Cofco investe em silos e logística e vê avanço na área de grãos no Brasil

“O domínio da fonte do alimento é o domínio do comércio. Logo, o controle da precificação”. Escrita em português e mandarim na parede da principal sala de reuniões da sede da Cofco International na capital paulista, a frase define com precisão o papel do Brasil na estratégia da maior trading chinesa de produtos agrícolas.

Embora tenha liberdade para atuar como qualquer outra trading, a companhia é responsável por abastecer com grãos e outras commodities boa parte da demanda de sua controladora Cofco, um grupo de alimentos sob o domínio estatal e faturamento de cerca de US$ 70 bilhões por ano. Nessa estratégia, o Brasil é sua principal fonte de soja.

Ainda que cumprir essa missão não tenha sido fácil nas últimas safras, a subsidiária brasileira da trading está renovando suas metas de ampliar os volumes embarcados de 7% a 10% ao ano nos próximos cinco anos. Para isso, pretende investir pelo menos US$ 200 milhões nos próximos dois anos, sobretudo em logística e armazenagem.

É a continuidade de uma estratégia que, nos últimos dois anos e meio, contemplou, por exemplo, aportes de US$ 30 milhões em quatro silos em Mato Grosso. Quando os dois últimos ficarem prontos, a empresa terá agregado 300.000 toneladas à sua capacidade de armazenagem.

“O menor crescimento econômico chinês não afetou matérias-primas e rações. Pelo contrário, o consumo de carne de frango, entre outros itens, aumentou. Mesmo o surto de peste suína, que reduz a demanda de grãos para a produção de rações para esses animais, até agora teve reflexos limitados, já que está havendo uma migração de compras para frango e peixes”, afirmou Valmor Schaffer, presidente da Cofco International no Brasil e principal gestor dos ativos globais da trading, exceto no segmento de “soft commodities” como açúcar e café.

“Apesar disso, é um momento de redução das exportações de soja do Brasil para a China, que aumentou as compras nos EUA nos últimos meses apesar das disputas comerciais entre os dois países. Mas esse momento vai passar e temos que nos preparar para crescer”, disse.

Na safra 2016/17, quando a demanda total da Cofco na China foi de cerca de 22 milhões de toneladas de soja, a subsidiária brasileira da trading Cofco International exportou 8.5 milhões de toneladas de soja (a maior parte do volume) e milho.

Com a greve dos caminhoneiros e o aumento de custos provocado pelo tabelamento dos fretes rodoviários no Brasil, o fluxo permaneceu estável em 2017/18, e para este ciclo 2018/19 a expectativa é de avanço para até 9.2 milhões de toneladas. A soja deverá representar 60% desse volume, e 85% dos embarques da oleaginosa serão destinados a gigante chinesa de alimentos. O restante será vendido para outros clientes, inclusive em outros mercados.

“Mas ainda estamos cautelosos, já que a tabela dos fretes não está resolvida. É um problema para o nosso segmento. Tirou a previsibilidade e prejudicou muito as negociações de compra e venda antecipadas, que estão praticamente paradas”, afirmou Schaffer.

“Também ainda enfrentamos problemas nas estradas para exportar pelo Norte do país, onde temos contrato de escoamento de longo prazo com a Hidrovias do Brasil em Barcarena, no Pará, e movimentamos grandes volumes. O alento, nesse caso, é que a ferrovia (administrada pela Rumo) ganhou eficiência”.

O executivo não revelou detalhes, mas disse que a trading deverá fazer um investimento expressivo na área portuária no Brasil. Mas nessa frente a preocupação diminuiu nos últimos dias, já que os aportes realizados por diferentes empresas melhoraram a estrutura disponível e geraram até ociosidades.

“Houve muito ganho de eficiência, e atualmente há capacidade ociosa em portos como Santos (SP), Paranaguá (SP), São Francisco do Sul (SC) e Tubarão (SC), entre outros. Rio Grande (RS) é uma exceção, mas a situação está bem melhor”, informou Schaffer.

No Brasil, a Cofco já conta com dois terminais portuários em Santos. Um é usado para exportar grãos e o outro, na importação de trigo, sobretudo argentino.  “No país vizinho, disputamos a liderança nas exportações do cereal, e no Brasil, somos o segundo principal fornecedor de trigo importado para os moinhos”, disse o executivo.

No Brasil, a trading também tem um complexo de processamento de soja, que conta com uma fábrica de biodiesel  recentemente ampliada, tendo em vista a tendência de crescimento da demanda, em linha com o aumento da mistura obrigatória do biocombustível no diesel fóssil.

“Somadas às usinas de açúcar e etanol (quatro unidades com cerca de 6.000 funcionários, que não estão sob o guarda-chuva de Schaffer), o Brasil é o país onde temos mais ativos”, afirmou Schaffer.

Segundo o executivo, a estrutura física da trading se espalha atualmente por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, EUA, Romênia, Espanha, Inglaterra, Ucrânia, Cazaquistão, África do Sul, Austrália e Índia. “Portos, armazéns e silos temos em praticamente todos esses países. Além do Brasil, temos fábricas em Argentina, de onde exportamos muito farelo e óleo, África do Sul e Ucrânia”, disse.

“Além dos aportes no Brasil, estamos investindo na Ucrânia e na Romênia, basicamente em portos e armazenagem. Na Ucrânia, a operação é parecida com a do Brasil, mas com foco em trigo, milho, canola e girassol”, afirmou Schaffer.

Também há um esforço de aproximação com a Rússia, mas nesse caso a estratégia tem sido conduzida pela China. Nessa expansão global, ressaltou o executivo, a Cofco também vem mudando sua governança e adotando regras cada vez mais rígidas para garantir a sustentabilidade da matérias-primas que origina e exporta, atendendo às exigências de Pequim.

No Brasil, destacou Schaffer, a cadeia de suprimento tem sido monitorada via satélite com soluções da agtech Agrotools. “Não são tão raros os descredenciamentos de fornecedores, mas em geral, os agricultores têm cumprido as exigências à risca”.

 

Valor Econômico

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