O dólar comercial fechou em baixa de 0,78%, cotado a R$ 3,8657 para compra e a R$ 3,8669 para venda, com máxima a R$ 3,9010 e mínima a R$ 3,8593, na contramão do mercado internacional, em um movimento de correção após dois dias de forte nervosismo diante da situação turca.
“Ainda que a retórica (entre Estados Unidos e Turquia) continue de agressão, os bastidores já operam para tentar solucionar diplomaticamente o problema”, escreveu o economista-chefe da gestora Infinity, Jason Vieira.
Na véspera, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, se reuniu com o embaixador da Turquia nos Estados Unidos para discutir a detenção do pastor norte-americano Andrew Brunson, informou a Casa Branca.
Também trouxe mais alívio o anúncio do banco central turco, que se comprometeu a fornecer liquidez, e o ministro das Finanças do país, Berat Albayrak, que disse que vai realizar uma teleconferência com na quinta-feira, sua primeira desde que assumiu o cargo há quase dois meses.
Na avaliação do ex-diretor do Banco Central e sócio da gestora Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, a onda de aversão ao risco global provocada pela Turquia não deve se tornar uma crise de países emergentes.
“O cerne da questão foi a guinada dramática na política econômica (da Turquia)”, afirmou, em entrevista à Reuters, acrescentando que, quanto menos dependente de questões externas, menos riscos de contágio um país emergente tem.
No mercado internacional, por volta das 17h35 (Horário de Brasília), o Dollar Index, que registrou hoje a maior cotação (96,63) em 14 meses, estava em alta de 0,42%, cotado aos 96,55 pontos, enquanto o euro estava em baixa de 0,57%, cotado a US$ 1,1345.
Internamente, o mercado se volta para o cenário eleitoral, nesta véspera do término do prazo para registro das candidaturas das chapas à Presidência da República.
O Banco Central brasileiro ofertou e vendeu 4.800 contratos de swap cambial tradicional. Com a venda de hoje, o BC já rolou US$ 2.4 bilhões do lote de US$ 5.255 bilhões que vence em setembro.
Mercado acompanha alívio externo e juros futuros fecham em queda
Os contratos futuros de taxas de juros voltaram a cair nesta terça-feira (14/8) e diminuíram de forma expressiva os prêmios por causa da instabilidade causada pela crise da Turquia. O alívio, no entanto, ainda não foi suficiente para que o mercado devolvesse todo o prêmio de risco embutido nos contratos desde o início da crise que chacoalhou os ativos emergentes.
O DI janeiro/2021, por exemplo, o mais líquido, encerrou o pregão regular cotado a 9,23%, contra 9,45% no fechamento de segunda-feira (13/8), mas ainda acima da taxa de 9,17% registrada na quinta-feira passada (9/8), antes do recrudescimento da crise na Turquia. Isso confirma a visão de que, embora haja espaço para recuperação, a atenção com os efeitos da turbulência no mercado turco ainda permanece e que não se pode descartar novas ondas de volatilidade.
No Brasil, o mercado segue de olho ao noticiário político, embora o jogo político ainda não tenha ganhado força. Para os profissionais, o mercado deve começar a reagir mais diretamente à eleição no fim de agosto, quando os programas eleitorais já estiverem acontecendo e as propostas dos candidatos estiverem mais claras.
Para Jorge Penteado Cunha Lima, sócio da Eu Investimentos, por ora o mercado opera sem “precificar” riscos de vitória de candidatos considerados mais extremos, como Jair Bolsonaro, Ciro Gomes ou Fernando Haddad, sobre os quais há dúvidas sobre o tamanho do compromisso com uma agenda de reformas.
“A vitória de um candidato que não tenha compromisso com uma agenda de reformas ou que não tenha capacidade de implanta-la é um evento que vai piorar muito os preços dos ativos, mas não há razão para o mercado precificar o caos antecipadamente”, disse. Ele reconhece, entretanto, que o risco é que o mercado acabe subestimando esses riscos.
No fim do pregão regular às 16h, o DI janeiro/2020 estava cotado a 8,17%, contra 8,43% no ajuste anterior.