O Produto Interno Bruto Agropecuário fechou o ano de 2015 com um pouco de fôlego, ao registrar alta de 1,8%, enquanto outros importantes segmentos da economia nacional tiveram queda considerável no mesmo período, a exemplo da indústria, com redução de 6,2%; serviços, -2,7%; construção, -7,6%; e comércio, -8,9%. O PIB nacional encerrou o ciclo com saldo preocupante: retração de 3,8%.
Depois de mais uma vez segurar a economia do País, o setor agropecuário precisa empreender. É o que defende o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Fernandes Xavier.
“Agora mais do que nunca chegou a nossa vez de empreender, criar, construir, produzir, demonstrar a força que vem do campo, e junto com ela a nossa capacidade de nos reinventarmos e a cada ano superarmos nossos próprios recordes de produtividade”, analisa.
Ele acredita que os valores que vêm da zona rural são maiores e “fortes o suficiente para vencer a corrupção, a falta de segurança, a crise econômica, o desemprego em ascensão, a alta da inflação e até mesmo a turbulência política”. “É esta esperança, esta fé que devemos cultivar e colher.”
Xavier comenta que, apesar do “enfrentamento de um ano de crise e as muitas surpresas desagradáveis na economia e na política, vemos o setor do agronegócio ser a maior aposta do Brasil para se salvar da crise”. “Nosso setor é, de longe, uma daEmaiores potências econômicas do País, especialmente quando o assunto é o estado do Pará, onde o segmento representa 1/3 do PIB”, destaca.
MOMENTO DE INVESTIR
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, os resultados do PIB Agropecuário reforçam ainda mais a força da agricultura e da pecuária no Brasil. Mas cita a necessidade de, cada vez mais, empregar mais investimentos no campo.
“Dentre os problemas que impediram um crescimento ainda maior do setor agropecuário estão o alto custo da logística, o aumento dos custos de produção e a falta de apoio técnico aos produtores que, em sua maioria, ainda carece de assistência técnica. Em termos práticos isto significa que os produtores rurais estão fazendo sua parte, mesmo com a pouca colaboração do poder público”, analisa Schreiner. “Esperamos que os números do PIB demonstrem ao governo federal que o investimento no setor agropecuário é bom para todos os brasileiros.”
Em sua opinião, outros pontos também favoreceram o agronegócio, em 2015. “Um dos fatores que contribuíram para este resultado positivo foi a valorização do real (frente ao dólar), que segurou os níveis de preços. Apesar dos elevados custos no campo, o resultado não impactou na redução de área e da produção agrícola. A pecuária também colaborou com resultado positivo entre os demais setores”, destaca Schreiner.
ALERTA
Apesar do resultado positivo do PIB Agropecuário no ano passado, o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo, alerta: “Este desempenho positivo do agro representa apenas a metade da média de crescimento dos últimos 20 anos, refletindo os efeitos da crise econômica sobre todas as cadeias produtivas da agricultura e da pecuária. O setor primário é o que mais resiste à crise, mas também é afetado”.
Em sua opinião, o Produto Interno Bruto positivo da agropecuária no ano passado foi consequência, principalmente, do comportamento da agricultura, já que a pecuária e a silvicultura apresentaram índices frágeis em comparação aos dados de 2014. “Os destaques positivos ficaram por conta das culturas da soja (+11,9%) e do milho (+7,3%)”, cita ele.
Para que o setor agropecuário continue crescendo, Pedrozo considera essencial a meta de ampliação da participação do agro brasileiro no comércio mundial, dos atuais 7% para 10%, até 2018, conforme já foi anunciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
EXPORTAÇÕES
O presidente da Faesc ainda lembra que a participação das exportações de commodities nacionais é quase sete vezes maior que o restante da economia nacional como um todo, que ocupa apenas 1,5% do comércio internacional.
Para atingir a meta, o Mapa deve continuar investindo, em 2016 e nos próximos anos, em negociações comerciais e sanitárias com os 22 principais mercados internacionais que, juntos, representam 75% da atividade comercial mundial.
Para tanto, Pedrozo ressalta uma das prioridades do Ministério da Agricultura para este ano: “A conclusão dos estudos para a elaboração da Lei Plurianual Agrícola (PLA), com prazo de duração de cinco anos”. “A nova legislação consolidará normas importantes do setor agrícola, casos do seguro agrícola, do Programa de Garantia de Preço Mínimo (PGPM), do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e da Lei Agrícola, dentre outros temas relevantes.”
CRISE ECONÔMICA
“Apesar do desempenho positivo em 2015 é importante destacar que este não foi um dos melhores resultados do agronegócio. Tirando o desempenho negativo em 2012, por seca, e 2009, por crise econômico-financeira internacional, 2015 só foi melhor que 1997 e 2005, em uma série histórica iniciada em 1996. Isto nos leva à conclusão de que o agronegócio, apesar de apresentar desempenho positivo em 2015, não passou ileso das consequências da crise econômico-política brasileira”, avalia Tânia Moreira Alberti, economista do Departamento Técnico e Econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
Mesmo diante de uma crise, que parece não dar trégua, Tânia cita que, “de acordo com estimativas de consultorias privadas, o agronegócio continuará a apresentar crescimento positivo em 2016, projetado entre 0,7% a 1,6%, por enquanto, em relação à projeção de -3,5 a -4,0% para o PIB nacional”. “Alguns fatores podem ameaçar estas projeções, tais como o clima na safra de verão 2015/16 e a queda do preço internacional das commodities”, alerta a economista.
“A agropecuária, ainda que seja o único setor que deu retorno positivo no PIB do País no ano de 2015, não é uma ilha de desenvolvimento e não está imune aos problemas econômicos e políticos”, alerta Aline Veloso, coordenadora da Assessoria Técnica da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).
Para ela, também é necessário considerar as influências climáticas, que foram bastante danosas. “Ainda assim, é louvável o empenho do produtor rural brasileiro em desenvolver suas atividades produtivas, investindo em tecnologia e usando melhor os recursos de água e solo, possibilitando o aumento a produtividade e geração de divisas e emprego”, ressalta Aline.
OPORTUNIDADES
As atividades agropecuárias mostram-se, na atualidade, como aquelas que podem garantir dignidade a quem está sem perspectiva, afirma Rui Prado, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato). “Há vagas no campo, há incremento de renda no campo para quem aposta neste setor, há qualidade de vida no campo.”
“Não é simples estabelecer certa consciência emoneamente cristalizadas de que polui, escraviza e explora. Dono de uma conduta cada vez mais sustentável, o um país onde o agronegócio ainda é encarado como um vilão por uma parte da sociedade, por causa de ideias err setor, pelo contrário, gera riqueza para quem produz, claro, mas também para toda a nação, como demonstram os dados. O cenário econômico do Brasil só não está pior porque o sucesso da agropecuária está consolidado no Brasil”, garante Prado.
Em sua opinião, fazer o “casamento de interesses” entre aqueles que estão sem emprego, sem perspectiva, sejam eles da cidade ou do campo, com as oportunidades do meio rural, é o grande desafio. “Para ser atingido, é necessário fomento, e o setor está preparado para isto, pois, além de oferecer as vagas, prepara as pessoas para preenchê-las.”
Por equipe SNA/RJ