A crise entre Rússia e Ucrânia está gerando reflexos diretos no mercado internacional de fertilizantes que vão desde reações nos preços internacionais dos adubos a eventuais impactos na oferta mundial destes insumos, segundo analistas do setor.
As consequências recaem sobre todo o complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), macronutrientes básicos utilizados nas lavouras. Isso porque a Rússia é o segundo maior exportador mundial de nitrogenados e terceiro maior exportador global de fosfatados e potássicos, contribuindo com 16% dos adubos exportados no mundo.
O primeiro efeito e imediato da tensão entre os dois países diz respeito aos preços dos adubos, avaliou o diretor de Fertilizantes da consultoria StoneX, Marcelo Mello. “Neste primeiro estágio há impacto nos preços. A tendência é de alta para os três ativos no mercado internacional.”
Nesta semana, com o acirramento da crise, os contratos futuros da ureia, listados no CME Group, nos Estados Unidos, subiram de US$ 20,00 a US$ 25,00 por tonelada, encerrando o dia a US$ 625,00 a tonelada, segundo dados da StoneX.
Fator altista
Para o especialista de agronegócios do Itaú BBA, César de Castro Alves, o conflito entre os dois países é um fator altista no curto prazo para as cotações internacionais dos adubos, mesmo em cenário de preços já elevados.
“A expectativa era de acomodação das cotações a partir do segundo trimestre. Agora, se os preços do gás natural não cederem e o conflito perdurar, os valores dos adubos tendem a não se acomodar ou recuar. Este tom de tensões dá força especialmente à retomada da alta dos nitrogenados”, afirmou Alves.
Mello, da StoneX, estima que, com a recente invasão da Ucrânia por parte da Rússia, as cotações do complexo NPK podem subir de 10% a 30% no período de dois a três dias. “Há um potencial para alta neste nível pela importância da Rússia na oferta dos três nutrientes. A ureia, que é o mais volátil, já havia subido 10% antes mesmo da invasão.”
Já Alves, do BBA, avalia que os desdobramentos sobre os preços são imponderáveis. “É difícil imaginar quais patamares os preços podem atingir com o conflito interrompendo o fluxo exportador da Rússia.”
Impacto
Os analistas acrescentam que o mercado físico tende a repercutir esta alta, mas de forma mais lenta. “Com a tensão, os preços no mercado físico tendem a acompanhar a alta dos contratos futuros. A tendência é clara de aumento de preço”, disse Mello.
“Com a atual situação, o impacto ao preço físico pode ser rápido, especialmente se houver uma correria de demanda puxada pelo aumento do receio de interrupção no fornecimento russo”, afirmou Alves, do BBA.
Oferta
Além do reflexo sobre as cotações, as preocupações quanto à oferta mundial destes insumos aumentam diante da crise, já que inúmeros países dependem dos adubos russos.
Na avaliação dos especialistas, o conflito na região vai inviabilizar as rotas de escoamento dos adubos e já está gerando sanções econômicas por parte de potências como Estados Unidos e Europa. Isso irá afetar o fornecimento mundial dos fertilizantes do completo NPK.
Desde o ano passado, há um aperto na oferta global de adubos e quaisquer alterações no volume exportado pela Rússia pode estreitar ainda mais a disponibilidade destes insumos, considerando que outras origens importantes também estão sobrecarregadas.
Segundo dados da StoneX, a Rússia exporta aproximadamente 40 milhões de toneladas de adubos por ano, equivalente a 16% do mercado mundial.
Sanções
Até o momento, as sanções impostas por países da União Europeia e pelos Estados Unidos não incluem empresas de adubos e são consideradas como “lights” por especialistas em geopolítica.
“No momento, são sanções de médio e longo prazos e sua dimensão vai depender do desdobramento do conflito. Entendo que fertilizantes tendem a não estar no primeiro foco dos embargos”, aponta Mello, mencionando que petróleo e gás natural podem ser os alvos de primeiro rol de sanções mais graves.
Mas os riscos de um pacote de sanções incluírem os adubos são altos devido ao peso e à representatividade da indústria para a economia russa, segundo os analistas.
Em hipótese de sanções econômicas englobando os fertilizantes russos, os impactos serão “sérios” ao mercado mundial de adubos, estimou Mello. “Já estamos em situação crítica pelos preços elevados e na iminência de uma crise de desabastecimento mundial.”
Na opinião do analista, neste caso, a possibilidade de desabastecimento em potássio passaria de risco para consolidação; em fósforo, surgiria um risco relevante de falta; enquanto em ureia poderia haver um remanejamento na oferta mundial com outras origens capazes de suprir uma eventual ausência russa no mercado.
Consequências
“Outra preocupação seria o tempo prolongado destas sanções. Mesmo que brandas, se forem de dois a três meses, é muito grave neste momento do mercado global”, afirmou Alves.
Em um cenário de agravamento da crise, as consequências ao mercado de adubos tendem a ser mais bruscas com a possível interrupção no fornecimento de adubos russos. Neste caso, Alves se refere a eventuais bloqueios em estradas e portos.
Mello, da StoneX, por sua vez, acredita que o fluxo dos embarques por questões logísticas tende a ser menos prejudicado que por questões comerciais, diante do acesso da Rússia ao oceano pelo Mar Báltico e Mar Negro.
Fonte: Broadcast Agro
Equipe SNA
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