crédito rural, que também ficou mais caro no ano passado devido ao ajuste fiscal do governo, ajudou a empurrar ladeira abaixo a comercialização de defensivos. Reflexos desse cenário foram sentidos no prazo médio de recebimento dos produtos vendidos, que saltou de 180 dias, em 2014, para 212 em 2015, conforme o Sindiveg. Já o índice de inadimplência cresceu de 11,3% para 14%. “Quase 80% das vendas foram financiadas pela própria indústria, o que a deixa mais exposta aos efeitos da inadimplência e dificulta a recuperação da variação cambial”, disse Silvia Fagnani.
Os inseticidas ainda foram a classe mais demandada, mas registraram a maior queda de vendas, de 35,2%. Isso por causa do contrabando, que nas contas do Sindiveg já atinge até 20% das vendas de agrotóxicos no País.
Normalmente, os produtos ilegais saem da China e da Índia e entram no Brasil via Paraguai, Uruguai e Bolívia.
“O Paraguai importa mais de 30 vezes o que sua área necessita de defensivos e não há registro de exportação legal desses produtos”, afirmou Silvia. Apenas as importações paraguaias de benzoato de emamectina, inseticida contra a lagarta helicoverpa que teve o uso emergencial autorizado na Bahia, Mato Grosso, Goiás e Maranhão, superaram a demanda do país em US$ 110 milhões em 2015 – excedente que, conforme o Sindiveg, foi todo destinado ao Brasil.
As importações brasileiras legais de agrotóxicos atingiram US$ 5.95 bilhões em 2015, 19% menos que em 2014. O volume diminuiu 6,10%, para 392.500 toneladas.
Para 2016, o Sindiveg espera que as vendas domésticas fiquem em patamar semelhante ao do ano passado. “Sobre o crédito, acredito que conseguiremos sentir se houve uma melhora mais para o meio do ano”, disse Silvia.
Fonte: Valor Econômico