Conjunção positiva garante duas safras de recordes para o algodão

Colheita farta, boa demanda externa, preço e câmbio favoráveis e rentabilidade positiva, apesar de limitações logísticas e do aumento de custos. Poucas vezes na história os produtores brasileiros de algodão tiveram tantos motivos para comemorar. E a bonança garantirá mais do que os recordes desta safra 2017/18, que está em fase de entregas. Se o clima colaborar, fará com que esses recordes fiquem para trás já na próxima temporada.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a colheita de algodão em pluma em 2017/18 em dois milhões de toneladas, 31% a mais que no ciclo 2016/17. Na comparação, projeta a estatal, as exportações aumentarão 20%, para um milhão de toneladas. Com os ventos favoráveis, para 2018/19 a produção está prevista em 2.2 milhões de toneladas e os embarques, em 1.3 milhão de toneladas. E os avanços poderão ser até maiores.

Para a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), há potencial para a colheita atingir a marca de 2.5 milhões de toneladas em 2018/19. E como a expectativa da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) é que a demanda doméstica permaneça estável em cerca de 700.000 toneladas, o destino natural do excedente é o mercado exterior.

Uma lógica relativamente simples, desde que, além do clima, a demanda externa também continue como está, puxada pela China. E que, um problema que não estava na equação, seja logo resolvido: a escassez de contêineres para exportação e menos espaço nos navios. Como as importações brasileiras diminuíram, é menor o número de navios que chegam carregados no país para retornar com café, algodão e açúcar.

“A gente costumava ter seis linhas semanais de navegação saindo de Santos. O número caiu pela metade”, disse Henrique Snitcovski, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). Segundo ele, a menor disponibilidade de linhas amplia a demora em embarcar as cargas, obriga o agricultor a armazenar colheitas e, claro, encarece a operação. “Com certeza também há impacto nos custos do frete marítimo”, disse.

Esses custos já estão mais altos. De acordo com Orlando Almeida Prado Neto, sócio da Fibra Corretora, o transporte de um contêiner carregado de algodão de Santos (SP) – porta de saída de 97% das exportações brasileiras – para o Extremo Oriente, principal destino do produto brasileiro, pulou de US$ 300,00 há um ano, para cerca de US$ 500,00 atualmente.

Antonio Dominguez, principal executivo da Maersk Line para a Costa Leste da América do Sul, apontou em relatório que a volatilidade do câmbio, as incertezas sobre os preços do frete rodoviário e a safra robusta estão pressionando os exportadores, que tentam reservar espaço com diversos armadores para garantir seus embarques.

Mesmo com a maré favorável, essas turbulências, que já ajudaram a conter o crescimento das margens, poderão causar redução na próxima temporada, quando o câmbio tende a ser menos atraente.

A Céleres, por exemplo, calcula que o lucro bruto dos produtores de Primavera do Leste (MT) chegou a R$ 4.100,00 por hectare em 2017/18 (margem operacional de 35,9%), mas que a média poderá cair para R$ 3.100,00 por hectare em 2018/19. Um bom nível, é verdade, mas que poderia ser até melhor.

Neste ano, a importância do câmbio salta aos olhos quando se nota o comportamento dos prêmios. Mesmo que com os prêmios pagos no porto de Santos em relação às cotações em Nova York tenham caído em setembro, o valor recebido ainda fica acima dos custos.

Na segunda quinzena do mês passado, o valor pago pela libra-peso da pluma no porto estava 6,50 centavos de dólar menor que a cotação em Nova York. No mesmo período de 2017, era 10,50 centavos maior. “Essa oscilação também reflete a variação cambial e o próprio fato de a pluma ter subido em Nova York”, afirmou Gabriela Fontanari, analista da INTL FCStone. Ontem, o prêmio pago no porto era positivo em 4,45 centavos de dólar.

Para Snitcovski, da Anea, uma maneira de diminuir custos e, dessa forma, elevar a rentabilidade das exportações, é tirar parte dos embarques de Santos e tornar o escoamento por Salvador mais viável.

“Para nos consolidarmos como segundo maior exportador do mundo, vamos precisar diluir a concentração de Santos. E, para isso, conseguir linhas de navegação exclusivas em Salvador”, afirmou o presidente da Anea. Segundo ele, a associação começará a fase de testes pelo porto baiano em novembro.

Dirigentes da Anea e da Abrapa também formaram uma comitiva com o intuito de ampliar os mercados para as exportações brasileiras. Na última semana, essa comitiva esteve em Kahramanmaras, na Turquia, um dos maiores consumidores e importadores de algodão no mundo.

O Brasil já exporta, em média, 76.500 toneladas para a Turquia por safra, ou menos de 10% das importações totais daquele país. Para 2018/19, a demanda doméstica da Turquia deverá crescer 15%, e as importações seguirão relevantes.

“Diversificar será vital para conseguirmos alcançar e manter a segunda posição no ranking dos exportadores. Precisamos exportar mais de 200.000 toneladas em um mês. Nosso recorde é de 188.000 toneladas”, disse o presidente da Anea.

 

Fonte: Valor Econômico

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