Conjuntura nacional é tema em debate no Conselho de Economia da SNA

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A atual crise brasileira, na opinião do economista Paulo de Tarso Medeiros, pode ser explicada por diversos fatores, entre eles, o esgotamento de um modelo baseado no consumo. Foto: Divulgação/SNA

 

O Conselho de Economia da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), em reunião realizada na sexta-feira (9), na sede da instituição, analisou o atual cenário político e econômico do Brasil, sob a coordenação do economista Rubem Novaes.

Para Paulo de Tarso Medeiros, a atual crise brasileira pode ser explicada por diversos fatores, entre eles, o esgotamento de um modelo baseado no consumo; a redução da competitividade da indústria pela valorização do câmbio; o impacto do setor petrolífero nos investimentos e na renda; os cortes nos gastos do governo, e a operação Lava-Jato, que, segundo Medeiros “foi positiva no médio prazo, pelo efeito na ética dos negócios e na atuação dos políticos, mas teve efeito danoso no PIB, por agravar ainda mais redução dos gastos da Petrobrás, com impacto sobre as grandes empreiteiras envolvidas no esquema”.

Para o ex-ministro Márcio Fortes, a crise também envolve a perda de credibilidade dos três poderes. No Judiciário, em particular, ele afirmou que “o Supremo Tribunal Federal deveria ter atitudes mais firmes para manter sua posição de independência”.

Fortes salientou ainda que faltam maiores discussões em torno dos projetos de lei do governo. “É preciso analisar, debater para aperfeiçoar”.

Outro ponto em questão, destacado por Paulo Medeiros, é de que a crise afetou as expectativas de consumo, causando retração; diminuiu os investimentos empresariais; gerou indisposição, por parte dos bancos, para a realização de financiamentos e também afetou os investimentos em infraestrutura que, segundo o economista, “sofreram com a incapacidade do governo de tocá-los e com a pouca disposição de investidores privados de assumir riscos”.

 

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Para o ex-ministro Márcio Fortes, a crise atual também envolve a perda de credibilidade dos três poderes. Foto: Agência Brasil/EBC

 

MANUTENÇÃO E PLANEJAMENTO

Para o economista Roberto Castello Branco, “o país está numa recessão profunda, em situação difícil, mas isso vai acabar. É um ciclo. A preocupação deve ser com o futuro das novas gerações. Nos últimos 25 anos, o PIB per capta do Brasil cresceu 1,2 % ao ano. Outras economias latinas como Peru, Chile e Uruguai dobraram o PIB per capta nesse período, crescendo a quase 3% ao ano, e ficamos muito para trás”, observa Castelo Branco. “Essa é a mais longa recessão do Brasil desde o início do século 20, e esse quadro foi piorado pelos últimos governos brasileiros”, acrescenta.

Castello Branco afirmou ainda que, apesar de o Brasil precisar de muito investimento em infraestrutura, “é necessário avaliar a manutenção das obras já realizadas”. Para ele, “pode ser muito mais barato manter uma infraestrutura existente do que deixar uma construção sem manutenção por dez anos e depois reformá-la”.

“Investimento em infraestrutura é importante porque contribui para aumentar a produtividade na economia e o crescimento econômico”, afirma Castello, “porém, é preciso saber, no caso das obras públicas, se há um projeto de engenharia detalhado, para evitar que não caiba no orçamento e que a obra atrase”.

 

CÍRCULO VICIOSO

De forma geral, a falta de investimentos constitui um dos fatores que alimentam a atual crise. “Um processo recessivo quando se instala, se auto-alimenta. A queda de produção, o consequente aumento do desemprego, a perda de renda dos trabalhadores e a queda de investimentos acarretam em mais queda de produção e mais desemprego. É o que estamos assistindo. A saída desse círculo vicioso requer que alguns dos componentes do PIB se recuperem. Mas qual teria condições de fazê-lo? ”, questiona Paulo Medeiros.

 

Castello Branco afirma que o Brasil enfrenta “a sua mais longa recessão desde o início do século 20”, e que esse quadro “foi piorado pelos últimos governos brasileiros”. Foto: Arquivo/SNA
Roberto Castello Branco afirma que o Brasil enfrenta “a sua mais longa recessão desde o início do século 20”, e que esse quadro “foi piorado pelos últimos governos brasileiros”. Foto: Arquivo/SNA

 

INTERVENÇÃO

Na visão do vice-presidente da SNA, Tito Ryff , a intervenção do Estado, nesse momento crítico, é fundamental tanto para evitar o colapso do sistema econômico e financeiro como para melhorar a distribuição de renda e eliminar a pobreza absoluta.

Ryff disse ainda que o crescimento econômico não necessariamente melhora a distribuição de renda. “No caso do Brasil, esperar que o crescimento da economia cause os efeitos necessários para a distribuição de renda, pode levar décadas e ter impacto negativo sobre a própria economia. Temos de ter compromisso com a nossa responsabilidade fiscal”, ressalta.

Castello Branco, por sua vez, questionou as políticas de redistribuição de renda: “Elas envolvem políticas fiscais, regulação de mercados e isso cria uma classe de ‘capitalistas inimigos do capitalismo’, com políticos corruptos, lavadores de dinheiro, etc. que extraem recursos da sociedade”.

 

VÍNCULOS

O vice-presidente da SNA também acredita que a esquerda brasileira, neste momento pelo qual o país atravessa, deve “associar-se ao processo de responsabilidade fiscal; estabelecer vínculos maiores com a iniciativa privada, e incentivar o crescimento econômico por meio de políticas de fomento ao desenvolvimento industrial e de incentivo à inovação tecnológica”. E Tito Ryff reforça: “o Estado tem papel fundamental nesse sentido”.

Para Castello Branco, o Brasil tem uma história de fracasso com as políticas industriais. “São focadas na substituição de importação e preocupadas em barrar a exposição para a competição externa. Não têm prazo definido e não exigem nenhuma contrapartida de eficiência por parte de seus beneficiários”.

 

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Na visão do vice-presidente da SNA, Tito Ryff , a intervenção do Estado, nesse momento crítico, é fundamental tanto para evitar o colapso do sistema econômico e financeiro como para melhorar a distribuição de renda e eliminar a pobreza absoluta. Foto: Cristina Baran

 

AÇÃO DOS EUA

Outro aspecto influente, na visão de Paulo Medeiros, está relacionado ao comportamento do novo governo dos Estados Unidos. Segundo ele, existe uma certeza de que os juros vão subir, pelo vigor da economia americana, mas por outro lado há uma dúvida se vão aumentar mais ainda pelas ações de Donald Trump.

“Se partir para uma política efetivamente protecionista, isto afetará os níveis de comércio. Quanto a preços das commodities, depois de expressivas perdas, já tiveram boa reação. Difícil esperar mais. E podemos ter queda, na hipótese de ação mais radical do governo Trump. Condições externas não devem nos ajudar. Maiores juros nos Estados Unidos irão afetar o fluxo de recursos para o Brasil, aumentando o risco país na visão dos investidores estrangeiros. Tudo o que não queremos”, enfatiza Medeiros.

 

CRÍTICAS

Para o economista, o principal erro do governo Temer está na política de taxa de juros por parte do Banco Central (BC). “O presidente quer chegar ao centro da meta de inflação em 2017 e faz da taxa de juros o instrumento para atingir essa meta. Com a recessão se aprofundando, poderia reduzir essa taxa, até porque as expectativas de inflação se mantinham relativamente estáveis e bem abaixo dos índices correntes”.

 

GERAÇÕES FUTURAS

A preocupação com o legado a ser deixado para as próximas gerações foi a tônica da participação de Tulio Arvelo Duran. Citando o professor Max Bazerman, de Harvard, o economista enfatizou que “o aumento da dívida pública, de tal forma que possamos gastar mais sem a necessidade de aumentar a carga tributária, é uma forma parasita de obter recursos jogando o débito em gerações futuras”.

 

>>Leia, na íntegra, no Agriforum, o discurso do economista Paulo de Tarso Medeiros.

 

Por equipe SNA/RJ

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