Economistas estimam que o agro deverá liderar o avanço do PIB sem impacto na inflação

Soja: contribuição desinflacionária.

O crescimento da agropecuária brasileira este ano deverá contribuir, principalmente, com o saldo do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, sem impactar na inflação, estimam economistas.

Segundo eles, as projeções tanto para o PIB geral quanto o do agro continuam a subir, assim como as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em razão do clima de incerteza quanto à recomposição de receitas para o fechamento da conta fiscal.

Projeções do boletim Focus, do Banco Central, mostram que o crescimento do PIB em 2023 está próximo a 1%, em média. Já o agronegócio deverá ter um incremento de 7%. Em 2022, mesmo com um cenário marcado por quebras de safras, problemas climáticos e altas nos custos de produção, o que resultou em uma queda de 1,70% no agro, o PIB brasileiro aumentou 2,90%.

O economista Felipe Kotinda afirma que o atual cenário favorável do agro é desinflacionário. “É o que estamos acompanhando: tem, no cenário de PIB, uma produção boa que pega, principalmente, o primeiro trimestre, e isso acaba ajudando a inflação”.

A estimativa para o aumento do PIB neste ano é de 0,80%, com avanço de 7,60% da agropecuária, destaca o economista. “Ajuda bastante o fato de que o Brasil está colhendo uma safra recorde de 155 milhões de toneladas de soja, com aumento de 20% em relação ao ano passado”.

Além disso, complementou Kotinda, em 2022, houve “um pânico global de que faltaria fertilizante por questões geopolíticas. Em dólares, esses preços já caíram. Isso até estimula o produtor a aumentar a área produtiva, o que também é baixista para a inflação”.

Índices de preços

Nesse contexto, os índices de preços aos produtores atribuem valor a essas quedas, observa o economista Maurício Une. No caso do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no âmbito do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), houve um recuo de 1,45% em abril e, em 12 meses, acumula queda de 4,50%.

“Temos a expectativa de que o IGP-M possa ficar ao redor de 4% em 2023. É um sinal de que está ocorrendo normalização das cadeias globais de produção e maior equilíbrio dos choques da pandemia e da guerra na Ucrânia. A dissipação desses choques ajuda a ter a visão de que a agropecuária pode contribuir para esse quadro geral de desinflação”, afirma Une. 

Kotinda indica que, nos índices de preços no atacado, soja e milho acumulam quedas, em 12 meses, ao redor de 20%. Segundo ele, “é um impacto significativo nos preços aos produtores. Isso é propagado e acaba chegando ao consumidor, principalmente pela cadeia da proteína, já que soja e milho são muito usados em ração animal”.

Em 12 meses até a prévia de abril, a alimentação no domicílio no IPCA acumula inflação de 5,80%, mas os preços das carnes em geral recuam 4,10%. 

Altos níveis

Em paralelo, os economistas afirmam que as exportações brasileiras de commodities devem atingir níveis elevados este ano, principalmente em razão da forte demanda da China. Os analistas também consideram o cenário da Argentina, que, ao contrário do Brasil, deve colher metade da soja do ano passado, devido ao fenômeno La Niña.

“Se a Argentina não vai exportar, naturalmente, quem consome dela vai ter de comprar mais dos Estados Unidos e do Brasil. E a Argentina também é grande exportadora de farelo e óleo de soja e pode comprar o grão do Brasil para processar na sua indústria”, diz o economista. 

Mesmo com as boas perspectivas para as exportações, os analistas afirmam que a oferta interna não sofrerá restrições. “A atividade mais forte advinda do agro é desinflacionária, porque não vemos só preços domésticos caindo. Isso é muito importante”, destaca a economista Mirella Hirakawa. 

Grãos

“A produção de soja é revisada sucessivamente para cima e é um dos grandes fatores que devem impulsionar o PIB no primeiro trimestre. Nesse sentido, a contribuição desinflacionária vem da soja, que é um dos itens dos quais o Brasil é formador de preços internacionais, mas também de outros em que o País acaba não tendo grande contribuição, como o trigo, cujos preços foram fortemente impactados pela guerra na Ucrânia, mas temos visto alguma acomodação na margem”.

Levando em consideração as curvas internacionais em dólares e “sem nenhuma premissa forte para o câmbio”, Hirakawa tem a expectativa de que o preço da soja caia neste ano, em média, 7%, o do milho, 10%, e o do trigo, 21%. “São diversos fatores ocorrendo simultaneamente e que acabam contribuindo para que a produção interna não tenha pressão de escoamento e diminuição da oferta”, indica a economista. 

Já Kotinda acredita indica que o “estoque de passagem” de grãos, de um ano para outro, deve ficar acima do estimado como necessário. “No fim, acaba sobrando mais para o mercado doméstico”.

Por Equipe SNA
Fonte: Valor
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