Uma safra histórica de soja em 2017, lucrativa, com produtividade recorde e tecnologias cada vez melhores à disposição dos agricultores, são estímulo para um crescimento mais expressivo na área plantada da principal cultura do Brasil na próxima temporada (2017/18), avaliaram na quinta-feira (30) representantes de empresas e analistas do setor.
Agricultores brasileiros podem elevar a área plantada com soja para mais de 35 milhões de hectares em 2017/18 – um crescimento de mais de 4% em relação a 2016/17, quando o ritmo de aumento de área perdeu força, previu esta semana o diretor da Agroconsult, André Pessôa, ao anunciar uma produção recorde de 113.3 milhões de toneladas de soja. Os dos foram coletados a campo pela expedição técnica Rally da Safra, que percorreu lavouras do país em cerca de 80 mil quilômetros.
Questionado sobre as perspectivas para o próximo plantio, que começa em setembro, Pessôa afirmou que há a possibilidade de aumento em torno de 1.5 milhão de hectares, em comparação a cerca de 500 mil hectares de avanço na temporada atual, dependendo de como for finalizada a comercialização da safra.
Com a economia do país em recessão, agricultores do Brasil reduziram o ritmo de crescimento do plantio em 2016/17. Mas agora, beneficiados principalmente por chuvas favoráveis, o que não ocorreu na temporada anterior, estão obtendo produtividades recordes em diversos dos mais importantes estados produtores, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.
O resultado da safra nacional 2016/17 representa um aumento de 17,6% em relação ao volume colhido em 2015/16, de 96.3 milhões de toneladas, quando o clima não ajudou, causando perdas em diversos estados, disse a consultoria.
Na avaliação do Rally da Safra, organizado pela Agroconsult, a produtividade média da safra de soja do Brasil ficou em 55,8 sacas por hectare em 2016/17, contra 48,3 sacas por hectare em 2015/16.
Neste cenário, a safra total brasileira de grãos deverá saltar para 236 milhões de toneladas em 2016/17, contra 189 milhões em 2015/16, com o país contando ainda com uma recuperação da safra de inverno de milho, que está em desenvolvimento e é projetada pela Agroconsult em cerca de 65 milhões de toneladas.
A previsão divulgada após a conclusão do Rally superou os 111 milhões de toneladas da projeção elaborada em meados deste mês pela consultoria, obtida com exclusividade pela Reuters, que acompanhou o Rally da Safra nos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia.
Tecnologia ajuda
Na avaliação do consultor, com o Brasil voltando a ter um clima favorável, as mais novas tecnologias, que incluem sementes transgênicas tolerantes a insetos e herbicidas, puderam finalmente mostrar seu potencial, algo que foi limitado nos períodos de seca.
“A safra 2016/17 marca uma mudança de patamar tecnológico e de produtividade. O Brasil está saindo da faixa de produtividade média de soja de 50 sacas para 60 sacas (por hectare)”, disse Pessôa, ressaltando que uma parcela de produtores, ainda que pequena, já colheu cerca de 100 sacas por hectare em terrenos irrigados. Esses resultados, em termos de produtividade, estão sendo alcançados, salientou o consultor, também porque o setor agrícola tem feito investimentos, beneficiado por resultados econômicos nos últimos anos, apesar em ambiente recessivo no país.
“A tecnologia se paga com a melhoria de performance continuada. Você encontra as empresas seguindo no investimento, o sistema financeiro apoiando com crédito…”, afirmou Pessôa, ressaltando que o agronegócio brasileiro é o que mais cresceu em produtividade nos últimos 40 anos, com uma taxa de 3% ao ano há três décadas.
“O produtor teve um ano que colheu bem, então ele tem novos motivos para investimentos. Essa boa colheita restaura a condição financeira do produtor e abre portas para um novo ciclo de investimentos”, disse o diretor de estratégia de soja da Bayer no Brasil, Eduardo Mazzieri, que atua em uma das principais empresas do setor de insumos.
Se de um lado a situação está favorável para investimentos em defensivos e sementes, de outro o produtor encontra um bom cenário para adubar suas lavouras – condição primordial para aumentos de produtividade.
O diretor de comercialização da Yara, Roberto Carlos Oliveira afirmou, também durante o evento para a apresentação dos dados do Rally da Safra, que a relação de troca entre adubos e sacas de soja tem sido a melhor da história nos últimos seis meses, com a cotação da oleaginosa mantendo-se em bom patamar e com queda nos preços dos fertilizantes.
Oliveira revelou que atualmente a relação de troca está entre 18 e 20 sacas de soja por uma tonelada de fertilizante, mas chegou recentemente a 16 sacas, contra a média histórica de 20 a 22 sacas. “Isso faz com que o produtor antecipe a comercialização e aumente o nível de tecnologia na safra”, afirmou ele, destacando que neste cenário o produtor precisa investir uma fatia menor da sua produção para fazer os investimentos.
Citando dados de analistas, Oliveira disse esperar que as entregas de fertilizantes ao consumidor final atinjam novo recorde em 2017, em cerca de 35 milhões de toneladas, com aumento de um milhão de toneladas em relação a 2016.
Fonte: Reuters