O setor de carnes deverá tomar novos caminhos a partir de agora. E vai levar junto a produção de grãos. Mais carne significa uma maior utilização e valorização dos grãos.
O país vai exportar mais proteínas e dar um suporte maior à produção de grãos, elevando o valor agregado desses produtos.
A análise é de José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP, que justifica essa tendência tomando como base não só o avanço russo nas importações do Brasil como a necessidade maior de compra pela China.
E o Brasil, segundo ele, é o país que está mais bem preparado para abocanhar esse mercado.
Ferraz acredita que o Brasil vá avançar nas exportações para a Rússia, principalmente após a liberação total de 90 frigoríficos para vender ao país.
Esse cenário ajuda, mas até quando dura? As compras russas sempre mostram inconstância.
Ele acredita mais na demanda chinesa, que deve crescer muito rapidamente nos próximos anos, do que na força dos russos.
Esse impulso inicial dado pela Rússia, no entanto, acompanhado na sequência pela China, poderá fazer a pecuária romper o círculo vicioso de que “não investe porque não rende e não rende porque não investe”.
Quanto à Rússia, Ferraz afirma que os Estados Unidos e a União Europeia não deverão voltar atrás nas sanções ao país em breve. Enquanto elas durarem, o Brasil terá um mercado significante para as carnes.
Ele acredita que o avanço maior deverá ser nas exportações de carne suína, em que a Rússia tem boa demanda e dificuldade para a produção.
As exportações de carne bovina também terão caminho aberto, na avaliação de Ferraz, principalmente devido à quantidade de frigoríficos brasileiros liberados.
A venda de carne de frango, se o Brasil assumir a cota dos EUA, poderá aumentar em mais 150 mil toneladas. O volume atual é de 60 mil.
O importante dessa movimentação das exportações de carnes é que todo o agronegócio sairá fortalecido, segundo Ferraz. O Brasil diminui as exportações de grãos com baixo valor agregado e ganha escala e eficiência na produção de carnes.
Se é bom para o agronegócio, pode não ser tão favorável para o consumidor, que vai pagar mais, uma vez que todas as carnes sobem.
Quando apenas um delas -bovina, suína ou de frango- aumenta de preço, o consumidor pode fazer uma transferência nas compras.
Ferraz tem dúvidas, no entanto, se as altas atuais são reflexos apenas da investida russa no mercado interno. Ao contrário do que vinha ocorrendo em julho, a demanda interna também cresceu e o atacado está vendendo mais.
“A demanda interna surpreende, e o aumento de vendas ocorreu depois da virada do mês”, um período normalmente considerado de maior comercialização devido ao pagamento de salários.
Fonte: Folha de S.Paulo (Vaivém)
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