Além da infraestrutura logística, as condições sanitárias são atualmente os maiores entraves para o mercado de carnes no Brasil. É o que garante o diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura, José Milton Dallari. “Precisamos melhorar para sermos mais competitivos”, disse ele.
Segundo Dallari, o sistema de defesa e sanidade agropecuária é o “calcanhar de Aquiles” da exportação de produtos de origem animal no Brasil. “Há muitos anos não conseguimos exportar itens acabados e in natura para os EUA, devido às precariedades no controle sanitário do Ministério da Agricultura. Não há técnicos bem preparados em nível federal e temos muita carência nas estruturas sanitárias estaduais. No âmbito municipal, o sistema é péssimo”, observou.
Pensando em reverter esse quadro, o diretor da SNA propõe ao governo federal o estabelecimento de uma agência fitossanitária para atuar no controle dos produtos, em substituição às estruturas de administração direta. “Isso poderá significar um grande salto nesse processo”, afirmou.
SISTEMA PRECÁRIO
Quanto à logística, Dallari declarou que, no caso da carne, o sistema de transporte nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Minas Gerais – onde a produção se concentra – continua muito complexo e precário. “As estradas são ruins. As barcaças começam então a exportar, no caso de animal vivo, pelo porto de Barcarena, em Belém do Pará, que é o melhor para esse fim.”
Para o diretor da SNA, o governo federal e os estados precisam investir mais em infraestrutura. No entanto, admite que o problema não será solucionado em menos de dez a 15 anos. “As distâncias no Brasil são muito longas, e no caso dos rios, é preciso limpar os canais para que se possa aumentar o transporte de grãos, de carne e de animais vivos.”
Na opinião de Dallari, atualmente a logística mais recomendada para produtos de origem animal são os portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS).
CARÊNCIA NA INDÚSTRIA
De acordo com o diretor da SNA, existe também uma grande carência na área industrial. “Temos uma concentração muito grande de frigoríficos, com pouco mais de 30 preparados para o mercado internacional, e um oligopólio fechado entre a Friboi e mais três frigoríficos que tomam conta do mercado interno e das exportações.”
OTIMISMO
Mesmo com os atuais gargalos, Dallari mostra um olhar positivo sobre o setor. “No mercado interno, o preço do boi continua atraente. E o brasileiro tem essa paixão por um churrasquinho no final de semana. Um mercado com 200 milhões de habitantes é extremamente interessante para qualquer setor da economia brasileira”, declarou, admitindo ainda a possibilidade de um recorde para esse ano.
“A exportação de carne bovina para a Rússia aumentou substancialmente em função do bloqueio da comunidade econômica européia por causa da invasão dos russos na Ucrânia. Isso fez com que a Rússia demandasse mais carne do mercado brasileiro. Se isso vai gerar um recorde, até pode ser, mas o certo é que irá suprir a deficiência do ano passado”, concluiu.
Dados divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) mostram que, entre janeiro e agosto, as exportações de carne bovina totalizaram 1,045 milhão de toneladas. O aumento foi de 10,43% em comparação com o mesmo período de 2013.
Por equipe SNA/RJ