Alta nos preços dos insumos, falta de diálogo entre fornecedores e clientes, comercialização deficiente e ausência de órgãos de pesquisa e extensão para dar suporte aos produtores.
Estes são alguns dos problemas que, segundo analistas, atingem atualmente a cadeia produtiva do leite, um setor que, apesar da crise, gera quase 20 milhões de empregos diretos e indiretos, colocando à disposição da população mais de 35 bilhões de litros de leite por ano.
Para o diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Alberto Figueiredo, é preciso união e planejamento. “Há uma dificuldade, por parte dos representantes dos diversos segmentos da cadeia, de se entenderem para valorizar o setor”, disse.
“No momento em que essas pessoas concluírem, que, juntos, trabalhando de forma complementar e com propósitos honestos, tornarão a cadeia mais forte, terão condições de oferecer, de forma competitiva, o leite e seus produtos derivados aos consumidores, em qualquer parte do mundo”.
Dessa forma, complementou Figueiredo, “teremos condições de gerar ainda mais empregos e renda para as famílias brasileiras”.
Valores elevados
A alta no preço dos insumos na pecuária leiteira, por exemplo, “é hoje um dos fatores que está expulsando muitos produtores do campo”, salientou o diretor da SNA. A relação de troca entre o valor do litro de leite e o quilo de ração que os produtores precisam comprar para alimentar as vacas continua a aumentar.
“Antes se comprava um saco de ração de 50 kg com o valor da venda de 38 litros de leite, e atualmente estão precisando vender 50 litros de leite para comprar a mesma quantidade de farelo”, observou Figueiredo.
Além disso, complementou o especialista, “os fertilizantes que precisam ser usados para manter as pastagens, mais do que dobraram de preço em um curto período de tempo”.
Ineficácia
O diretor da SNA observou ainda que, apesar de haver uma rede de indústrias produzindo insumos diversos nas fazendas e nas indústrias de transformação, “quase sempre os clientes se surpreendem com a ineficácia dos produtos que adquirem”.
Neste caso, indicou Figueiredo, “são carrapaticidas que não derrubam o carrapato, suplementos minerais que não suprem as necessidades, e até antibióticos que não controlam as infecções. Com isso, o custo de produção vai aumentando”.
“Será que entidades de pesquisa não poderiam, por encomenda paga pelos próprios interessados, testar esses insumos para os produtores?”, questionou o diretor da SNA.
Da mesma forma, acrescentou Figueiredo, “os órgãos oficiais de pesquisa e de extensão rural também poderiam indicar os melhores caminhos para esse contingente enorme de produtores”, quanto a questões relacionadas à nutrição e ao bem-estar animal.
Sem interação
Para o diretor da SNA, “as indústrias perdem inúmeras oportunidades de terem os produtores como aliados, sempre que olham para o produto que chega às suas plataformas, sem compreender as dificuldades dos produtores para fazer o leite chegar lá”.
Segundo Figueiredo, “devido à ausência de interações necessárias com sistemas varejistas, por meio de contratos ‘ganha x ganha’, o próprio segmento industrial fica espremido, por um lado pela concorrência na hora da venda, e por outro pelo preço da matéria prima, sempre que os fornecedores têm opção”.
Nesse caso, observou o especialista, “contratos com margens negociadas, envolvendo produtores, cooperativas e indústrias e redes varejistas, poderiam ser capazes de aumentar a confiança mútua e permitir a redução das injustiças que tanto prejudicam os diferentes elos da nossa cadeia”.
Casos raros
Figueiredo reconhece que são poucos os exemplos de união entre esse contingente de mais de um milhão de produtores, à procura de melhores condições de comercialização. “Isolados, ficam à mercê do comprador de plantão”, disse.
“São raras as indústrias de beneficiamento que aplicam uma política de fidelização de seus fornecedores, principalmente por meio de uma precificação justa. Muito pelo contrário, quando se veem acuadas pela redução de oferta, partem para importações, às vezes predatórias, para aumentar o poder de imposição de preços aos produtores fornecedores”.
Cooperativas
Nesse contexto, salientou o especialista, “as cooperativas deveriam exercer um papel exemplar na comercialização, visto que são uma sociedade de pessoas e não de capitais, mas acabam sucumbindo à concorrência predatória e, sem economia de escala, encontram dificuldades para melhorar a remuneração pelo produto que recebem de seus associados”.
“Sonho com o dia em que todos os produtores serão associados de cooperativas, e essas, em nome deles, negociem com as indústrias de transformação”, concluiu Figueiredo, acrescentando que o sistema Sescoop, da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), tem potencial para incrementar seus projetos educacionais cooperativistas, principalmente entre os mais jovens.
Equipe SNA