O fenômeno El Niño provoca mudanças em variáveis ambientais, tais como temperatura e precipitação, que possuem efeito direto sobre a produtividade e também prevalência e severidade das doenças. Desta maneira, o produtor precisa estar atento às condições ambientais para não ser surpreendido como, por exemplo, pela entrada de uma determinada doença antes do que seria normalmente esperado.
Neste ano, o que está predominando é o fenômeno El Niño Modoki, considerado o tipo menos intenso de El Niño. Os cuidados necessários nos anos com esse fenômeno devem ser tomados da mesma forma, uma vez que é difícil prever com exatidão sua intensidade. Segundo o Coordenador Técnico de Fitopatologia do Instituto Phytus – Estação de Planaltina/DF, Me. Nédio Rodrigo Tormen, caso se confirme a presença do El Niño Modoki, não há garantia de regularidade nas precipitações na região Sul do Brasil, onde normalmente choveria acima da média.
No entanto, o monitoramento dos focos e dispersão da ferrugem continua fundamental para o controle preventivo da doença. Para as demais regiões, ainda que os efeitos do Modoki possam ser mais amenos, é preciso estar atento e tomar as precauções necessárias. “A grande parte dos plantios no Cerrado não puderam ser realizados na época adequada, estabelecendo a cultura em uma posição de alta pressão de ferrugem, sendo fundamental um bom planejamento para o manejo de pragas e doenças, indispensável para a estabilidade do sistema produtivo”, alerta Tormen.
Em função desta ação do El Niño ser diferenciada em cada região, o pesquisador PhD Ricardo Balardin, aconselha sempre iniciar o controle químico de forma antecipada. “Existe uma janela ideal para iniciar o controle (18 a 25 dias após a emergência). Quanto mais cedo plantar, mais se aproxima dos 25 dias e quanto mais tarde plantar, o inverso. No mais, deve-se contar com tratamento de sementes, rotação de culturas (quem tiver realizado), adequada população de plantas, manejo correto no controle de pragas e ervas daninhas”.
De acordo com o Coordenador Técnico de Entomologia do Instituto Phytus – Estação de Planaltina/DF, o engenheiro agrônomo Juliano Uebel, no Sul, onde o regime pluviométrico é afetado positivamente, com um regime de chuvas acima do normal na média dos anos, a influência do fenômeno aos organismos nocivos às lavouras é maior às doenças quando em comparação às pragas. As pragas agrícolas, sejam elas insetos ou ácaros, enquadram-se em um grupo de organismos com moderada necessidade de água, suportando grandes variações de umidade no ambiente em que vivem, até mesmo a alternância que existe de estações secas e úmidas no Brasil.
Um regime de chuvas acima da média pode até ser prejudicial à maioria das pragas que ocorrem na lavouras, afetando direta e/ou indiretamente alguma etapa do ciclo biológico das mesmas e até mesmo seus hábitos alimentares. Nos locais menos influenciados por esse fenômeno, as alterações na dinâmica da maioria dos organismos pragas podem ser poucas ou até mesmo nenhuma, como por exemplo, na região Centro-Oeste, responsável pela maior parte da produção de grãos do país. O excesso de chuvas, quando houver, pode influenciar positivamente no sentido de aumentar a ocorrência de organismos entomopatogênicos (nocivos às pragas) na lavoura.
Tais organismos, sejam fungos, bactérias ou vírus, podem encontrar nesse ambiente, condições favoráveis e contribuir para o aumento da mortalidade de insetos e ácaros pragas. Uebel destaca ainda que, independentemente do fenômeno climático previsto para uma safra, o monitoramento constante das lavouras, e até mesmo áreas marginais e adjacentes a essas, devem ser criteriosos no sentido de se prever possíveis problemas com algumas pragas, sejam elas de solo ou da parte aérea das culturas. “Áreas externas às lavouras, como matas, pastagens e comunidades de plantas daninhas, são muito importantes, pois na ausência de culturas, são os locais de manutenção de pragas vivas de uma safra à outra, sejam nas formas de ovos, larvas ou pupas, dependendo da espécie”, aponta Uebel.
Para o controle de pragas como, por exemplo, a Helicoverpa armigera e da Pseudoplusia sp., cuja incidência é elevada na região do Cerrado, com os níveis superando àqueles verificados no ano passado, Coordenador Técnico de Entomologia do Instituto Phytus – Estação de Itaara/RS -,Dr. Juliano Farias, indica realizar um cuidadoso monitoramento, pois este possibilita identificar o momento ideal de entrar com a aplicação de inseticida. “Da mesma maneira que o problema não se resolve aplicando antes da presença da lagarta, as aplicações quando a maior parte das lagartas está em estágios tardios são de baixa eficiência.
Diferente da aplicação de fungicidas, a aplicação de inseticidas baseada em calendário não é eficiente e sustentável no curto e, principalmente, no longo-prazo”. Farias explica ainda que o manejo baseado no monitoramento possibilita não entrar em desespero aplicando coquetéis de produtos para sanar um problema de uma aplicação tardia e, assim, evitando criar um problema muito maior em um curto período de tempo. “A segunda base do manejo dessas espécies é a seletividade. Produtos mais seletivos devem ser priorizados no início da cultura. Além disso, a escolha do ingrediente ativo deve ser baseada na espécie que está ocorrendo na área”, orienta.
Fonte: Agrolink