O governo federal criou, no ano passado, uma linha de crédito para minimizar a defasagem do armazenamento de grãos no País. No entanto, produtores de Mato Grosso contam que conseguir o crédito para construir os armazéns não é tão simples e leva tempo.
O Estado tem a capacidade estática para armazenar em torno de 30 milhões de toneladas de acordo com a companhia nacional de abastecimento. Só a soma das produções de soja e milho safrinha totalizam 42 milhões de toneladas na tentativa de reduzir este déficit.
Em um ano, o Banco do Brasil aprovou o financiamento de 177 unidades armazenadoras em Mato Grosso. Já foram liberados R$ 493 milhões e R$ 107 milhões estão na esteira de produção.
O agricultor Fernando Ferri, de Campo Verde, diz que o armazém em fase final de construção é uma conquista da família toda, que produz há 32 anos no município. Em março deste ano, a família de produtores teve que deixar os grãos colhidos em uma lona, à mercê da chuva e ataque dos animais.
Foram 15 dias chovendo sem poderem entrar na lavoura e ao primeiro sinal de Sol, carregaram os produtos para levar para um armazém, porém os caminhões enfrentaram 24 horas de fila. “Você vê toda a sua produção se perdendo e não tem onde guardar.”
Mas a chegada do armazém na propriedade vai mudar esse cenário. “Sabemos que nessa safra temos onde guardar nosso produto, podemos colher na hora certa, temos aonde armazenar para vender num melhor momento, num melhor preço”, destaca o produtor.
Avaliado em R$ 3 milhões, o esperado armazém teve 26% de seu valor aplicado com recursos próprios e o restante veio do programa de construção do governo. O sonho está quase realizado, mas não foi fácil chegar até aqui. Foram quatro meses de burocracia e cálculos para o projeto ser aprovado por um banco particular. Agora o agricultor tem sete anos para pagar a dívida, mas acredita que valeu a pena.
“Não teríamos condições de construir este armazém com recursos próprios. A linha de crédito facilitou e está aí para ajudar os produtores. Agora depende da determinação de cada um em atingir o seu sonho, a sua meta de fazer um investimento dessa magnitude na propriedade”, diz Ferri.
Já o produtor Milton Garbúgio, também de Campo Verde, recebeu todas as parcelas do recurso sem atraso. O único transtorno foi na liberação que demorou seis meses, de acordo com o andamento do cronograma das obras. Ele também considera o financiamento um bom negócio. Em seu caso, o tempo para pagamento de 70% dos R$ 3 milhões será em 15 anos.
Ele conta que, como a propriedade está a uma distância entre 40 km e 50 km dos armazéns da região, na época de colheita sempre tinha perda de produção de colheitadeira, sentiam necessidade de ter mais caminhões disponíveis e o frete às vezes subia no meio da colheita, quando mais se precisa de transporte. “Você tinha que ter mais máquinas para atender às vezes esse período de chuva e falta caminhão. Dá fila nos armazén, quando eu vou colher, todo mundo está colhendo também”, diz.
Alguns associados de uma cooperativa também tocam o projeto de um novo armazém orçado em mais de R$ 20 milhões com capacidade estática de 300 mil sacas. Pelo tamanho do investimento, a proposta é analisada diretamente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e foram mais de 100 projetos gráficos, licenças e certidões para montar a proposta.
“Estamos falando da construção de uma casa de máquina que está projetada para ser dois fluxos de beneficiamento, onde passaria com limpeza, secagem, todo o processo de grãos, seriam dois fluxos e 122 toneladas por hora, enquanto que numa propriedade particular dos nossos cooperados, trabalham com 90, 60, com dimensões bem menores”, afirma o gerente da cooperativa, Cesar Perine.
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Segundo ele, foi aproximadamente um ano de trabalho burocrático da documentação, que é uma parte necessária para poder compor o projeto de financiamento que vai para a instituição financeira. O terreno para a construção está comprado e legalizado, mas a aprovação do recurso ainda não saiu. “É muito provável que nós vamos conseguir armazenar só daqui mais uma safra que seria para a safra 15/16, contrário do objetivo que era para essa safra 14/15, então seguramente tem uma safra de atraso”, comenta.
Sem a estrutura pronta, o grupo terá que arcar com todos os custos de mercado de entregar a produção, pagar beneficiamento e armazenagem.
Apesar de muitos produtores considerarem longo o tempo para a aprovação, o gerente de agronegócio do Banco do Brasil, Brasiliano Borges, explica que as exigências seguem os critérios normais do mercado. Passa-se pela questão ambiental, mas em Mato Grosso são dispensadas as licenças prévia, de instalação e de operação. Basta que o produtor rural vá ao site da Sema e preencha o formulário adequado pedindo essa autorização, ou seja, ele supre essa parte ambiental.
“É bom lembrar para os produtores que estão na região do bioma amazônico que tem uma exigência do Banco Central, têm que ter Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR) vigente, Licença Ambiental Única (LAU) da propriedade ou ainda um protocolo também dessa licença”, esclarece Borges.
Fonte: G1