Cofco ratifica seu ambicioso plano de expansão

A unidade internacional da chinesa Cofco vem dando sequência a seus planos de se tornar uma empresa mundial de agronegócios capaz de rivalizar com os grandes nomes do setor. Isso ocorre um ano após a descoberta de um buraco negro contábil nas operações da estatal e da saída de um importante executivo, que deixaram a Cofco sob uma sombra de dúvidas.

Em entrevista exclusiva ao Financial Times, Jingtao “Johnny” Chi, executivo-chefe da Cofco International, previu que 2018 vai ser um ano de crescimento e desenvolvimento para a empresa, que enfrentou dificuldades para digerir os US$ 4 bilhões em aquisições feitas por sua controladora.

Chi, que foi indicado ao cargo atual em janeiro, também disse que nos próximos cinco anos a Cofco International (CIL) vai tentar dobrar o volume de produtos agrícolas que compra diretamente dos fornecedores, e que sua controladora continua com planos de fazer a oferta pública inicial de ações (IPO) da divisão.

Seus comentários indicam que Pequim não desistiu da meta de criar uma concorrente para fazer frente a nomes como Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company, as tradings de commodities agrícolas conhecidas como “ABCD”, que dominam o mercado mundial, há alguns anos juntamente com a Glencore.

“Queremos ser uma trading internacional como as ABCDs […] não apenas uma plataforma de compras para a Cofco Corporation ou para a China” disse o executivo em seu escritório, em Genebra.

A Cofco Corporation, um amplo conglomerado com 145.000 funcionários e faturamento anual de quase US$ 70 bilhões, gastou bilhões de dólares desde 2014 para tentar transformar a CIL numa empresa de agronegócios de relevância mundial.

Em etapas, adquiriu a Nidera, comercializadora holandesa de grãos, e a Noble Agri, braço de commodities agrícolas do grupo Noble. Os negócios lhe deram acesso a mercados de grãos, oleaginosas e açúcar em regiões em expansão no Brasil e na Argentina, assim como na Europa e na Austrália.

A onda de compras, no entanto, também trouxe problemas, incluindo um escândalo de US$ 200 milhões com negócios não autorizados feitos por um operador na Nidera e um buraco negro contábil de US$ 150 milhões no Brasil.

Esses problemas foram agravados pelas duras condições do mercado, o excesso mundial no mercado de grãos espremeu as margens de lucro e derrubou os preços, e pela renúncia de um prestigiado executivo arrebatado da ADM para comandar as operações.

Depois de passar somente 18 meses no cargo, Matt Jansen renunciou em janeiro, frustrado pela falta de apoio a seus planos de expansão. Sua saída trouxe temores de uma mudança significativa de estratégia, tendo em vista que seu substituto, Chi, era um veterano da Cofco que passou grande parte da carreira na área de recursos humanos, e não na comercialização.

Com a ajuda de um tradutor, Chi disse que a ambição de construir uma empresa mundial do agronegócio nunca desapareceu, mas não podia ser concretizada até que Nidera e Noble Agri, ou Cofco Agri, como foi renomeada, estivessem totalmente integradas.

Em razão de uma cláusula no acordo de acionistas, os fundadores da Nidera ainda comandaram os negócios até fevereiro, quando a Cofco completou a compra. Isso levou a situações em que a Nidera frequentemente concorria por operações com a Noble Agri, apesar de serem do mesmo grupo.

Chi admite que a mudança na gerência neste ano levou à saída de muitos operadores experientes. Essas lacunas agora foram preenchidas e a Cofco International, que vai registrar faturamento recorde em torno a US$ 37 bilhões neste ano, está se preparando para “um ritmo rápido de crescimento”. “Apesar do cenário desafiador para o setor, nossas operações estão tendo desempenhos lucrativos em 2017”.

O executivo afirmou que não foram encontrados novos problemas na Nidera e estimou que a sua integração operacional à Cofco Agri será completada ainda em 2017, quando os 14.000 funcionários da Cofco International estarão unidos sob o lema: “Uma Equipe, Uma Voz, Uma Cofco, Um Sonho”. “A partir do próximo ano, vamos usar apenas a Cofco International para comandar nossos negócios ao redor do mundo”, disse Chi.

Até 2022, Chi quer que a CIL tenha dobrado o volume de commodities que compra diretamente dos agricultores, para 60 milhões de toneladas. Em termos de comparação, a unidade deverá negociar 110 milhões de toneladas de commodities neste ano, sendo que quase 75% disso terá sido comprada de operadores internacionais.

Uma forma de atingir essa meta é por meio de aquisições, afirmou Chi, mas também por meio de alianças similares ao acordo assinado com a cooperativa americana de agricultores Growmark, que deu à CIL acesso direto à produção de grãos dos EUA.

Segundo Chi, os donos de cotas de participação na companhia apoiam a estratégia. Um consórcio formado pelo grupo chinês de investimentos em participações Hopu, um braço do Banco Mundial, o banco Standard Chartered, a Temasek, de Cingapura, e a China Investment Corporation, detém 40% do capital da unidade.

Chi, que prevê a continuidade dos baixos preços dos grãos por mais um ou dois anos em razão do excesso oferta no mundo, disse que a Cofco International vai ter o capital aberto em algum momento. O executivo destacou que as recentes indicações de Serge Schoen, ex-executivo-chefe da Louis Dreyfus, e de Pierre Lorinet, ex-diretor de finanças da trading de commodities Trafigura, vão ajudar nesse processo. “Os diretores independentes (do conselho de administração) já desempenharam papel importante para ajudar a CIL a avançar”.

Sobre abertura do capital, Chi disse que ficou “muito claro” que as operações internacionais serão combinadas com algumas atividades domésticas da Cofco para criar uma “entidade” que terá ações listadas por meio de uma oferta pública inicial de ações. “A CIL será a parte internacional da empresa”.

 

Fonte: Financial Times

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