Alguns produtores de milho em Mato Grosso já colocaram as colheitadeiras nos campos, com cerca de duas semanas de antecipação, visando aproveitar os preços recordes do cereal diante da demanda forte pelo produto escasso.
A estiagem que reduziu a expectativa de safra no maior produtor brasileiro do grão também acelerou o ciclo das lavouras, permitindo que agricultores colham o milho precocemente, ainda que o cereal não esteja idealmente seco.
Registros de colheita, ainda que isolados, foram constatados nesta semana por técnicos participantes da expedição técnica Rally da Safra, acompanhada pela Reuters.
A colheita de milho neste momento vem com umidade acima dos cerca de 14% aceitos por compradores, apesar do tempo mais seco, o que resultaria em descontos nos volumes entregues ou gastos adicionais com equipamentos de secagem, consequentemente reduzindo o valor recebido pelo produtor.
Contudo, as cotações estão tão elevadas que compensam ao agricultor pagar de R$ 2,00 a R$ 3,00 por saca pela secagem e vender o milho colhido antecipadamente, antes da pressão sazonal de safra.
Os preços do cereal se aproximam de R$ 40,00 a saca em alguns municípios do Estado, contra cerca de R$ 15,00/saca no mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA).
“Pelo preço, incentiva um pouco. O preço paga a secagem”, disse o engenheiro agrônomo Fábio Carneiro, da Agroconsult, ao ser questionado sobre o assunto após a Reuters observar na quarta-feira áreas colhidas em Ipiranga do Norte e Tapurah, no médio-norte, região que responde por cerca de 45% do milho produzido no Estado.
A área também registra forte demanda por milho, uma vez que há grandes unidades produtoras de aves e suínos.
O município vizinho de Lucas do Rio Verde, por exemplo, tem uma grande fábrica da BRF, a maior exportadora global de frangos, que enfrenta custos mais altos diante de uma escassez, após o Brasil ter realizado fortes exportações do cereal no início do ano.
Úmido e caro
Apesar de um início prematuro, a movimentação não significa que a colheita será antecipada de forma geral no Estado, porque os produtores já comercializaram antecipadamente quase dois terços do que esperavam colher antes das perdas pela estiagem de abril, lembrou Carneiro.
“Muita gente está vendida (com vendas já realizadas a preços mais baixos que os atuais), e não faria muito sentido antecipar a colheita e ter que pagar pela secagem dos grãos”, disse o técnico da Agroconsult, consultoria que organiza o Rally.
A estratégia só faria sentido para aquele produtor que tem o produto disponível para comercializar e poderá aproveitar as ótimas cotações atuais, antes da pressão sazonal da colheita, que tende a ser menos intensa este ano porque o mercado está muito demandante.
Os preços elevados e as vendas antecipadas feitas a valores menores têm gerado temores nos compradores sobre a necessidade de revisão de contratos ou mesmo descumprimento dos mesmos, já que os produtores poderiam fazer maiores lucros vendendo agora no mercado à vista.
Milho para 2 dias
O agrônomo Eder Magi, da Impar Consultoria, também integrante do Rally, relatou que um produtor de Sorriso, principal município produtor de grãos do Brasil, disse ter comercializado milho a R$ 32,00 a saca, com o produto a ser retirado na fazenda após colheita prevista para a semana que vem.
“Esse preço é o dobro do normal”, afirmou Magi, observando que a seca antecipou o ciclo da safra, mas que tal movimento tem muito a ver com o preço.
Também nesta semana o Rally entrevistou um produtor de Campo Verde, a leste de Cuiabá, que antecipou a colheita para atender uma granja próxima que só tinha milho para ração para mais dois dias de consumo. A colheita nesse local foi realizada com 30% de umidade, uma vez que o grão não estava pronto.
A expectativa de integrantes do setor produtivo é de que os preços do cereal até poderão recuar com a entrada da colheita da segunda safra, que deverá se intensificar em junho, mas eles avaliam que o quarto trimestre poderá ver novamente uma firmeza das cotações, em período em que as exportações brasileiras tradicionalmente são mais fortes.
Fonte: Reuters