Dependência de commodities prejudica Brasil

A participação dos produtos básicos na pauta de exportação brasileira deu um enorme salto desde o início dos anos 2000. As commodities representam, hoje, 47% das vendas do Brasil para outros países. Há 15 anos, o número estava em 22%.O aumento das exportações de produtos como minério de ferro e soja contrasta com a queda nas vendas de manufaturados, que possuem maior valor agregado. Em 2000, 59% da pauta exportadora brasileira eram compostos por aviões, automóveis e outros industrializados. Nos sete primeiros meses de 2015, o acumulado não chegou aos 35%.

À frente da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo federal, o ministro Roberto Mangabeira Unger admitiu que o setor industrial encolheu no Brasil e ressaltou que mesmo as nossas maiores empresas, como operam em um setor de aproveitamento de recursos naturais, tem espectro de tecnologias relativamente estreito. Durante palestra concedida ontem na Fundação Getulio Vargas (FGV), Mangabeira falou também em combater a doença holandesa no Brasil , se referindo à desindustrialização que pode ser causada pela dependência de produtos básicos.

Para inverter essa trajetória, o ministro defendeu um desenho institucional que ordene o acesso ao crédito e ao capital, com acesso a práticas avançadas, a tecnologias superiores e a mercados mundiais. Ao falar sobre o desenvolvimento produtivo no Brasil, o político também destacou a importância da organização do regime tributário brasileiro e da criação de regras ambientais claras.

A desvalorização do real foi lembrada como uma mudança positiva para a indústria, tanto por Mangabeira quanto pelos ex-ministros da Fazenda Delfim Netto e Bresser-Pereira, que também estavam presentes. O último foi enfático ao defender a cotação atual da moeda brasileira e disse que uma nova apreciação voltaria a inviabilizar a existência da indústria no Brasil.

Durante parte dos 15 anos do século 21, o real se fortaleceu, chegando a ter valor próximo ao do dólar em 2011. Essa valorização da moeda brasileira complicou a já desafiadora competitividade do setor industrial, tornando os produtos nacionais mais caros no mercado externo.

Hoje, com o real mais barato em relação a outras divisas – ontem, um dólar custava mais que R$ 3,60 – as indústrias têm maior facilidade para exportar para outros países. Economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa disse que já pode ser notado aumento nas vendas para o exterior nos setores de vestuário, calçados e suco de laranja.

Ao ser perguntado sobre a crise na China, Mangabeira concordou que a turbulência no país asiático dificulta a atual situação econômica do Brasil. A ampliação das vendas de commodities no século 21 teve os chineses como principais patrocinadores. Ao atravessar anos de forte crescimento, o gigante asiático ampliou suas compras no mundo inteiro, especialmente as de produtos básicos.

Em 2000, a China ocupava a décima segunda posição entre compradores de exportações brasileiras. Agora, ocupa a liderança, bem à frente do segundo colocado, os Estados Unidos. Os chineses foram responsáveis por 20% das compras de produtos vendidos pelo Brasil nos sete primeiros meses de 2015.

O resultado expressivo acontece apesar da queda do fluxo de dinheiro entre os dois países, que já pode ser percebida na comparação entre 2014 e este ano.

Novos protagonistas

Em 2000, o minério de ferro ainda liderava entre os produtos básicos mais exportados pelo Brasil, representando 5,5% de todas as vendas. Nos sete primeiros meses de 2015, a soja aparece muito a frente das outras commodities, com quase 14% das exportações.

Entre os maiores compradores de produtos brasileiros, também há um cenário diferente. Além da liderança da China, também chamam a atenção a grande arrancada da Índia, que passou da quadragésima posição em 2000 para a oitava colocação neste ano, e a subida do Chile, atualmente o sétimo maior comprador de produtos brasileiros.

 

 

Fonte: DCI – Diário do Comércio & Indústria

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