Corredor promete acelerar vendas para a Ásia

Única obra de infraestrutura envolvendo mais de dois países da região, o Corredor Rodoviário Bioceânico vai cortar em 12 dias o trajeto das exportações para a Ásia. Só em celulose e carnes, a economia com frete é estimada em US$ 75 milhões ao ano. Além disso, o comércio intrarregional deverá aumentar.

O corredor conectará Mato Grosso do Sul aos portos do Chile, passando por Paraguai e Argentina, praticamente em linha reta. Falta pavimentar um trecho no Paraguai e construir a ponte ligando Porto Murtinho (MS) a Carmelo Peralta, em território paraguaio, além de concluir um contorno rodoviário no lado brasileiro. A estimativa é que tudo esteja concluído em 2023.

Os dados estão no livro “Corredor Bioceânico de Mato Grosso do Sul ao Pacífico: Produção e Comércio na Rota de Integração Sul-Americana”, que o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) pretende lançar amanhã. Coordenada pelo pesquisador Pedro Silva Barros, a publicação é subsídio para discussões nos grupos de trabalho a respeito do projeto.

“A produção do Brasil caminha para o oeste”, disse Barros ao Valor. Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia têm apresentado aumento na produção e nas vendas ao exterior acima da média nacional.

Segundo o pesquisador, a exportação per capita anual de um mato-grossense chega a US$ 5.000,00 contra US$ 2.000,00 de um chinês. As exportações per capita de um rondoniense saíram de US$ 40,00 para US$ 700,00 nos últimos 20 anos.

Essa dinamização não ocorre só deste lado da fronteira. Nos países vizinhos, a produção agrícola é tocada em boa parte por brasileiros e também está em expansão.

A explicação está do outro lado do Pacífico: a alta demanda dos países asiáticos, que se constituíram no polo mais dinâmico de crescimento e comércio global. Nesse contexto, é cada vez mais importante para o Brasil ter rotas de comércio alternativas aos trajetos pelo oceano Atlântico. A alta no preço dos serviços de transporte marítimo reforça a necessidade de estabelecer rotas mais curtas.

“Vai demorar um pouco, mas vamos ter saídas para o Pacífico”, afirmou Barros. Ele comparou essa fronteira logística à do norte do país. Há 20 anos, disse o pesquisador, ninguém acreditaria que a bacia amazônica seria uma rota importante para as exportações do Brasil. No entanto, é cada vez maior o trânsito de barcas nos rios da região, escoando principalmente soja e milho de Mato Grosso.

Da mesma forma, ultrapassar os Andes e chegar ao Pacífico será uma alternativa cada vez mais viável para o comércio. Saem do Brasil 46% das exportações globais de celulose de eucalipto, e Mato Grosso do Sul responde por 25,90% desse total. Esse produto tende a ser um dos beneficiados pelo corredor, com impactos não só no Brasil.

Segundo Barros, o Chile é o maior investidor externo do Brasil na região, com recursos concentrados na produção de celulose. Em Concepción, no Paraguai, foi instalada uma planta processadora do produto. Assim, há potencial para instalar uma cadeia de valor na região.

Mato Grosso do Sul é também exportador de frango. Em 2019, foram US$ 201.7 milhões, majoritariamente para Ásia e Oriente Médio. O Estado é o terceiro maior produtor de carne bovina no país.

O corredor também pode ser uma via mais barata para a importação de fertilizantes pelo Brasil. Hoje, Mato Grosso do Sul compra esse produto principalmente no Canadá. Esse sai de Vancouver, no oeste do país, para atravessar o canal do Panamá e chegar ao Brasil via porto de Santos (SP) e depois seguir em caminhões para o Centro-Oeste. “Se ingressasse via Chile ou via Peru, o trajeto seria bem mais lógico”, apontou Barros. “Poderia ser absorvida também a produção dos países vizinhos”.

Outro potencial beneficiado com a obra é o de lítio, usado na produção de baterias recarregáveis para telefones celulares e automóveis elétricos. As maiores reservas do mundo estão na região servida pelo corredor Argentina, Bolívia e Chile. O Brasil possui pouco minério, mas pode se colocar como um processador industrial, estima o pesquisador.

O comércio da própria região pode ser intensificado com uma logística melhor. Por exemplo, facilitando a chegada de salmão do Chile para o Brasil. Hoje, esse produto chega ao País por avião, no aeroporto de Viracopos (SP), e segue em caminhões para Campo Grande (MS). Na outra mão, as carnes exportadas para os países vizinhos saem por Santa Catarina.

 

Fonte: Valor

Equipe SNA

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp