CNA prevê safra recorde e custos de produção elevados em 2022

Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA; João Martins, presidente da instituição, e Lígia Dutra, diretora de Relações Internacionais. Foto: Wenderson Araujo/Trilux

A safra brasileira de grãos em 2022 deverá ser favorecida pelo clima e bater o recorde de 289 milhões de toneladas, 14% a mais que a safra deste ano. No entanto, o custo de produção deve ser um dos mais altos da história devido ao cenário de permanência do aumento dos preços dos insumos.

Em 2021, o produtor rural já conviveu com a alta de mais de 100% nos custos com fertilizantes e defensivos para culturas como soja e milho, e a tendência para o próximo ano é de que este quadro se mantenha.

As estimativas foram divulgadas nesta quarta-feira, durante a entrevista coletiva de final de ano da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para apresentar o balanço de 2021 e as perspectivas para 2022 do setor agropecuário.

Na abertura do evento, o presidente da CNA, João Martins, avaliou que 2021 foi um ano positivo, apesar não ter sido como o setor esperava.

“Tivemos problemas climáticos em quase todas as regiões do País. Isso fez com que tivéssemos uma frustração na safra. Houve alta no preço dos alimentos em todo o mundo, mas não deixamos de produzir e colocar na mesa do brasileiro o essencial que é o alimento”,  disse.

A entidade também prevê que, mesmo com a elevação dos preços e o aumento de produção de algumas culturas, a alta dos custos de produção deve achatar a margem de lucro do produtor rural de maneira geral.

Crédito rural

O diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, também falou do encarecimento dos financiamentos em 2022, por causa dos juros altos.

“A Selic vai continuar alta em 2022, em 11,25%, e isso traz uma preocupação muito grande para o setor, em função principalmente do crédito rural oficial, que tem uma parte indexada na Selic. Então já imaginamos um cenário mais complicado para tomada de crédito para o produtor.”

Neste contexto, de acordo com a CNA, alguns fatores devem determinar o comportamento da safra 2021/2022 no Brasil e precisam ser acompanhados de perto no próximo ano, como a questão da logística, o abastecimento de insumos (boa parte da matéria-prima dos fertilizantes é importada, o que impacta os custos de produção) e o fenômeno climático La Niña.

Desafio dos insumos

“Teremos uma safra maior que a atual em função do clima melhor, mesmo com a possibilidade do La Niña e do risco da menor utilização de fertilizantes pelo produtor”, ressaltou Lucchi. Segundo ele, o insumo vai ser realmente um desafio para o produtor em relação ao custo de produção para a próxima safra.

“Na questão dos fertilizantes não é algo simples. Há problemas de produção em alguns países em função da questão energética, combustíveis, logística internacional e doméstica, taxações, câmbio. Então não é apenas um fator a ser resolvido. No entanto, o risco de faltar fertilizantes para a próxima safra é muito baixo, apesar do preço para os produtores estar muito mais elevado”.

Incertezas

Outro fator que merece atenção em 2022 é o desempenho da economia brasileira. Algumas incertezas no cenário econômico devem influenciar o agro.

Desta forma, a expectativa para o próximo ano, segundo a CNA e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), é de um crescimento em ritmo menor do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, entre 3% e 5% em relação a este ano. Em 2021, o PIB do agronegócio deve fechar o ano com expansão de 9,37% em relação a 2020.

VBP

Para o Valor Bruto da Produção (VBP), que mede o faturamento da atividade “da porteira para dentro” na agricultura e na pecuária, a expectativa da CNA é que a elevação de receita ocorra em menor ritmo frente a anos anteriores.

O VBP deve ser de R$ 1,25 trilhão em 2022, com crescimento de 4,2% em relação a 2021. Culturas como café, milho e trigo devem ter produções maiores, e cana-de-açúcar, café e algodão poderão ter elevação nos preços. Por outro lado, soja, carne bovina e arroz devem sofrer quedas no VBP no próximo ano.

Comércio exterior

No comércio internacional, as exportações do agronegócio bateram recorde no acumulado de 2021 de janeiro a novembro, atingindo o valor de US$ 110,7 bilhões e superando o recorde anterior que era referente a todo o ano de 2018 (US$ 101,2 bilhões). Na comparação com o mesmo período de 2020, o crescimento foi de 18,4%.

“A cada 10 dólares em vendas ao exterior, quatro eram produtos do agro, além de exportarmos para mais de 190 países. Tivemos um aumento em quase todas as cadeias, sendo a soja em grãos o produto mais exportado e a China o principal destino”, destacou Lígia Dutra, diretora de Relações Internacionais da CNA.

Segundo ela, houve abertura de mercado para 69 produtos do agronegócio em 30 países diferentes, como maçãs para Colômbia Honduras e Nicarágua; gergelim para o México, gengibre e sementes para o Egito, bovinos para o Vietnã e carne bovina e material genético bovino para o Iêmen, além de incremento nas vendas para o Chile por meio dos acordos comerciais.

Acordos internacionais

“O Brasil precisa correr atrás dos acordos internacionais porque tem impacto direto nas nossas exportações. Tanto acordos que negociem tarifas quanto questões não tarifárias”, ressaltou Lígia.

“Isso é muito importante, porque se tivermos mais acordos, principalmente na região onde mais crescemos que é o sudeste asiático, podemos trazer um impulso ainda maior para nossas cadeias agropecuárias”.

Produtos e destinos

Neste ano, os principais produtos exportados do agro brasileiro foram soja em grãos, carne bovina in natura, açúcar de cana em bruto, farelo de soja e carne de frango in natura.

China, União Europeia, Estados Unidos, Tailândia e Japão foram os principais destinos. Juntos, esses cinco mercados responderam por 62% dos consumidores que adquiriram os itens brasileiros. O país onde foi registrada a maior expansão das vendas externas em 2021 foi o Irã (71,3%), com receita de US$ 734 milhões.

Monitoramento

Para 2022, a diretoria de Relações Internacionais da CNA pondera que alguns fatores internacionais devem ser monitorados, como o comportamento da Covid-19, os gargalos do transporte marítimo, a oferta global de insumos, a pauta ambiental e o comércio internacional.

Buscando mercados

A entidade também prevê que a China deve se manter como o principal parceiro comercial do Brasil para os produtos do agro.

“Acreditamos que novos mercados são importantes para todo o agro, além de manter próximos nossos parceiros como a China. É importante destacar que as exportações não reduzem a oferta de alimentos no País, mas estimulam a produção e diminuem a volatilidade do mercado interno. Por isso, a CNA continuará sempre trabalhando na pauta de diversificação e buscando novos mercados”.

A Confederação também vai intensificar seus projetos de atuação em busca de mais mercados para os produtos do agro. Entre as iniciativas previstas, estão a abertura de um terceiro escritório no exterior, este em Dubai, e a retomada do programa AgroBrazil, que leva representações estrangeiras para conhecer as principais regiões produtoras no país. A CNA já conta com escritórios em Xangai e Singapura.

Objetivos alcançados

Já em 2021, a entidade destaca alguns objetivos alcançados, como a inscrição de mil empresas no Projeto Agro.BR. A iniciativa é desenvolvida com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) para inserir cada vez mais pequenos e médios produtores no comércio exterior e diversificar a pauta brasileira de exportações de produtos do setor.

O material completo da coletiva está disponível em cnabrasil.org.br/coletiva2021

 

 

Fonte: CNA

Equipe SNA

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