Pressionados no primeiro semestre pela disparada dos custos de produção e pelo consumo fraco no mercado interno, os frigoríficos brasileiros iniciaram o segundo semestre com mais uma notícia negativa.
Único ponto de sustentação do segmento ao longo de 2016, o mercado externo também se tornou motivo de preocupação.
Apesar da demanda firme, a apreciação do real perante o dólar atingiu em cheio a rentabilidade dos exportadores.
A margem da indústria já é negativa nas vendas de carne bovina para o Egito, afirmou um executivo de uma exportadora ao Valor.
No primeiro semestre, o país africano foi o segundo principal importador do produto nacional, de acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
“A rentabilidade é baixíssima [com o câmbio atual]”, disse o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. Otimista, o dirigente afirmou acreditar que o dólar voltará a subir.
O indicador de margem bruta de exportação calculado pela consultoria MB Agro aponta deterioração da rentabilidade.
No caso da carne de frango, a diferença de preços entre o produto exportado e o frango vivo está em 48%, o menor nível desde junho de 2012.
Para se ter ideia da deterioração, esse percentual estava em 80% em janeiro. A média histórica do cálculo da consultoria, iniciado em 2006, é 75%.
Para a carne suína, a diferença entre o preço do produto exportado e o animal vivo está em 33%, também o pior nível desde 2012. O atual patamar está bem abaixo da média histórica de 68%, disse César Castro Alves, analista da MB Agro.
Segundo Alves, o aumento dos preços em dólar da carne de frango e da carne suína em junho atenuou o problema, mas é insuficiente para compensar a desvalorização da moeda americana. Como o dólar se depreciou ainda mais em julho, a situação pode até piorar, disse Alves.
Neste momento, a situação dos exportadores de carne bovina é ainda pior, tendo em vista que o preço em dólar do produto in natura caiu 0,4% na comparação de junho o mês anterior, conforme os dados da Secex. “O estrago tende a aparecer em julho”, afirmou Alves.
Além disso, fazer o repasse necessário dos preços para recompor a margem não é simples.
Nesse sentido, executivos de JBS e Marfrig admitiram em evento em junho que há uma disputa de preços em torno da carne bovina com os importadores chineses, o que os levou a diminuir drasticamente o ritmo de vendas.
A expectativa deles era que a situação se normalizaria a partir de julho. Até a semana passada, porém, o impasse continuava, disse o CEO da Marfrig, Martín Secco, em rápida entrevista semana passada.
Pelos cálculos da MB Agro, o diferencial entre o preço da carne bovina exportada pelo País e o do boi gordo estava em 7% em maio – o número de junho ainda não havia sido fechado. No início de 2016, esse índice estava em 28%.
“Se o dólar continuar assim, é um desestímulo muito grande para os frigoríficos”, disse.
Na avaliação do analista Adolfo Fontes, do Rabobank, a apreciação do dólar pode reduzir o ritmo de crescimento dos embarques ao exterior no segundo semestre.
Para a ABPA, o dólar precisa estar em R$ 3,50 para garantir uma boa rentabilidade ao setor. Até maio, a cotação média mensal da moeda americana estava acima de R$ 3,50.
Mas a cotação do dólar (PTAX) vem caindo paulatinamente desde o início do ano, saindo de R$ 4,0524 em janeiro para R$ 3,4245 na média de junho. No acumulado de julho, a cotação é de R$ 3,2880, segundo o Valor Data.
Segundo Turra, da ABPA, a exportação vinha exercendo o papel de válvula de escape do setor, uma vez que a recessão econômica no Brasil afetou o consumo doméstico.
Ainda que a recente queda dos preços do milho no país tenha aliviado a situação do segmento, a margem bruta da produção de frango no mercado interno – no sistema de integração – segue no campo negativo, de acordo com levantamento da MB Agro.
Para a indústria de carne bovina, a exportação menos rentável se soma ao preço mais alto do boi gordo, insumo responsável por cerca de 80% dos custos de produção dos frigoríficos.
Na sexta-feira passada, o preço do animal no Estado de São Paulo – referência para o restante do país – ficou em R$ 156,08 por arroba, valorização de 4,6% desde o início de 2016, conforme aponta o indicador Esalq/BM&FBovespa.
Além disso, o consumo de carne bovina no mercado doméstico segue em queda e pode atingir o menor patamar, em termos per capita, em 20 anos. A expectativa é que só haja uma recuperação em 2017.
Fonte: Valor Econômico