Commodities em patamares mais baixos

Sob o peso de ofertas em geral confortáveis em relação às demandas, seis entre oito das principais commodities negociadas pelo Brasil no exterior chegam ao fim deste ano com cotações anuais médias mais baixas que as de 2012 nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão), conforme cálculos fechados pelo Valor Data no dia 26 com base nos contratos futuros de segunda posição de entrega dessas commodities, normalmente os de maior liquidez. As exceções foram cacau e algodão, que registraram modestas recuperações após despencarem no ano passado.

Básicos para a alimentação humana e para a produção de rações – e por isso com maior influência nos índices inflacionários -, os grãos refletem a recomposição das produções nos Hemisférios Sul e Norte. E, diante de demandas ainda contidas sobretudo em países desenvolvidos, confirmam as expectativas e se acomodam em patamares mais baixos.

O começo da retirada dos incentivos monetários nos EUA, anunciado em meados deste mês, tende a valorizar o dólar e a adicionar pressão às commodities. Nada que comprometa significativamente o plantio, tendo em vista que as médias de soja e milho foram recorde em 2012 – a do trigo foi a segunda maior da história -, mas o suficiente para reduzir a conta das importações globais de alimentos e desfalcar menos os bolsos dos consumidores, conforme atestam recentes estimativas da FAO, o braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação.

Carro-chefe do agronegócio brasileiro, a soja é o grão que recua menos entre os três. Mesmo com produções maiores no Brasil, nos EUA e na Argentina, que lideram a oferta mundial, a aquecida demanda da China limita a retração da cotação média da oleaginosa no ano em Chicago a -9,20% e confere a 2013 a segunda maior média anual da história. Mas, mesmo com uma valorização em dezembro (ver tabela acima), o preço médio do quarto trimestre é o menor do ano, sinal de um viés de baixa que deverá continuar a ditar o ritmo no mercado pelo menos no primeiro quadrimestre de 2014, quando emergirão as primeiras estimativas concretas para o plantio nos EUA na próxima safra (2014/15).

“Se não tivermos mesmo um problema climático no Brasil ou Argentina [durante a colheita da safra 2013/14], os preços vão levar um tombo. É possível que, sem surpresas, lá por março ou abril a soja esteja a cerca de US$ 11 por bushel”, diz Alvaro Ancêde, corretor do The Laifa Group, em Illinois. Para ele, a demanda da China também tende a perder força. “Acho que os chineses estão acumulando estoque para compensar possíveis problemas logísticos no Brasil, como aconteceu este ano. Provavelmente, em breve o ritmo de compras vai cair”, afirma.

Sem a mesma “âncora” chinesa, a cotação média do trigo registra a segunda baixa mensal seguida em dezembro e encerra 2013 com uma média anual 9,27% menor que a do ano passado. É a mais baixa desde 2010, mas ainda a quarta maior da história – o que também confirma que a mudança de patamar consolidada na segunda metade da década passada resiste, num raciocínio que também vale para as demais commodities agrícolas que fazem parte do levantamento do Valor Data. A média do quarto trimestre só é maior que a do terceiro, o que sinaliza que o espaço para novos recuos pode estar mais exíguo.

Não é o caso do milho. Nenhum grão sofreu tanto com a quebra da produção nos Estados Unidos no ciclo 2012/13, em razão de uma estiagem devastadora. Mas a retomada naquele país também foi impressionante, o que, em conjunto com o incremento das safras em outros países, o Brasil entre eles, leva a média anual do produto a fechar com uma retração de 18,58% na comparação com 2012, a segunda mais expressiva entre as oito commodities analisadas. É a menor média desde 2010, ainda que seja a terceira maior da história, e o resultado entre outubro e dezembro é o pior entre os quatro trimestres deste ano.

Apesar disso, Vinícius Xavier, consultor da FCStone, acredita que o horizonte é de relativa estabilidade e até uma certa elevação em determinados períodos. “Talvez os preços em Chicago voltem a buscar US$ 5 por bushel”, afirma – em dezembro, a média foi inferior a US$ 4,40. O motivo é que, apesar dos elevados estoques mundiais do grão, há perspectiva de recuo na área plantada nos EUA em 2014/15, até pela provável redução do mandato do etanol no país. Existe, ainda, a possibilidade de que haja algum solavanco climático durante a safra americana, que começará a ser plantada no segundo semestre do ano que vem.

Em Nova York, as cotações de açúcar e café sofreram expressiva erosão em 2013 e chegam ao fim do ano com as menores médias anuais desde 2008 e 2009, respectivamente, em parte graças a grandes produções no Brasil. O suco de laranja se recupera neste segundo semestre – em dezembro o preço médio volta a subir, pelo terceiro mês seguido -, em virtude de menores produções da fruta em São Paulo e na Flórida, mas sua média também é a menor desde 2009, graças a uma demanda global claudicante. Cacau e algodão, mesmo que recuperem parte do tombo de 2012, têm pouco a comemorar. A média anual do primeiro é a segunda menor desde 2007, e a do segundo é a segunda mais baixa desde 2009. Mas o viés é mais positivo.

 

Fonte: Valor Econômico

 

 

 

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