Renovação do Parque Cafeeiro
Em seu mais recente relatório sobre o mercado, a Organização Internacional do Café (OIC) destacou o equilíbrio existente entre oferta e demanda mundiais, que se deu pela transferência dos estoques dos países produtores para os consumidores. “Apesar de uma safra escassa de conilon no Brasil e no Vietnã, o que manteve o mercado bem suprido no período de outubro de 2016 a fevereiro de 2017 foram os estoques mais alentados que no ano anterior nos países produtores e ao crescimento contínuo dos estoques nos países consumidores”.
A OIC completa informando que “esse panorama, combinado com perspectivas cada vez mais positivas para a safra 2017/18, indica que não haverá uma inversão do declínio gradual dos preços no mercado observado no presente momento”. Aliado a isso, temos notado, no Brasil, em pleno início da colheita de robusta e às vésperas dos trabalhos de cata do arábica, o crescimento da instalação de viveiros de mudas de café e a preparação do solo para novos plantios, fato extremamente preocupante, uma vez que vai na contramão das sinalizações do mercado mundial e acabará por ocasionar a expansão da área e o aumento desregrado da produção.
Como representante do setor produtor, o CNC mantém sua responsabilidade de orientar que a renovação do parque cafeeiro precisa e deve ser feita com sensatez e, de fato, com a revitalização das lavouras antigas em áreas já destinadas ao cultivo do fruto e não com a abertura de novas lavouras. Diante dessa preocupação e da consciência em não estimular excesso de oferta e aviltamento dos preços, estamos desenvolvendo um projeto de renovação do cinturão produtor que permita que nossas safras futuras atendam à crescente demanda, mas de maneira sustentável através do aumento da produtividade, que se dará por meio do plantio, em espaçamentos melhores, de novas variedades mais resistentes a pragas e doenças, mais produtivas e precoces, rendendo colheita a partir do segundo ano.
Os próximos passos desse projeto envolverão visitas a campo para contatos com nossas cooperativas e suas diretorias, de forma que identifiquemos as principais necessidades e as áreas que precisam de renovação de maneira mais pontual. Destacamos, ainda, que a renovação deve ser feita de forma escalonada, não ocasionando impactos substanciais nas safras e nos preços, que atualmente se encontram nos mesmos níveis praticados em 1982.
Por fim, conciliando o fato de não gerarmos excesso de produção e cenários que permitam preços mais justos aos cafeicultores no mercado, o CNC destaca a realização do I Fórum Mundial de Produtores de Café, que ocorrerá de 10 a 12 de julho, em Medellín, na Colômbia, e terá como foco principal a sustentabilidade econômica na cafeicultura, terça parte do tripé sustentável esquecido pelos demais setores, que exigem preservação ambiental e melhoria social, o que os produtores entregam, mas sem receber melhores valores por isso. Ou seja, não há sustentabilidade econômica e, subsequentemente, nem equilíbrio nessa falsa relação sustentável.
Preço Mínimo
Na quarta-feira, 19 de abril, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou, no Diário Oficial da União, os novos preços mínimos para o café na safra 2017. Com base no levantamento de custos de produção realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a variedade arábica teve sua cotação mínima estipulada em R$ 333,03 para a saca de 60 kg do grão tipo 6, bebida dura para melhor, com até 86 defeitos, peneira 13 acima, admitido até 10% de vazamento e teor de umidade de até 12,5%, enquanto o preço do robusta foi determinado em R$ 223,59 por saca do café tipo 7, com até 150 defeitos, peneira 13 acima e teor de umidade de até 12,5%.
Ao longo dos últimos meses, o CNC se reuniu três vezes com o Governo Federal para tratar da matéria. Em duas audiências no MAPA e em uma na Conab, apresentamos que o estudo desenvolvido pela estatal possuía incoerências com a realidade do campo, o que impactaria negativa e diretamente no estabelecimento dos preços mínimos para o café na safra 2017.
Nessas oportunidades, identificamos que a Conab estimou, nos sistemas mecanizados de produção do Sul de Minas Gerais e de São Paulo, que possuem significativa participação na produção nacional, forte retração das despesas com operações de máquinas, entre novembro de 2015 e novembro de 2016, destoando completamente do que o CNC identificou junto a seus associados, quando observamos, em todas as áreas produtivas de café, aumento do custo da hora/máquina suportado pelo produtor e a manutenção de máquinas e equipamentos próprios, pelos altos custos de peças, além do aumento do combustível.
Outro argumento utilizado pela Conab para justificar a evolução pouco significativa dos custos do arábica se refere às menores despesas com fertilizantes e juros. No tocante aos gastos com fertilizantes, embora a evolução do dólar em 2016 tenha contribuído para um menor preço ao produtor, devemos atentar que o ano de 2017 se iniciou com tendência de aumento dos valores desses insumos devido a problemas de menor oferta, principalmente dos nitrogenados.
Quanto aos juros, o CNC recorda que o custo do financiamento agrícola, inclusive ao amparo do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), sofreu aumento em 2016 devido ao cenário macroeconômico do Brasil. Não obstante tenha sido intensificada a queda da Selic em janeiro, não temos observado, na prática, uma redução generalizada dos juros dos financiamentos tomados pelos cafeicultores. Além disso, também não sabemos qual será a efetiva redução dos juros no Plano de Safra 2017/18, por isso consideramos prematura qualquer estimativa de retração dessa despesa para embasar um menor reajuste dos preços mínimos do café.
A Conab também credita a evolução pouco significativa do custo de produção variável do arábica aos pacotes tecnológicos adotados pelos produtores. Em relação a esse ponto, recordamos que 79% dos cafeicultores brasileiros (230.000 produtores) cultivam áreas de até 10 hectares. Outros 7% (20.000 produtores) possuem de 10 ha a 20 ha, ou seja, 85% das propriedades cafeeiras são de pequeno porte. Essa pulverização dificulta o acesso à tecnologia de forma generalizada, principalmente na situação atual de dificuldade dos servidos estaduais de assistência técnica e extensão rural, por isso o CNC questiona esse argumento apresentado pela Conab para mitigar o aumento dos custos suportados pelos produtores de café.
Manteremos nossos contatos e as negociações com o Governo Federal para que, de fato, diferente do ocorrido nas últimas safras, a realidade da cafeicultura seja considerada nos trabalhos da Conab e passemos a ter preços mínimos mais condizentes com a verdade dos custos de produção da atividade, o que permitirá termos valores de referência para programas de subvenção aos produtores nos momentos em que ocorra uma forte queda nas cotações praticadas no mercado.
Mercado
Influenciados principalmente pela valorização do dólar ante o real, os futuros do arábica devolveram os ganhos acumulados no início da semana, encerrando o pregão de ontem com significativas perdas.
No Brasil, a moeda norte-americana encerrou a quinta-feira cotada a R$ 3,1472, em alta de 0,4% em relação ao fechamento da semana anterior. O comportamento da divisa seguiu em linha com o índice externo, que se valorizou frente à preocupação dos investidores com o cenário geopolítico internacional. No âmbito doméstico, a agenda das reformas da previdência e trabalhista também exerceu influência sobre a precificação do câmbio.
As condições climáticas seguem favoráveis ao desenvolvimento das lavouras cafeeiras do Brasil. Segundo a Somar Meteorologia, para a próxima semana estão previstos baixos acumulados, com má distribuição espacial, sobre as áreas produtoras do Sudeste. Porém, a Climatempo avalia que as chuvas, embora irregulares, serão mais que suficientes para manter a umidade do solo em nível adequado ao bom desenvolvimento dos cafezais.
Por outro lado, a combinação de chuvas e altas temperaturas nos últimos meses, contribuiu para o avanço da ferrugem. A Fundação Procafé alertou para a necessidade de monitoramento e controle da infestação de ferrugem nos cafezais da Mogiana e do Sul de Minas, onde o índice encontra-se 7% acima da média do período. A última pulverização antes da colheita, com fungicida sistêmico específico, deve ser realizada até o final de abril.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) informou que a colheita do conilon no Espírito Santo começou efetivamente nesta semana. O clima foi um pouco mais favorável ao desenvolvimento da safra, de forma que menos grãos verdes têm sido necessários para o preenchimento de uma saca beneficiada e grande parte dos cafés precoces tem sido classificada como peneira 13 acima. Em Rondônia, mesmo com a continuidade das chuvas, a colheita avança sem maiores problemas e os grãos apresentam boa qualidade.
Na ICE Futures US, o vencimento julho do Contrato C foi cotado, na quarta-feira, a US$ 1,4065/libra-peso, com queda de 60 pontos em relação ao fechamento da semana passada. O vencimento julho do contrato futuro do robusta, negociado na ICE Futures Europe, encerrou o pregão de ontem cotado a US$ 2.174,00/tonelada, sem alterações significativas frente à última sexta-feira.
O mercado doméstico seguiu com baixa liquidez no spot. Vendedores continuam retraídos já que os preços encontram-se aquém das suas expectativas. Também há retenção na ponta compradora devido ao avanço da colheita nas regiões produtoras de conilon. Os indicadores calculados pelo CEPEA para as variedades arábica e robusta foram cotados, ontem, a R$ 468,37/saca e a R$ 410,89/saca, respectivamente, com variações de -1% e -0,90%, em relação ao fechamento da semana anterior.
Fonte: CNC