Eficiência agrícola depende de pesquisa genética e manejo, não de maior área plantada, aponta professor da Unicamp

Manejo integrado envolve condições de solo, clima e como utilizar recursos para combater pragas. Foto: Divulgação Embrapa

O Brasil é uma das grandes potências agrícolas e, em um mundo com maior necessidade de produção de alimentos, é a eficiência amparada na ciência que permite produzir mais alimentos com menos água e sem a necessidade de desmatar.

“O futuro do planeta depende da produção mais sustentável de alimento para uma população crescente. O problema é que existe um limite. Não dá para usar toda a área disponível de terra. Vamos precisar aumentar em 60% a produção por unidade de área. É preciso preservar as florestas, não desmatar, para termos água e um planeta minimamente habitável”, diz o professor Paulo Arruda, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Ele ressalta que a eficiência na produção agrícola depende de dois vetores: manejo e genética: “Manejo envolve condições de solo, clima e como utilizar recursos para combater pragas. Já a genética, também por meio das pesquisas científicas, da genômica e do melhoramento genético desenvolve as variedades mais produtivas adaptadas às diferentes regiões e condições climáticas”.

BIOTECNOLOGIA NA AGRICULTURA

Os dois vetores relacionados à eficiência agrícola foram debatidos por especialistas no Ciclo ILP-Fapesp, que abordou o tema “Biotecnologia na Agricultura” no dia 22 de outubro.

O ciclo é realizado pela instituição pública Fundação de Amparo à Pesquisa  do Estado de São Paulo, em parceria com o Instituto do Legislativo Paulista (ILP).

Também participaram do evento José Roberto Postali Parra, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP); Marcelo Poletti, da empresa Promip Manejo Integrado de Pragas; e Debora Colombi da empresa Biotecnologia, Pesquisa e Inovação (BPI), sob a coordenação de Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da Fapesp.

Arruda também coordena o Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas, que estuda o genoma de plantas resistentes à seca e busca identificar genes que garantam essa qualidade a diferentes espécies.

Com sede na Universidade de Campinas (Unicamp), o Centro conta com o apoio da Fapesp e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no âmbito do programa Centros de Pesquisa em Engenharia/Centros de Pesquisa Aplicada (CPE/CPA).

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS (MIP)

Há também as técnicas de manejo integrado, além da pesquisa genética, que podem ser feitas a partir do uso de agrotóxicos e com outras técnicas como o uso de feromônios (substâncias químicas para atrair pragas em lavouras), ou de insetos e microrganismos que atuam como inimigos naturais de uma determinada praga.

“O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é um conjunto de medidas que, além de levar em conta os critérios econômicos, também considera questões ecológicas e sociais. A medida que chama mais atenção são os produtos químicos, exatamente porque causam, se aplicados de forma indiscriminada, problemas como intoxicação para quem aplicou, resíduos nos alimentos, na água e no solo”, explica José Roberto Postali Parra, professor da Esalq/USP.

Ele destaca que o controle biológico de pragas visa reduzir ou até eliminar ao agroquímicos, embora, em alguns casos, seja necessária a combinação de métodos, principalmente quando se trata de grandes extensões rurais, comuns na agricultura brasileira.

“Temos o problema de o Brasil ser um grande líder no uso de produtos químicos [agrotóxicos]. Porém, o custo da síntese de uma molécula de um inseticida está na ordem US$ 350 milhões e é muito difícil fazer uma nova molécula atendendo às exigências da sociedade de que os alimentos não tenham resíduos de produtos químicos. Então, o controle biológico tem muita chance de entrar nesse cenário”, diz Parra.

CONTROLE BIOLÓGICO

A Promip, apoiada pelo Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), é um exemplo de que há espaço para o crescimento de empresas que trabalham com o controle biológico.

Atualmente, a empresa – com portfólio de sete agentes biológicos entre eles o primeiro ácaro predador com registro no Brasil – conta com uma biofábrica para a produção de insetos e microrganismos que atuam como agentes biológicos contra pragas em plantações.

“Muitas vezes, o agricultor acha que o controle biológico não funciona, simplesmente por não conhecer ou estar muito habituado ao uso de químicos. Com o tempo vamos quebrando essa crença e mostrando bons resultados”, comenta o executivo da companhia Marcelo Poletti.

AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

Há ainda uma diferença enorme entre o investimento em químicos e biológicos. Parra mostrou em sua apresentação que, enquanto nos agroquímicos o investimento é de US$ 58,5 bilhões por ano, o de controle biológico fica em apenas US$ 3 bilhões.

Apesar da cultura de produção agrícola estar muito voltada para o uso de químicos no Brasil, Parra acredita que questões como custos e o avanço da pesquisa no país podem tornar o Brasil líder na agricultura sustentável.

“O Brasil é líder em agricultura tropical e tem tudo para ser também líder mundial em controle biológico. Temos liderança em pesquisa agropecuária desenvolvida nos últimos 40 anos. Porém, temos de pensar no grande desafio que é buscar fazer o controle biológico na região tropical”, salienta Poletti.

DESAFIOS

Entre os desafios está o fato de, na maioria das vezes, a pesquisa realizada em regiões temperadas não poder ser aplicada aqui. “O controle biológico tropical é completamente diferente. Só para ter uma ideia, nossos insetos estão ativos o ano inteiro sem ter que enfrentar um inverno sequer”, ressalta Parra.

Ainda sobre a importância de mais pesquisas científicas e do seu retorno para a economia e a sociedade, Pacheco comentou sobre pesquisa recém-publicada no livro Contribuição da Fapesp ao desenvolvimento da agricultura no Estado de São Paulo (clique aqui!).

“Estudo liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo mostrou que para cada R$ 1 investido em pesquisa e desenvolvimento, educação superior e extensão rural há um retorno de R$ 12 para a economia paulista em crescimento em produtividade”, relata Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da Fapesp.

INVESTIMENTOS DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

De acordo com o estudo, em relação aos investimentos da Fundação de Amparo à Pesquisa  do Estado de São Paulo, o levantamento indica que os recursos destinados a bolsas, projetos de pesquisa e infraestrutura, nos campos da agronomia e agricultura, produziram um retorno de 27 reais para cada um real aplicado.

Esse desempenho só é superado pelas universidades públicas, que formam mão de obra especializada para a agricultura, com 30 reais de retorno para cada um real gasto.

VÍDEO INSTITUCIONAL

Assista ao vídeo abaixo com resumo do Ciclo ILP-Fapesp: Biotecnologia na Agricultura!

MIP NA REVISTA A LAVOURA

A edição nº 710 da Revista A Lavoura, veiculada há 121 anos pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), e que logo ganhará site próprio, traz informações sobre o Manejo Integrado de Pragas (MIP), incluindo a participação de especialistas na área, como a empresa Promip. Para acessá-la, sem custo algum, clique aqui!

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Fonte: Agência Fapesp e Revista A Lavoura

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