O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) realizou em 9 de setembro, em São Paulo, sua conferência anual que teve como tema “Oportunidades para o Brasil de uma Parceria Estratégica com a China”. O evento debateu diversos aspectos relacionados à cooperação bilateral e contou com a presença de autoridades, representantes do CEBC e de diversas instituições, economistas, executivos, entre outros.
O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, que esteve presente à abertura da conferência, disse que nos últimos 70 anos após a fundação da Nova China, o país tem registrado êxitos em diversos setores, possibilitando grandes oportunidades à cooperação sino-brasileira.
“A China tem 400 milhões de pessoas de classe média, o que constitui o maior mercado consumidor do mundo. O governo chinês reduzirá ainda mais as tarifas alfandegárias, eliminará as barreiras não tarifárias e diminuirá praticamente os custos institucionais das importações”, afirmou Wanming.
Na palestra de abertura, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, fez um discurso no qual expressou o desejo de aprofundar o comércio bilateral e a cooperação de investimento, além de explorar novas áreas de parceria. Mourão também destacou o avanço do agronegócio brasileiro.
“O agronegócio é um fruto do desenvolvimento científico e a China reconhece nosso valor. Nossos agricultores trabalham hoje com um sistema de plantio direto, agricultura de precisão, técnicas modernas de irrigação, eficiência na gestão e no processamento de informações, além da biotecnologia. O Brasil possui ainda muitas empresas de base tecnológica com grande capacidade de crescimento e diversificação”.
Parcerias no agro
O presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga, participou como palestrante do painel “Agronegócio: Oportunidades no Mercado Chinês”. Na ocasião, ele traçou um painel da evolução do agro no País nos últimos 50 anos, afirmou que o Brasil é o maior parceiro da China na América Latina e que “a tendência é que essa cooperação seja ainda mais ampliada”.
“O complexo soja corresponde a 36,38% das exportações para o país asiático”, disse Alvarenga, acrescentando que “há um evidente interesse em promover a diversificação dos produtos comercializados para a China, a fim de otimizar a pauta comercial”.
Para o presidente da SNA, “o crescimento das exportações brasileiras para a China foi resultado não somente do aumento da demanda do país asiático e da elevação de preços de algumas commodities, como também da retaliação chinesa aos EUA”.
“Isso pode contribuir para a exportação de produtos com maior valor agregado”, ressaltou Alvarenga, complementando que a pauta de exportações para a China deverá ser estendida aos demais produtos nacionais, inclusive a carne bovina.
“Nos últimos quatro anos, a importação chinesa da carne bovina brasileira aumentou de forma significativa e já representa cerca de um terço da exportação anual do Brasil”, destacou Alvarenga, lembrando ainda que “a China também é um mercado importante e um parceiro grande quando o assunto é etanol”. Outras oportunidades nos mercados de lácteos, café e frutas foram ressaltadas pelo presidente da SNA.
Além disso, Alvarenga falou sobre a expectativa de aumento dos investimentos chineses na produção, processamento, infraestrutura, logística e tecnologia no setor agropecuário. “O Brasil precisa adotar políticas facilitadoras ao investimento e cooperação”, enfatizou.
Também fizeram parte do painel sobre agronegócio o embaixador Orlando Leite Ribeiro, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura , e Marcos Jank, coordenador do Centro de Agronegócio Global do Insper. Em sua palestra, Jank disse que “o Brasil é um grande produtor e a China, grande consumidor. Temos mercado aberto em soja, algodão e celulose, mas no caso da carne é difícil. Ainda há protecionismo”.
Novos acordos
Em almoço oferecido por ocasião da conferência, Marcos Troyjo, secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, afirmou que o estabelecimento de parcerias é fundamental para que o Brasil possa crescer em termos comerciais e tecnológicos.
“Estamos fazendo nossa lição de casa não apenas em termos de simplificação tributária, melhoria do ambiente de negócios, mas também com novos acordos comerciais que vão permitir ao Brasil o acesso às melhores tecnologias do mundo. Esse casamento entre oportunidades externas e uma melhoria interna vai acabar resultando não apenas na expansão horizontal que o Brasil oferece a China, mas também na sua maior agregação de valor”, disse o secretário.
Ainda durante o encontro também foram debatidas questões envolvendo investimentos em ferrovias, portos e aeroportos, gás e novas fontes de energia, como a eólica.
Investimentos
Outro destaque foi o lançamento de um estudo sobre os investimentos chineses no Brasil em 2018, produzido pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
O levantamento mostra que entre 2007 e 2018 o volume investido pelos chineses no Brasil foi de US$ 60 bilhões, com queda de 66% no ano passado, ficando na casa dos US$ 3 bilhões, mesmo com recorde de 30 projetos confirmados.
Segundo o estudo, entre os motivos para esta queda estão fatores como a troca de governo no Brasil com eleições conturbadas, privatizações, leilões e concessões, aliados à instabilidade econômica.
SNA com informações da China Radio Internacional e Agrolink