A crescente valorização da carne ovina vem fomentando a otimização dos negócios para produzir mais e melhores animais em menor tempo. O mercado consumidor, principalmente na região Sudeste, já está atento para a peculiaridade do sabor desta carne e, por isso, a demanda vem crescendo. Para tornar o processo de reprodução ovina o mais eficiente possível, a Embrapa Pecuária Sul, localizada em Bagé, sul do Rio Grande do Sul, propõe que o ovinocultor lance mão de recursos simples, porém muito eficazes. A inseminação artificial (IA) para a amplificação de uso de sêmen selecionado pode proporcionar o melhoramento genétido de todo o rebanho de acordo com as características desejadas pelo produtor. Porém, uma infraestrutura adequada e a sincronização de partos são componentes do sucesso no processo de inseminação.
Essa infraestrutura para inseminação foi desenvolvida e fomentada nas décadas de 1940 e 1950, pelo Serviço de Fisiopatologia da Reprodução e Inseminação Artificial (Sfria) de Ovinos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Como uma ação de resgate, realizada pela Embrapa Pecuária Sul, essa tecnologia de IA vem sendo disseminada, já que visa facilitar o manejo dos animais e o processo de utilização do sêmen fresco de um carneiro para inseminar lotes maiores de ovelhas.
Com a sincronização de partos, tecnologia desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sul, além de reunir, no mesmo período, um maior número de fêmeas férteis para a inseminação, é possível fazer com que o período de partos coincida com épocas de melhor disponibilidade alimentar, o que reduz as perdas após a parição.
SISTEMA PARA SINCRONIZAÇÃO DE CIOS EM OVINOS EM NOVE DIAS
Para a tecnologia de Sincronização de Partos, desenvolvida pelo Centro de Pesquisa em Bagé, na década de 1990, a aplicação de prostaglandina nas fêmeas no 6º dia do cio é o elemento-chave, de acordo com o pesquisador José Carlos Ferrugem Moraes. Este hormônio, ao ser aplicado nas fêmeas, proporciona a destruição do corpo lúteo ou amarelo que se forma após a ovulação e que é a principal fonte de progesterona. Ao ser destruído, interrompe-se a secreção deste hormônio necessário para manutenção da gestação, e, assim, de dois e três dias após, tem-se o início de um novo cio. “A lógica é ‘matar’ todos os corpos lúteos das ovelhas que estiverem no período funcional, e fazer com que as fêmeas tenham cio juntas, e que, principalmente, venham a parir quando houver mais comida disponível”, explica Ferrugem.
Em um rebanho, tem-se normalmente 5% das ovelhas em cio por dia. Com isso, ao se iniciar a inseminação no primeiro dia, até o sexto, já terão sido inseminadas 30% das ovelhas, restando ainda a maior parte do rebanho. De acordo com o modelo proposto, o produtor deverá, portanto, no 6º dia do ciclo, aplicar nas ovelhas a prostaglandina para“matar” o corpo lúteo e seguir inseminando as que estiverem em cio. Dois dias após a aplicação, acontece o início do pico de cios. Então, até o 9º dia, deverão ter sido inseminadas as demais ovelhas, o que equivale entre 40% a 50% das fêmeas. Ou seja, ao final dos nove dias, totalizarão o equivalente a 70% a 80% das fêmeas.
MONTA NATURAL
Para finalizar a fertilização no restante do rebanho que não foi inseminado ou falhou, deve-se utilizar mais um ciclo estral. Ou seja, além dos nove dias de inseminação artificial, usam-se os outros dezenove dias de ciclo com monta natural, permitindo que as ovelhas que falharam durante a inseminação artificial, possam ter duas chances para serem fertilizadas em um período de 25 a 27 dias. Isso representa um significativo aumento da velocidade do processo de inseminação.
De acordo com este modelo, ainda é possível a redução da dose de prostaglandina nas ovelhas. Normalmente, a dose comercial do hormônio seria para aplicação intramuscular. No entanto, devido à peculiaridade de vascularização do sistema genital, foi testada uma redução da dose injetada na submucosa da vulva. O resultado foi uma eficácia semelhante à da prostaglandina na via intramuscular. O que reduz ainda mais o custo com a aplicação do medicamento.
CASA DE INSEMINAÇÃO EM 3D
Para facilitar a visualização e funcionamento das instalações de Inseminação Artificial de ovelhas, a Embrapa Pecuária Sul distribui, por solicitação dos interessados, uma maquete eletrônica com imagens em 3D (veja na página anterior), que apresenta a infraestrutura necessária para realizar a IA. O modelo de estrutura, inicialmente, foi desenvolvido pelo Ministério da Agricultura para atender a um rebanho grande (com cerca de mil animais), mas que, de acordo o pesquisador da unidade José Carlos Ferrugem Moraes, pode ser adaptado para rebanhos menores. Na maquete pode-se ver, de um lado, as mangueiras para separação das ovelhas identificadas em cio e os rufiões; ao centro, a casa para execução da inseminação e, do outro lado, a mangueira para repouso das ovelhas já inseminadas.
José Carlos Ferrugem Moraes explica como funciona a parte básica do interior da instalação. A “Casinha de inseminações” foi dividida estrategicamente em setores construídos para auxiliar a inseminação das fêmeas com o sêmen fresco, colhido na hora, do macho reprodutor. As ovelhas que estavam em separado na mangueira para serem identificadas por marcação pelo rufião, logo pela manhã, entram para serem inseminadas, enquanto as brancas, sem marcação, retornam para o potreiro e os rufiões também são apartados. À tarde, os rufiões têm o peito pintado com tinta misturada com graxa comum ou água para continuarem a marcar as novas fêmeas em cio à noite, quando estiverem juntas novamente.
Na casinha, há dois compartimentos básicos, um mais alto que o outro, permitindo aos machos verem as fêmeas no cio, já que estão em um local mais alto. Dessa forma, eles já se estimulam para o salto, que ocorre em um pequeno tronco lateral para contenção, onde está o técnico para coletar o sêmen. Esse procedimento de coleta é diário, sendo que cada coleta, que contém aproximadamente 1ml de sêmen, é suficiente para inseminar 20 ovelhas. Após a coleta, o técnico manipula o material em uma bancada, preparando-o para a inseminação. Duas ovelhas, uma de cada vez, entram em um compartimento giratório dividido ao meio, que permite ao técnico acesso para a inseminação. Uma vez realizado o procedimento em uma fêmea, o técnico apenas gira o compartimento, deixando posicionada a outra fêmea para a inseminação, enquanto libera o animal inseminado, cedendo espaço para que outra entre em seu lugar. O conjunto de fotos da maquete, com os detalhes de cada local, pode ser solicitado gratuitamente à Embrapa Pecuária Sul, pelo e-mail: cppsul.sac@embrapa.br.
MANEJANDO OS CORDEIROS RECÉM-NASCIDOS
Os cordeiros recém-nascidos necessitam de alguns cuidados simples e baratos, que podem lhes garantir a sobrevivência. Algumas recomendações foram descritas pela Embrapa Pecuária Sul com o intuito de facilitar o manejo dos cordeirinhos. Por exemplo, para a captura do filhote pode ser utilizado um gancho de pastor, que facilita as atividades necessárias. No caso dos cordeiros saudáveis, o primeiro cuidado após o nascimento é desinfetar o umbigo com uma solução de iodo a 2%, para reduzir as infecções bacterianas. Depois é importante identificar individualmente cada animal. Uma prática simples é o uso de um colar de elástico com brinco numerado que, posteriormente, será colocado de forma definitiva na orelha de cada cordeiro no momento da assinalação.
O produtor precisa neste momento também anotar numa caderneta o peso do cordeiro e a identificação de sua mãe. Caso o número da ovelha não esteja visível, deve-se soltar o cordeiro e deixar para anotar na caderneta o número da mãe em outra oportunidade.
FRACOS E PEQUENOS
No caso de cordeiros fracos e pequenos em relação aos outros, é necessário uma intervenção maior, principalmente se o recém-nascido não estiver mamando ou parecer encolhido (encarangado), que são indícios de cordeiros hipotérmicos. Primeiro, é necessário verificar se o cordeiro suporta o peso da cabeça para poder engolir.
Em caso positivo, deve ser alimentado com sonda estomacal, realizada com uma seringa com 60 ml de colostro, de preferência da própria mãe, retirado na hora. Como precaução, é possível ordenhar as primeiras ovelhas paridas e guardar o colostro congelado em porções individuais (não mais de 100 ml) em frasco de tampa rosca ou saco plástico, para usar quando necessário.
Se for preciso, utilizar colostro que tenha sido congelado, descongelando-o em banho-maria e misturando de vez em quando até que fique morno, para, então, dar para o cordeiro. Pode-se utilizar uma sonda retal, número 20, de uso humano e seringa plástica descartável de 60 ml com ponta tipo “luer-lock”.
É necessário que o operador esteja em pé, com o cordeiro no colo, em posição confortável aos dois para introduzir a sonda lentamente na boca do animal, dando tempo para que o cordeiro a engula.
A sonda deve ser introduzida até chegar ao estômago, estando pelo menos 20 cm para dentro do cordeiro. Após colocar a sonda, pressionar o vazio do cordeiro e escutar se não sai ar pela sonda, desta forma, garante-se que ela esteja no estômago e não no pulmão, antes de injetar o colostro. Depois de confirmado que a sonda está no estômago, conectar a seringa com o colostro, injetar o conteúdo da seringa lentamente até o final e retirar a sonda com a seringa ainda conectada.
Depois de usadas, a seringa e a sonda precisam ser lavadas com água e sabão e escaldadas com água quente. Depois de secas, guardar dentro de um saco plástico, num local limpo para novo uso quando necessário. A sonda pode ser usada várias vezes desde que não tenha sido mastigada pelo cordeiro no momento da colocação.
COLOSTRO
É importante que o cordeiro receba colostro até 6 horas após seu nascimento para receber a imunidade da sua mãe e energia suficiente para manter sua temperatura, permitindo, assim, que o cordeiro siga a mãe que continua amamentando (colostro possui quase quatro vezes o conteúdo de sólidos quando comparado com o leite). À medida que o tempo passa após o nascimento, o cordeiro aproveita menos a proteção imunológica que vem do colostro, e a secreção da glândula mamária da mãe é menos rica em sólidos totais. Por isso, é muito importante identificar os cordeiros que não estão logo após seu nascimento. Para isso, é imprescindível fazer, pelo menos, duas recorridas cuidadosas por dia para identificar o cordeiro que não está mamando. É fundamental atender o cordeiro antes que fique encarangado, já que depois dele ficar frio é mais difícil de salvar o pequeno animal.
ALEITAMENTO
Após o atendimento, caso o cordeiro não possa ser retornado de imediato à mãe, ele deve ser aleitado com 120 ml/kg/dia, distribuídos em pelo menos 3 vezes ao dia, em intervalos regulares (exemplo: 7, 15 e 23 horas). Em recém-nascidos deve-se dar ênfase na prevenção da hipotermia, pois cordeiros mais velhos e que já apresentem hipotermia, necessitam de aplicação de glicose intraperitoneal antes de serem aquecidos e receber alimentação por sonda estomacal.
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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 703/2014