O dólar voltou a fechar em forte alta de 1,65%, cotado a R$ 4,1210 para compra e a R$ 4,1230 para venda, com máxima a R$ 4,1245 e mínima a R$ 4,0447, após registrar um pequeno movimento de correção na parte da manhã, após subir 4,89% nos últimos seis pregões.
Esta foi a maior cotação de fechamento do dólar desde 21 de janeiro de 2016, quando foi cotado a R$ 4,1655, recorde do Plano Real. Foi o sétimo pregão consecutivo de alta, período no qual o dólar ficou 6,44% mais caro.
É o conjunto da obra. Problemas lá fora, China e Estados Unidos, eleição no Brasil, a decisão do TSE e ainda o fator especulação, disse o operador da Advanced Corretora, Alessandro Faganello.
O mercado segue monitorando o noticiário político doméstico, depois que a preocupação com as perspectivas para a eleição levou o dólar para o patamar de R$ 4,00.
“O mercado corrige um pouco, mas não quer ficar vendido (expectativa na queda do dólar) em dólar. Não há muito espaço para realização maior com as notícias atuais”, disse o diretor da consultoria de valores mobiliários Wagner Investimentos, José Faria Júnior, para quem o ‘piso’ nesse momento seria de pelo menos R$ 4,00.
Ele se referia ao cenário eleitoral bastante incerto, depois que as pesquisas de intenção de votos divulgadas nos últimos dias mostraram que o candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB), preferido do mercado, continuava sem ganhar tração e com a possibilidade de o PT ir para o segundo turno, cenário até então não previsto pelo mercado.
“Acho que precisamos de mais tempo para ver se vai mudar o panorama eleitoral”, disse Faria Júnior ao lembrar do início da campanha eleitoral no rádio e na televisão, no próximo dia 31, e a definição sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril e que deve ser impedido de concorrer por se enquadrar na Lei da Ficha Limpa.
No mercado internacional, por volta das 17h15 (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em alta de 0,58%, cotado aos 95,55 pontos, impulsionado pela incerteza política, nova rodada de tarifas comerciais e pela ata da última reunião do banco central dos Estados Unidos que sinalizou aumento da taxa de juros em setembro. O euro estava em queda de 0,46%, cotado a US$ 1,1542.
Os Estados Unidos e a China intensificaram a sua guerra comercial que já dura meses, implementando tarifas de 25% sobre US$ 16 bilhões de dólares em produtos um do outro, abalando os participantes do mercado que buscavam segurança no dólar.
O dólar também subia em relação a moedas de países emergentes, com destaque para o rand sul-africano, depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, expressou no Twitter suas preocupações sobre a reforma agrária do país, e o rublo, com o aumento do risco de mais sanções dos EUA à Rússia.
O Banco Central brasileiro realizou a venda em leilão de 4.800 contratos de swap cambial tradicional. Com a venda de hoje, o BC já rolou US$ 4.080 bilhões do lote de US$ 5.255 bilhões que vence em setembro.
Com relação a uma intervenção do BC, as opiniões estão divididas. Analistas ouvidos pela Reuters avaliam que por enquanto, o BC não deve interferir no mercado cambial, uma vez que o movimento do real, apesar de pautado principalmente pelo quadro eleitoral, não está muito diferente do comportamento de outras divisas emergentes. Além disso, não há falta de liquidez no mercado, nem fuga de capital.
Contudo, a alta do dólar aumentou a ansiedade de outra parte do mercado, que aguarda alguma sinalização do Banco Central sobre o comportamento do câmbio. Alguns profissionais de mercado afirmam que já existem motivos para uma nova intervenção da autoridade monetária. Além do próprio avanço da cotação, que deixa o mercado local num dos piores desempenhos globais nos últimos dias, há também pressão sobre o Cupom Cambial, que equivale ao juro em dólar.
Por outro lado, há quem veja que o movimento acompanha uma reprecificação de riscos locais e externos. A piora do mercado externo, pega o mercado local mais fragilizado após a recente desvalorização do real face às preocupações com a corrida eleitoral.
Mais do que não intervenção em si, o que os profissionais de mercado estranham é o silêncio dos dirigentes do Banco Central. “A estratégia do Banco Central para o câmbio não está sendo bem comunicada”, disse um profissional, que preferiu não se identificar. Ele lembra, em maio, as intervenções com swap demoraram para ter efeito no mercado. E o impacto, mesmo que ainda limitado, só ocorreu com o programa de US$ 20 bilhões em swap durante um período de seis dias. “E mesmo assim, o câmbio só foi acalmar com o alívio do dólar no exterior e, depois, a aproximação do Alckmin com o Centrão”, disse.
Desta vez, o mercado é tomado por uma onda de pessimismo diante do avanço do Partido dos Trabalhadores (PT) nas pesquisas eleitorais, enquanto o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) continua mostrando dificuldade para angariar apoio popular.
Juros futuros fecham em alta seguindo dólar acima de R$ 4,10
A aversão ao risco por parte dos mercados globais aumentou no início da tarde desta quinta-feira (23) e os contratos futuros de taxas de juros subiram ainda mais até o fechamento do pregão regular, às 16h, seguindo o dólar que ultrapassou o nível de R$ 4,10.
Com a tendência dos últimos dias, os contratos mais longos já começam a se aproximar das máximas do ano, registradas em junho. O DI janeiro/2025, por exemplo, era negociado hoje próximo do patamar de 12,20%. No pior momento de 2018, o contrato foi cotado a 12,40%.
Enquanto no início dessa semana o que dominou foi o noticiário político, hoje o movimento foi global e os ativos de países emergentes como um todo se depreciam, segundo David Cohen, sócio e gestor da Paineiras Investimentos. Cohen disse que o movimento desta quinta-feira leva, inclusive, os participantes do mercado que esperavam por uma melhora ao longo da semana a zeraras suas posições. “Os participantes do mercado ainda estão ajustando as carteiras.”
Está no foco hoje a retomada das negociações comerciais sino-americanas. Segundo o Rabobank em relatório, nesta madrugada entraram em vigor as novas tarifas no comércio bilateral entre Estados Unidos e China, que inclui sobretaxas de 25% impostas pelos EUA a US$ 16 bilhões em importações de produtos chineses. A China manteve sua promessa de retaliação e também impôs tarifas semelhantes, e sobre a mesma quantidade de importações de bens produzidos nos EUA.
O movimento acontece depois de dias de muita instabilidade nesta semana com o noticiário sobre a corrida eleitoral. As pesquisas eleitorais motivaram o desempenho negativo dos contratos ao mostrar grande vantagem do ex-presidente Lula em relação aos seus adversários e a forte posição de Jair Bolsonaro. Para os dois candidatos, cai à confiança de avanço das reformas.
Segundo a Guide Investimentos, a incerteza política persiste. “Bolsonaro sinaliza que pode não participar mais de debates e Haddad tenta ficar mais conhecido no Nordeste e se aproxima também do mercado”, comentou em nota a corretora.
Ao fim da sessão regular de hoje, o DI janeiro/2020 terminou com taxa de 8,56% (8,41% no ajuste anterior), o DI janeiro/2021 estava cotado a 9,73% (9,56% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 a 12,10% (11,96% no ajuste anterior).