Diretor da SNA, Marcio Fortes avalia futuro dos negócios do Brasil com a China

“A China não tem intenção de ficar dependente do fornecimento brasileiro de soja. Conta com ele, mas não quer depender disto”, analisa o diretor da SNA Marcio Sette Forttes. Foto: Arquivo SNA
“A China não tem intenção de ficar dependente do fornecimento brasileiro de soja. Conta com ele, mas não quer depender disto”, analisa o diretor da SNA Marcio Sette Fortes. Foto: Arquivo SNA

Aumentar a exportação brasileira de produtos com maior valor agregado para a China – e isto inclui, principalmente, os agrícolas – foi foco das negociações da comitiva do presidente Michel Temer e do ministro Blairo Maggi, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), durante recente viagem à Ásia. Desde que assumiu a pasta, Maggi defende um crescimento mais vigoroso do agronegócio, até porque o setor agropecuário continua “segurando” a economia do Brasil. E a meta é ousada: subir de 7% para 10%, em cinco anos, a participação do País no comércio do agro mundial.

Para elevar as vendas nacionais para o mercado chinês, por exemplo, o governo brasileiro quer negociar novos benefícios tarifários com o país asiático. A intenção seria derrubar as barreiras, principalmente para a soja moída e em farelo e para o café torrado ou solúvel, segundo publicação do jornal O Globo, que na ocasião ouviu algumas fontes do governo federal, não identificadas na reportagem (veja link encurtado: ow.ly/kSSj304dkoA).

Da parte dos chineses, ouve-se que o intuito é ampliar os investimentos no Brasil, mas por enquanto não há indícios de que esta nova negociação de taxas terá êxito. “A China não tem intenção de ficar dependente do fornecimento brasileiro de soja. Conta com ele, mas não quer depender disto. O mesmo vale para o minério de ferro, razão pela qual proibiu o acesso dos meganavios Valemax aos seus portos, em anos anteriores, sob outras alegações”, analisa o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Marcio Sette Fortes.

 

VALOR AGREGADO

De acordo com O Globo, as barreiras chinesas impedem a agregação de valor para o setor agrícola brasileiro, porque a soja em grão tem uma tarifa de importação de apenas 3%. Já o farelo de soja paga uma tarifa de 5% na entrada do país asiático.

“Se for ainda mais beneficiada, mais a soja brasileira é punida. A soja moída é tarifada em 9%. Com o café, as tarifas também aumentam à medida que o valor agregado aumenta. Isso significa que quanto mais valor agregado ao produto, mais alta é a tarifa, o que desestimula o produtor a agregar valor ao produto”, alerta a reportagem.

“Quando os produtos de maior valor agregado têm remuneração superior, a taxação deles com níveis tarifários maiores corrói a dita remuneração. E a deterioração dos termos de troca se aprofunda”, salienta Fortes, que também é consultor no escritório Fortes & Carneiro Advogados, professor do Ibmec (RJ) e membro associado da Associação Promotora de Estudos da Economia (Apec).

 

MUDANÇA DE GOVERNO

Depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff e da posse (definitiva) de Michel Temer, os aliados da atual gestão apostam em novos rumos para a economia nacional, impulsionados pela mudança de governo, podendo atrair investimentos na área de infraestrutura, principal interesse do Brasil com a China.

Na contramão do otimismo do governo Temer, especialistas em economia preveem que a economia brasileira deve se recuperar somente em 2018, o que diretamente não teria relação com a mudança da Presidência da República.

“Creio que, no segundo semestre do ano que vem, já tenhamos indicadores de melhora. Mas afirmo isto baseado em duas premissas: a primeira delas é a de que a economia brasileira está murchando e, junto com ela, cairá a inflação, naturalmente”, avalia Fortes.

Em sua opinião, “isto abre espaço para o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduzir a Selic (taxa básica de juros). E com a queda dos juros, abre-se espaço para a retomada do investimento”.

A segunda premissa, conforme o diretor da SNA, é bastante clara: “Quando a crise começou, os estoques da indústria estavam elevados. Agora, estão baixos e precisarão ser recompostos, o que poderá levar à recontratação no mercado de trabalho”.

 

PERDA DE FÔLEGO

Outra reportagem que tratou da missão do governo brasileiro à Ásia, desta vez da Folha de São Paulo (link encurtado: ow.ly/vPWe304dm08), faz críticas ao governo Temer, que estaria “vendendo” o Brasil como “uma terra de oportunidade para os empresários chineses”, em um momento em que a importância do País para as vendas da China retrocederam uma década. Segundo a publicação, o Brasil é o país que mais diminuiu suas compras entre os principais parceiros comerciais chineses – uma redução de 34% de janeiro a julho de 2016, em comparação a igual período do ano passado.

Com a queda da renda do brasileiro, desemprego em ascensão, crise econômica, de modo geral, e ainda política (que ainda tem muitos passos a dar após o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a cassação do mandato do deputado federal Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara), a China poderia ter menos disposição para investir no Brasil, exatamente porque passou a lucrar menos. Mas para o diretor da SNA, a retração nas relações comerciais, em termos de importações pelo Brasil, “não tira o apetite chinês”.

“Afinal, investimentos em infraestrutura são a aposta do governo federal para a retomada do crescimento e os chineses sabem que existem boas oportunidades por aqui. São investimentos estratégicos”, destaca Fortes.

 

META DO MINISTÉRIO

A recente viagem da comitiva do governo federal ao continente asiático fez parte dos esforços do Executivo brasileiro para elevar de 7% para 10%, em cinco anos, a participação do Brasil no comércio agrícola mundial.

“Precisamos aprofundar as parcerias que já temos e conquistar novos destinos para nossos produtos agropecuários. Poucas nações têm tanto a oferecer no setor agrícola quanto o Brasil. Somos vocacionados para a atividade rural e devemos aproveitar isso para gerar mais emprego e renda”, disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante a missão internacional.

Na opinião do diretor da SNA, “elevar esta participação me parece mais um desejo do que propriamente uma meta, uma vez que não depende exclusivamente do Brasil, para obter o sucesso de seus produtos em terceiros mercados”. “É preciso que as contrapartes decidam abrir seus mercados”, sentencia.

Metas ou simplesmente “desejos”, o fato é que o Brasil continua de olho na “galinha dos ovos de ouro” do mundo: a China, segunda maior potência econômica do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. E é compreensível até porque, no caso do Brasil, “a China salvou as exportações brasileiras durante a crise de 2008–2009, ampliando suas compras brasileiras, no momento em que diminuía suas aquisições globais”, lembra Fortes.

“Ocorre, entretanto, que há um perigo enorme para o Brasil, atualmente. E este risco decorre do fato de as exportações dos nossos principais produtos – entre eles, a soja – estarem concentradas no mercado chinês. Trata-se de uma dependência deste grande comprador e isto não é bom, à medida que as turbulências e a desaceleração na economia chinesa podem afetar, diretamente, nossa balança comercial”, alerta o diretor da SNA.

Como resultado da missão brasileira ao continente asiático, a viagem do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a cinco cidades da China e a Seul, na Coreia do Sul, gerou cerca de US$ 50 milhões em negócios nos setores de carnes, café, grãos e madeira. Segundo o Mapa, também abriu caminho para investimentos no Brasil em agroindústria, infraestrutura e logística (leia mais em sna.agr.br/?p=37376).

 

Por equipe SNA/RJ

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