Uma análise da MB Agro, braço da consultoria MB Associados, obtida pelo Valor, sustenta que o estudo publicado na revista Science sugerindo que grãos e carnes brasileiros exportados à União Europeia podem ter saído de áreas de desmatamento ilegal no Brasil faz uso de “hipóteses simplificadoras”.
Para os economistas da MB Agro, o artigo científico resvala no campo político e traz dados imprecisos, questionáveis ou superestimados. Na avaliação da consultoria, a metodologia utilizada pelos cientistas pode colocar muitas propriedades rurais na ilegalidade sem efetivamente estarem.
A principal crítica é quanto ao uso das informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR) como pilar para a análise geral da adequação às leis ambientais do País. Segundo a MB Agro, o Código Florestal permite aos produtores fazer a compensação da falta de Reserva Legal das propriedades comprando ou alugando áreas no mesmo bioma.
“Considerar somente o CAR como indicativo na análise geral leva à conclusão errônea. O produtor pode ter comprado outra área de reserva não necessariamente contígua à área que o estudo considera e, dessa maneira, estar em conformidade com a legislação ambiental”, cita um trecho do documento.
“A metodologia utilizada pelos pesquisadores faz uso de hipóteses simplificadoras, nem sempre adequadamente ressaltadas, o que o torna um tanto quanto questionável devido à falta de precisão nos dados”, acrescentou a consultoria.
Para a MB Agro, propriedades “tidas como irregulares pelo CAR” podem ter aderido ao Programa de Regularização Ambiental (PRA) que concede 20 anos para adequação. “Fica evidente que, ao se utilizar o CAR como fonte de referência para avaliar se a propriedade está em conformidade ambiental, está se pressupondo que todas essas áreas não estão passando por um processo de regularização”, argumentou a consultoria, na análise.
Desqualificação
No entendimento da consultoria, o estudo desqualifica a produção e exportação de propriedades inteiras quando apenas parte delas “podem” estar em ilegalidade.
“Pode sim haver áreas que estejam produzindo nessa categoria, mas também pode haver áreas em conformidade legal e desqualificar a produção total da propriedade, como é feito no estudo, não faz sentido. Isso gera números superestimados”, diz a análise produzida para clientes da MB Agro e elaborada por Alexandre Mendonça de Barros, Ana Laura Menegatti, Francisco Queiroz, José Carlos Hausknecht e Renata Marconato.
No governo, o artigo da Science e seus impactos seguem em avaliação. Uma fonte graduada de Brasília, no entanto, minimizou a gravidade do artigo.
“Ele mostra algo que sabíamos, que uma pequena parcela é responsável pela ilegalidade. O que precisamos conseguir é solucionar essa minoria”. Ontem, em live promovida pelo “Jota”, a ministra Tereza Cristina afirmou que não há muito o que rebater no estudo divulgado pela revista Science.
“Não temos muito que rebater. Me deixou muito feliz. Temos de reconhecer que em um País de dimensão continental mais de 90% dos produtores está agindo conforme a legislação mais rígida do mundo”, disse ela. “Precisamos parar de falar só das coisas que saem de maneira errada no país, que é minoria. Temos de falar da maioria e corrigir o rumo das coisas da minoria”.
Fonte: Valor Econômico
Equipe SNA