A colheita da safra 2016 do trigo gaúcho começa hoje com uma grande apreensão entre os produtores. O motivo é o excesso do cereal no mercado mundial, proveniente, em grande parte, de países tradicionais em exportação de trigo como a Argentina, que deve colher 14 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul deve colher 2.2 milhões de toneladas, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Depois de enfrentar frustração de safra em 2014 e 2015, o estado deve registrar neste ano uma produção normal, sem grandes volumes, já que a falta de chuva durante o inverno em algumas regiões pode ter reduzido a produtividade, mas não comprometeu a qualidade do trigo.
Segundo o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, existe um bom potencial para o trigo e a expectativa é de um excedente entre 1.2 milhão e 1.5 milhão de toneladas. “É um volume bem considerável para ser exportado a outros Estados, principalmente do Norte e Nordeste, ou mesmo outros países. Vale ressaltar que o Rio Grande do Sul tem uma característica única em termos de Brasil ao ser autossuficiente em trigo, enquanto o País consome o dobro do que produz e precisa importar”, disse.
Pires destaca que, apesar de o trigo ser uma cultura tão importante, com boa produtividade e tendo como ponto forte a qualidade, segundo atestam as áreas técnicas das cooperativas, já existe (mesmo antes de começar a safra) uma dificuldade de vender o produto. Conforme o dirigente, o que preocupa é a fluidez do mercado, e hoje uma cooperativa não pode se dar ao luxo de comprar por um preço e depois o valor cair. “Por isso acredito que as cooperativas terão cautela e irão comercializar dentro do quadro que podem. Muitas estão com um preço que não reflete, por exemplo, a normalidade de uma comercialização e a tendência é de baixa”, afirmou.
A Câmara Setorial Nacional do Trigo está tratando de mecanismos de comercialização com a participação da FecoAgro/RS e das Organizações das Cooperativas gaúchas e do Paraná (Ocepar). Entre as demandas encaminhadas estão principalmente o Prêmio de Equalização Pago ao Produtor (Pepro), que é um programa para subsidiar a diferença entre o preço mínimo e o preço que está sendo praticado no mercado do trigo pão tipo 1 colhido no estado. O excedente poderia ser enviado para os Moinhos do Nordeste, e a questão das Aquisições do Governo Federal (AGF) serve para uma composição do estoque regulador da Conab. “Pode surgir algo no caminho, mas hoje para garantir o preço mínimo, já que a tendência é de uma comercialização abaixo do seu valor, nós propomos ao governo programas de comercialização específicos para as culturas de inverno, para o trigo”, declarou Pires.
Atualmente, o valor de mercado da saca de 60 quilos do cereal está abaixo do preço mínimo definido pelo governo federal, estipulado em R$ 38,65. Conforme o presidente da FecoAgro/RS, a alternativa de uso do trigo para ração, em substituição ao milho, esfriou um pouco. “O que nos resta é brigar por um mercado competitivo, com excedentes, principalmente da Argentina. Esse é o grande desafio para o produtor”, disse.
Fonte: FecoAgro/RS