Com preços altos, cenário é positivo para carne bovina, avaliam especialistas

Da direita para esquerda: Giovana Araújo (Banco Itaú); Gustavo Junqueira (SRB); Sérgio de Zen (Cepea/USP); Felipe Miranda, economista e autor do livro “O fim do Brasil”); Alcides Torres (Scot Consultoria);  o economista Alexandre Mendonça de Barros, e Decio Zylbersztajn (Pensa/USP)
Da direita para esquerda: Giovana Araújo (Banco Itaú); Gustavo Junqueira (SRB); Sérgio de Zen (Cepea/USP); Felipe Miranda, economista e autor do livro “O fim do Brasil”); Alcides Torres (Scot Consultoria); o economista Alexandre Mendonça de Barros, e Decio Zylbersztajn (Pensa/USP). Fotos: Rodolfo Gorjon/Bela Magrela

Apesar do cenário de controle de gastos públicos e baixo crescimento da economia brasileira, analistas do agronegócio acreditam que os preços do bezerro e do boi gordo devem se manter firmes no próximo ano. Segundo o economista Alexandre Mendonça de Barros, em 2014 o Brasil registrou o segundo ano com o maior abate de bovinos.

“O grande beneficiado do processo foi o pecuarista. As margens estão muito apertadas no meio. Os cortes nobres têm sustentado o preço. Se abrirmos mercados para esse tipo de carne, a formação de preços será diferente”, afirma Mendonça, que participou do Painel “Macroeconomia e seus reflexos na pecuária”, ao lado de outros analistas. O evento foi organizado pela Scot Consultoria, em São Paulo.

A maioria vislumbra um cenário positivo para a carne bovina, mas faz algumas ressalvas. Na opinião de Giovana Araújo, analista do Banco Itaú, a inflação ainda é alta e o que atrapalha o crescimento é o poder de compra do consumidor.

“Estamos vendo o impacto da inflação sobre o consumo de proteínas”, afirma ela, apontando a substituição entre os tipos de carne ou entre proteínas. “Também estamos visualizando um salto quântico, com abertura para produtos de maior valor agregado”, completa.

“Depois de um longo período de valorização das commodities, temos de considerar o fator China, país que está em leve desaceleração, o que mostra o cenário de momento menos acelerado”, avalia Decio Zylbersztajn, do Pensa (Universidade de São Paulo). No caso da pecuária, ele destaca que 70% a 75% do boi brasileiro vem do pasto, o que pode esticar a venda. “Você entra com um boi e sai com um mundo de partes, todas com valores diferentes.”

BOI GORDO

Em um cenário de bezerro valorizado acima da arroba do boi e queda significativa de margens do varejo, os palestrantes do painel “O Mercado do boi gordo: quais as melhores cartadas” apontam prejuízo na atividade de engorda, além da redução na oferta de animais para o abate, por causa dos efeitos da estiagem no Centro-Sul do País sobre a pecuária.

“Não temos certeza sobre as perdas na produção de bezerro e na recria, mas registramos queda na qualidade e no peso médio do bezerro”, salienta Sérgio De Zen, professor da Escola Superior de Agricultura (Esalq) e pesquisador do Cento de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

“As carcaças de boi gordo abatido em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná, por exemplo, perderam duas arrobas, em média, o que significa um mês de produção”, calcula De Zen.

Outros analistas também acreditam que o cenário de escassez de oferta de boi gordo deve se prolongar até 2015, o que denota preços firmes no mercado físico. “No próximo ano ainda teremos espaço para maior valorização da arroba. O crescimento significativo da oferta só deverá ocorrer em 2016”, prevê Otávio Celidonio, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). “O estoque do rebanho mato-grossense diminuiu e a produção aumentou.”

“Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o fator inflacionário do preço do bezerro é quase uma Helicorverpa (praga que continua devastando lavouras no País), ou seja, é quase não seletivo”, compara o pecuarista André Bartocci, da Fazenda Nossa Senhora das Graças, Caarapó (MS).

Na avaliação de Rodrigo Albuquerque, da Fazenda Buritis e Marca, em Jussara (GO), o cenário é de otimismo, embora ainda exista preocupação. “Temos a internalização de um bezerro de alto valor agregado sem a certeza de que ele vai gerar um valor lá na frente”, ressalta ele, informando ainda que há pessoas querendo fazer o caminho de volta para a pecuária.

“Pela primeira vez registramos redução na área de cana em São Paulo”, informa Alcides Torres, da Scot Consultoria, mediador dos debates. Segundo De Zen, professor da Esalq, a valorização da arroba do boi e o cenário negativo para o setor sucroalcooleiro atraem a atenção dos produtores para a pecuária bovina. “Em São Paulo, muitas áreas de cana-de-açúcar voltam a ser utilizadas para a produção de boi”, reforça De Zen.

 

Da esquerda para a direita:  Fábio Dias (Agropecuária Santa Bárbara); André Bartocci (Fazenda Nossa Senhora das Graças); Gustavo Aguiar e Alcides Torres (Scot Consultoria); Sérgio de Zen (Cepea/USP); Rodrigo Albuquerque (Fazenda Burutis e Marca) e Otávio Celidônio (Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária – IMEA)
Da esquerda para a direita: Fábio Dias (Agropecuária Santa Bárbara); André Bartocci (Fazenda Nossa Senhora das Graças); Gustavo Aguiar e Alcides Torres (Scot Consultoria); Sérgio de Zen (Cepea/USP); Rodrigo Albuquerque (Fazenda Burutis e Marca) e Otávio Celidônio (Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária – IMEA)

“Sair da cana em baixa e entrar no boi em alta significa vida dura para os paulistas”, avalia Fábio Dias, da Agropecuária Santa Bárbara. Segundo ele, embora a escassez de carne bovina para abate seja patente, o cenário merece cuidado. “Só temos o dólar a nosso favor”, alerta. “Precisamos pensar em médio e longo prazo”, alerta Gustavo Aguiar, da Scot Consultoria.

“A pecuária parece ser a porta sempre aberta, mas daqui para frente só vai entrar quem for profissional”, avisa o pecuarista André Bartocci, da Fazenda Nossa Senhora das Graças.

Na visão de Albuquerque, da Fazenda Buritis e Marca, o desafio do setor é como ganhar escala. “Não tem receita: se não tiver escala, não tem lucro”, afirma ele, ressaltando que o setor tem de discutir a sucessão. “É preciso descobrir como fazer esse salto e administrar o risco dessa transição. Temos de transformar um negócio produtivo em um negócio financeiro, com gestão e governança.”

Para finalizar, De Zen diz que vender proteína animal é o melhor negócio do mundo. É uma briga e a do boi é a mais cara, por isso a mais visada.”

NICHOS DE MERCADO

O painel “Qualidade da carne, nichos de mercado e oportunidades” debateu como a crise econômica afeta o mercado de carnes especiais. “O consumidor não quer gordura, ele quer carne macia, que satisfaça seus anseios”, afirma Sérgio Pflanzer, da Universidade de Campinas (Unicamp).

“A gordura é um ingrediente importante para dar a maciez que o cliente quer, mas não quer ver”, comenta Gustavo Faria, do McDonald’s. Na opinião de Roberto Barcellos, do Beef & Veal, o consumidor está aberto a novas experiências com a carne, no entanto ele aponta a falta de padronização como o maior defeito dos grandes projetos de carne. “O mercado está vendendo muita carne classificada como marca de animais bastante distinta.”

 

A partir da esquerda: Eduardo Fornari (Vermelho Grill); Gustavo Faria (McDonald's); Lucas Ferriani (Minerva Foods); Alcides Torres (Scot Consultoria); Marcelo Shimbo, da Prime Cater Roberto Barcellos, do Beef & Veal, Sérgio Pflanzer, da Universidade de Campinas (Unicamp)
Da esquerda para direita: Eduardo Fornari (Vermelho Grill); Gustavo Faria (McDonald’s); Lucas Ferriani (Minerva Foods); Alcides Torres (Scot Consultoria); Marcelo Shimbo, da Prime Cater Roberto Barcellos, do Beef & Veal, Sérgio Pflanzer, da Universidade de Campinas (Unicamp)

Na mesma linha de pensamento, Marcelo Shimbo, da Prime Cater, comenta: “No Brasil, você não tem marcas, tem selos colados na embalagem”. De acordo com Barcelos, padrão, regularidade e volume são fundamentais para se abater animais 52 semanas por ano.

“O uso do animal inteiro (sem castrar) é importante para aumentar o nível de produtividade, porém, é impossível associar carne de qualidade a um animal inteiro”, destaca.

 

Por equipe SNA/SP

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