Pelo menos um quarto das áreas de produção de soja e milho do Brasil estão sob um severo estresse hídrico, segundo o Commodity Weather Group. O instituto internacional de meteorologia dá mais ênfase, inclusive, à situação de seca no Sul do País. As chuvas continuam chegando às áreas produtoras de forma ainda muito irregular, com baixos volumes e mal distribuídas e ameaçando o potencial produtivo das lavouras em regiões importantes.
“Algumas pancadas chegaram a uma área maior do Centro-Oeste e centro-sul do Brasil, porém, novamente vão se limitando mais ao Nordeste do País”, informou o boletim diário do CWG. Assim, as expectativas são de que 40% das áreas de soja e milho do Brasil sofram com déficits de umidade de longo prazo. Além das chuvas, o relatório desta quinta-feira também traz um alerta para as altas temperaturas.
E as previsões do CWG para os próximos 16 a 30 dias continuam sinalizando chuvas bem abaixo da média para o centro-sul, com destaque para quase todo o Estado do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Os olhos todos do mundo estão voltados para a nova safra de soja da América do Sul, em especial do Brasil, que é o maior produtor e exportador da oleaginosa. São cerca de 65% de uma safra já comercializada, mas que registra atraso, muita incerteza e irregularidade nas principais regiões produtoras.
Monitorando o desenvolvimento da safra 2020/21 sul-americana e mais o comportamento da demanda e o atual nível de estoques justos em todo mundo, os contratos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago já acumulam no ano uma valorização superior a 20% e têm registrado suas máximas em seis anos.
Enquanto a oferta continua a ser ameaçada, a demanda é intensa e dá sinais de crescimento muito expressivos. Estimativas do Conselho de Exportação de Soja dos EUA dão conta de um aumento das importações da China de 3% a 4% por ano pelos próximos dez anos. E as atuais compras da nação asiática já são estimadas na casa das 100 milhões de toneladas ou, em algumas análises, superando este volume.
O aumento das compras pelos chineses têm se dado pela necessidade de recomposição dos estoques do país (o que se estende, inclusive, para outros produtos onde a demanda também está maior este ano como milho e trigo), pela recomposição do plantel de suínos com o controle mais efetivo da Peste Suína Africana (a retenção das matrizes chega a 40 milhões de cabeças contra 30 milhões do mesmo período do ano passado), e também pelo yuan mais forte em relação ao dólar, o que torna a condição de importação ainda mais favorável para a China.
Condições de clima
Segundo o consultor Ênio Fernandes, da Terra Agronegócios, são as condições de clima na América do Sul a peça-chave para ditar o ritmo das compras e vendas de soja a partir deste momento.
Afinal, é preciso que a nova safra esteja consolidada, ou ao menos em estágios mais avançados de desenvolvimento, para estimular os sojicultores do Brasil, da Argentina e do Paraguai a voltar às vendas, bem como definir a necessidade dos demandadores serem mais ou menos agressivos em suas aquisições.
“Conforme o clima for se movimentando, o comprador vai sendo mais ou menos voraz, e o produtores voltam ou não às vendas”, disse Fernandes.
Michael Cordonnier, PhD em Agronomia e especialista em agricultura da América do Sul lembra, no entanto, que apesar das condições climáticas adversas, a produtividade brasileira da soja ainda está para ser definida e “pode ser boa se o clima cooperar no futuro”.
Assim, o especialista alerta para o período seco entre dezembro e janeiro, especialmente no sul do Brasil, quando a safra estará em fase de enchimento de grãos.
Colheita tardia
“Embora a produtividade da soja brasileira ainda não tenha sido determinada, há duas coisas sobre a safra de soja brasileira 2020/21 que já sabemos com certeza. A colheita vai começar mais tarde do que o normal e isso vai atrasar o início da exportação”, observou Cordonnier.
“A colheita, provavelmente, não avançará até o final de janeiro ou início de fevereiro. Como resultado, não acredito que haverá vários navios com soja da nova safra deixando o Brasil até cerca de meados de fevereiro, o que será pelo menos duas semanas depois do ano passado”.
Nos Estados Unidos, números divulgados pelo USDA em seu boletim semanal de vendas para exportação mostram que os EUA já comprometeram 51.3 milhões de toneladas de soja de um volume estimado para todo ano comercial, que termina em 31 de agosto de 2021, de 59.88 milhões de toneladas.
Fonte: Notícias Agrícolas
Equipe SNA