A retomada da demanda no mercado interno e a especulação de fundos na bolsa de Nova York fizeram os preços do algodão dispararem no Brasil este mês. Em Mato Grosso, maior produtor nacional da pluma, a arroba alcançou R$ 93,05 no dia 16, uma das maiores cotações em sete anos, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). O valor é 6,2% superior ao do mesmo dia de fevereiro. No acumulado do ano, até a última sexta-feira, a alta no Estado chega a 12,4%.
Na Bahia, a arroba alcançou R$ 105,37 no dia 21, segundo acompanhamento diário do Valor PRO, alta de 7% sobre o dia anterior e de 16,11% em relação ao mesmo dia de fevereiro. No acumulado de 2018, até a última sexta, o aumento foi de 19,7% no Estado.
“Estamos tentando entender esse movimento dos preços. Já percebemos uma retomada da demanda no país com a melhora da economia, mas isso vem acontecendo desde o fim de 2017”, disse João Carlos Jacobsen, produtor e membro do conselho consultivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Na avaliação de Jacobsen, o movimento dos fundos de investimento na bolsa americana pode explicar a elevação. As cotações têm sido puxadas pela demanda da China, pela perspectiva de redução da produção em alguns países e pelo cenário macroeconômico mundial.
Além disso, depois que o Federal Reserve confirmou o ciclo de aumento de juros no país, o petróleo subiu. O combustível fóssil mais caro reduz a competitividade das fibras sintéticas, estimulando o maior consumo mundial de algodão.
Nesse cenário de maior demanda, a colheita está em queda em países produtores de algodão. O USDA já estimou que a produção no país em 2017/18 será 1,08% menor que o esperada em função da seca, e deve totalizar 4.58 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, a exportações do país devem crescer 2,07%, para 3.22 milhões de toneladas.
No Brasil, há perspectiva de aumento dos embarques por causa da demanda chinesa crescente. A Abrapa prevê que as vendas externas alcançarão 950.000 toneladas neste ciclo, 1,7% mais que na safra 2016/17.
Para Jacobsen, mais relevante do que o aumento esperado nas exportações são os baixos estoques para o consumo local. Em seu último relatório sobre a commodity, o Imea escreveu que restam apenas 3% dos estoques do Estado para serem negociados e por isso os vendedores se retraem.
Em relatório, o Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior Luís de Queirós (Esalq/USP) afirma que os vendedores resistem a baixar os preços, ao mesmo tempo em que compradores precisam ceder.
O baixo volume disponível e os altos preços despertaram a atenção da indústria, que pretende pleitear ao governo a importação de algodão sem tarifa até o fim da safra 2017/18. “Ainda é uma ideia incipiente, mas vamos nos reunir com outras associações do setor para pedir taxa zero para importação por um período curto de tempo”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel.
Segundo ele, serão necessárias “apenas” 30.000 toneladas de algodão do exterior para acomodar os preços. “Isso é para atender as pequenas indústrias têxteis, que não trabalham no mercado futuro como as grandes companhias”, disse. Ele afirma que as grandes têm contratos fechados com valores pré-definidos, mas admite ter receio de produtores deixem de entregar diante de preços elevados no mercado spot.
A indústria nacional transforma 700.000 toneladas de algodão por ano. Dependendo do tipo de indústria, a fibra do algodão pode representar até 40% do custo de produção, diz. Segundo Pimentel, a retomada do consumo no país é lenta e por isso não é possível repassar ao consumidor a elevação nos preços da matéria-prima.
A esperança do setor industrial é de que a produção tenha novo crescimento na safra 2018/19, o que aliviaria os preços. No atual ciclo, a produção cresceu 21,3%, para 1.85 milhão de toneladas, conforme a Conab.
Nos EUA, o primeiro relatório de intenção de plantio do USDA aponta que haverá um crescimento na área a ser semeada de 5,6%, para 5.38 milhões de hectares.
Fonte: Valor Econômico