Turbulências e incertezas que ganharam força nos fronts doméstico e externo em 2015 deixarão sequelas sobre o ritmo de expansão das principais cadeias do agronegócio no país e no mundo nos próximos dez anos. Ainda que uma desaceleração geral já fosse dada como certa, tendo em vista o forte ritmo de expansão observado na primeira década deste milênio, a freada, à luz da conjuntura atual, tende a ser mais profunda que a prevista até o fim de 2014.
Recém-saído do forno do Departamento do Agronegócio (Deagro) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o “Outlook FIESP 2025 – Projeções para o agronegócio brasileiro”, corrobora esse horizonte menos promissor. Mas também reforça que, mesmo em meio às intempéries, o Brasil sofrerá menos que a maioria de seus concorrentes, dadas as suas vantagens comparativas, e continuará a ganhar espaço no comércio global, principalmente em mercados como soja, milho, açúcar e carnes.
O momento atual de crise econômica e política requer cautela absoluta. Temos muitos desafios pela frente, mas continuamos otimistas em relação à trajetória do agronegócio brasileiro. “Sabemos que nos próximos dez anos vamos crescer abaixo do registrado na última década em termos de produção e exportação, mas, por outro lado, o agronegócio brasileiro ficará acima da média mundial, ganhando ainda mais espaço e ampliando a importância do país como um dos maiores supridores globais de alimentos”, afirmou Paulo Skaf, presidente da FIESP.
Antonio Carlos Costa, gerente do Deagro, e Alexandre Mendonça de Barros, diretor da MB Agro (consultoria parceira da FIESP nesse trabalho desde 2013), destacaram que entre as “incertezas” que se tornaram certezas negativas em 2015 estão à crise político-econômica no Brasil, que mina a confiança de praticamente todos os elos das principais cadeias produtivas, e a confirmação da desaceleração do crescimento da China e dos países em desenvolvimento em geral, exceto Índia. E sepultaram de vez o ciclo de alta das commodities agrícolas, que em alguns segmentos tem sido aliviado pelo câmbio.
Carro chefe do agronegócio brasileiro, a soja espelha bem esse horizonte menos otimista projetado pelo novo “Outlook”. De 2015 a 2025, o estudo prevê que o crescimento da produção do País será de 3% ao ano, ante 5,6% ao ano entre 2004 e 2014. E no ano passado, o avanço anual projetado pela FIESP até 2024 era de 3,6%. Ou seja, o incremento continua a ser maior que o previsto para a produção global (ver infográfico), mas o ritmo desse aumento ficou menor.
As exportações passaram por ajustes semelhantes. Até 2025, estima o estudo, os embarques do grão deverão subir 4,7% ao ano – acima da média global, mas abaixo dos 9% ao ano de 2004 a 2014 -, mas em 2014 a projeção até 2024 indicava alta de 5,2% ao ano. De qualquer forma, a fatia brasileira nas exportações globais do grão poderá sair de 40%, em 2015, para 50% em 2025.
Se o novo quadro traçado para o açúcar apresenta contornos semelhantes ao da soja, no caso do milho há uma pequena diferença que consolida uma mudança estrutural importante no Brasil. Até 2025, o crescimento da produção tende a ganhar fôlego em relação ao cenário projetado até 2024, em virtude da expansão da área de carnes, embora para as exportações a tendência também seja de expansão menor que a estimada pelo “Outlook” publicado em 2014.
A expansão dos segmentos de carne bovina, de frango e suína, contudo, também foi revista. Diferentemente do quadro de desaceleração em relação à década passada em geral desenhado para os produtos agrícolas – o café poderá se tornar uma importante exceção, com destaque para um crescimento da produtividade de 34% até 2025 -, para as carnes é considerado um ritmo ainda forte de expansão mesmo em comparação à década passada. Mas houve alteração no vetor desse movimento, segundo Mendonça de Barros.
“Desde 1928 o Brasil não tem dois anos seguidos de retração do Produto Interno Bruto, e isso pode levar a uma queda muito profunda no padrão do consumo doméstico”, afirma. Em contrapartida, a apreciação do dólar sobre o real poderá estimular um pouco mais as exportações, apesar de a forte queda das cotações do petróleo ter potencial para esfriar a demanda em clientes do Oriente Médio, como ressalva Mario Sergio Cutait, diretor do Departamento do Agronegócio da FIESP. “Ainda assim”, disse, “é preciso notar que o mercado doméstico continua a ser o vetor de crescimento dos produtos agropecuários brasileiros”.
Como os anteriores, o novo “Outlook” confirma, finalmente, que a área ocupada por lavouras deverá avançar sobre as de pecuária na próxima década, de forma que o espaço adicional a ser ocupado pela agropecuária como um todo tende a ser relativamente pequeno. Se em 2015 o setor ocupa 239.2 milhões de hectares, em 2025 deverá se espalhar por 241.2 milhões de hectares.
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Fonte: Valor Econômico