Confira a entrevista na íntegra.
Recursos genéticos são todas as espécies de animais, vegetais e microbianos que estão na terra, na água e no ar, e que possuem algum valor econômico, científico, social ou ambiental com relevância futura ou atual para a espécie humana. Nesse contexto, o governo federal instituiu, em junho deste ano, a Política Nacional de Conservação e Uso de Recursos genéticos para Alimentação, Agricultura e Pecuária.
Importância
Tais recursos possuem a variabilidade genética necessária para evitar a fome e as perdas econômicas em decorrência de intempéries climáticas, doenças e pragas que se mostram como desafios para a humanidade.
Para Samuel Paiva, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, essa política é mais um passo para que o Brasil passe a considerar seus recursos genéticos como um material que provém a soberania do país.
“Estamos falando de produção de alimento. Espero que passemos a considerar este assunto como política de Estado, e não de governo. Estamos falando de uma política de longo prazo; ou seja, devemos ter uma organização nacional de como o Estado brasileiro tem de conservar seus recursos genéticos de forma a garantir segurança alimentar no futuro, driblando problemas como guerras, doenças, distribuição, etc”, disse o pesquisador da Embrapa.
Ministérios
A coordenação desta política será realizada em conjunto pelos ministérios de Agricultura, Pecuária e Pesca (MAPA), pelo de Meio Ambiente (MMA) e ainda pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).
O MAPA será responsável pela conservação ex situ (fora do local de origem das espécies, mas com forte participação da Embrapa). Já ao MMA caberá a conservação in situ (no local originário das espécies) e o MDA ficará encarregado da conservação on farm (conservação de plantas sob cultivo, ou criação de animais em seus locais de produção, incluindo o componente sociocultural).
Cada um dos ministérios vai trabalhar ações específicas em cada um desses programas para que a conservação seja realizada a médio e longo prazo. “Desejo que a gente possa conservar este material biológico, totalmente estratégico para o Brasil, de forma coordenada e alinhada entre os ministérios”, enfatizou Samuel Paiva.
Outro desdobramento desta ação é a formação de um Comitê Gestor com representantes do governo, sociedade civil, povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares.
Embrapa
A Embrapa investe na conservação de recursos genéticos desde a sua criação em 1973, por isso esse programa é tão abrangente, de acordo com o pesquisador da entidade. “Gostaríamos que esta política ajudasse na expansão da conservação em outras instituições e universidades que compõem o Sistema Nacional Pesquisa Agropecuária (SNPA)”.
O tema está presente em 32 das 43 Unidades Descentralizadas da Embrapa e distribuídas em 24 das 27 Unidades Federativas. Há um total de 241 coleções biológicas, totalizando quase 3.000 espécies conservadas, sendo 32.500 animais, 55.331 linhagens de microrganismos e 256.058 acessos de vegetais. Dentro do programa, a Embrapa mantém hoje um dos maiores bancos genéticos do mundo, com cerca 123 mil amostras de sementes de aproximadamente 1.100 espécies de plantas.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária conserva também animais e microrganismos de interesse agropecuário, assegurando diversidade genética aos cientistas para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias com características de interesse da sociedade, como resistência a pragas e doenças, tolerância a estresses climáticos e maior teor nutricional, entre outras aplicações.
Por Larissa Machado
larissamachado@sna.agr.br