Dólar fecha em alta acompanhando o mercado internacional e o quadro político

O dólar comercial fechou em alta de 0,53%, cotado a R$ 3,7960 para compra e a R$ 3,7980 para venda, com máxima a R$ 3,8005 e mínima a R$ 3,7623, de olho no comportamento da moeda norte-americana no mercado internacional em relação à divisas de países emergentes e ligadas a commodities e tendo como pano de fundo o comportamento do Banco Central, que pode atuar a qualquer momento no mercado de câmbio.

O quadro eleitoral também segue no foco do mercado, a poucos meses das eleições presidenciais de outubro ainda marcadas por incertezas.

“Estamos observando uma dinâmica mais estável (para os ativos de risco), sem novidades relevantes no cenário. Os sinais de fragilidade, contudo, ainda permanecem”, escreveu o chefe de multimercados da gestora Icatu Vanguarda, Dan Kawa.

No mercado internacional, por volta das 17h35 (Horário de Brasília), o Dollar Index estava em alta de 0,45%, cotado aos 94,37 pontos, enquanto o euro estava em baixa de 0,47%, cotado a US$ 1,1649.

Seguem as preocupações do mercado com o conflito comercial entre Estados Unidos e seus parceiros comerciais, especialmente a China.

Internamente, o BC seguiu monitorando o mercado de câmbio, vendido esta sessão apenas 8.800 contratos de swap cambial tradicional para a rolagem do lote que vence em julho. Com a venda de hoje, a autoridade monetária já rolou US$ 7.920 bilhões do total de US$ 8.762 bilhões. Se mantiver e vender esse volume diariamente até o final do mês, fará a rolagem integral.

Embora tenha anunciado na última sexta-feira (22/6) a continuidade de suas atuações no mercado de câmbio nesta semana, sem especificar volumes, o BC ainda não fez leilão de novos swaps nestes dois pregões.

Como pano de fundo, o mercado segue cauteloso como cenário político local, após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), remeter para decisão do plenário da corte o julgamento de um recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que pede a liberdade do petista, preso desde o início de abril.

Lula pode vir a atuar como cabo eleitoral de um candidato que, na visão do mercado, seja menos comprometido com reformas e ajuste fiscal.

O mercado também se incomodou com a decisão da 2ª Turma do STF de soltar o ex-ministro petista José Dirceu, que cumpria pena por condenação a 30 anos e 9 meses de prisão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa na operação Lava Jato.

Operadores apontam que o mercado já começa a trabalhar com um pouco mais de normalidade, após o Banco Central vender o equivalente a US$ 43 bilhões de swaps. O que ajuda a desarmar as expectativas numa alta da divisa americana, dizem os especialistas, é a prontidão do BC em anunciar leilões de swap diante de solavanco que desalinhe o mercado local do exterior.

Em nota na semana passada, o BC reafirmou que não vê restrições para que o estoque de swaps cambiais exceda consideravelmente os volumes máximos atingidos no passado. Atualmente, esse montante está em US$ 67 bilhões contra o recorde de US$ 115 bilhões de 2015.

“Hoje, não temos BC continuando as intervenções, afinal, seriam desnecessárias no momento (de queda do dólar por aqui e bom desempenho dos emergentes)”, disse o operador Cleber Alessie Machado Neto, da H.Commcor. “Mas o BC tem se mostrado disposto a atuar e provado essa intenção com suas atuações”, acrescenta.

Ontem, o instrumento usado foi o leilão de venda de dólares com compromisso de recompra. De uma oferta total de US$ 3 bilhões, apenas uma proposta de US$ 500 milhões foi aceita, sinalizando que não há falta de liquidez no mercado à vista.

O Itaú alerta que, na ausência de reformas ou no caso de uma guinada para um governo populista (sem preocupações com equilíbrio fiscal), a moeda brasileira “muito provavelmente” perderá força, podendo se estabilizar numa taxa acima de R$ 4,50. Por outro lado, em um cenário de aprovação de reformas e melhora dos fundamentos, é possível que o país migre para um regime de alta disponibilidade de financiamento externo e câmbio mais apreciado, com uma taxa abaixo de R$ 3,50.

Juros futuros caem com expectativa de manutenção da Selic

Os contratos futuros de taxas de juros registraram novo dia de fortes baixas após a publicação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), que manteve o juro básico em 6,5% ao ano. Por um lado, o documento deu mais elementos para o mercado acreditar na manutenção da taxa por algum tempo. Por outro, reforçou a mensagem que o Banco Central tem passado nas últimas semanas, restabelecendo, aos poucos, a comunicação entre a autoridade e o mercado.

É o que explica o estrategista-chefe da Votorantim Asset, Marcos de Callis. Segundo ele, a ata em si não trouxe muitas surpresas, mas ajudou o BC a corrigir os problemas de comunicação recentes.

“O mercado reage [de maneira positiva] porque está convencido do que o BC vem dizendo, que não vai elevar juros e só recorreria a essa opção se o câmbio estivesse influenciando as expectativas de inflação”, disse.

Tudo começou com uma falha de comunicação, segundo ele, antes da reunião de maio do COPOM, quando o BC contrariou as expectativas e interrompeu o ciclo de alívio monetário, decisão atribuída à desvalorização cambial observada. De lá para cá, afirma, o BC percebeu o que tinha feito e está tentando corrigir as suspeitas do mercado, de que a alta do dólar poderia influenciar o rumo da taxa Selic.

“A decisão [de manter os juros] vai nessa direção e a ata dá mais detalhes sobre isso, embora tenha deixado em aberto as próximas reuniões.”

Para o sócio gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, a ata veio tranquila, afastando do radar os efeitos pontuais da greve dos caminhoneiros e os choques secundários do câmbio, sugerindo manutenção da taxa básica na próxima reunião.

“A interpretação é de uma maior probabilidade de manutenção e o mercado foi vender taxa.” A opinião é compartilhada pela economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour. “Ficou muito clara a mensagem para o mercado de que, muito provavelmente, com o câmbio onde está e a inflação controlada, a previsão é de continuidade da política monetária acomodatícia e sem alta de juros.”

Os contratos também foram negociados com a expectativa de redução em 0,25% na meta de inflação para 2021, para 3,75%, que deve ser decidido nesta terça-feira (25/6) em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). O CMN tem reduzido a meta em 0,25% a cada ano, definindo 4,25% para 2019 e 4% para 2020.

Convém aguardar para fazer reduções adicionais na meta, na opinião da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. À luz das incertezas do cenário, diz, uma redução da meta não necessariamente seria acompanhada de redução das expectativas inflacionárias, o que representaria algum esforço para o cumprimento da meta no futuro.

“Em um quadro em que reformas são aprovadas, a redução da meta se provaria a decisão correta. Mas, hoje, não há como antecipar este cenário benigno. O custo de não reduzir a meta tampouco é elevado, não seria algo grave.”

O Tesouro Nacional adquiriu em leilão 570.000 NTN-Bs ou 57% do limite de 1 milhão definido, e vendeu 120.000 títulos. O BC fez a rolagem de 8.800 contratos de swap cambial, sem a venda líquida de novos contratos até agora.

Chama ainda atenção o noticiário político. O recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será submetido ao plenário do Supremo Tribunal Federal para julgamento. Com o recesso do mês de julho, no entanto, o julgamento deve ficar para agosto.

No fim da sessão regular, às 16h, o DI janeiro/2020 fechou a 8,39% (de 8,54% no ajuste anterior), o DI janeiro/2021 caiu para 9,39% (9,54% no ajuste anterior) e o DI janeiro/2025 estava cotado a 11,68% (11,83% no ajuste anterior).

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