CNA: 2024 será um ano desafiador para o setor agropecuário

O Brasil teve uma safra recorde com a produção de 321 milhões de toneladas e o clima contribuiu para este resultado, com exceção do Rio Grande do Sul. – Imagem de Freepik

Um balanço divulgado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), nesta semana, apontou que apesar de o Brasil ter tido uma safra recorde, a margem de lucro do produtor rural foi menor.

De acordo com o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, pode-se considerar, esta, como uma das safras das mais caras da história. “Em relação ao o custo de produção da soja e do milho 1ª e 2ª safra, por exemplo, viu-se que os fertilizantes tiveram um aumento de 50% a 80% nessas cadeias”.

Na época de comercialização, os produtores não travaram boa parte da produção e houve queda em grande parcela das cadeias com variação de 20% a 30%, não só na agricultura, mas principalmente na pecuária. “Foi um ano caracterizado por margens muito estreitas, tanto na agricultura como para a pecuária”, disse Bruno Lucchi.

Leite e pecuária bovina

Dados da CNA, em parceria com o Senado, sindicatos, federações e universidades reforçam um resultado negativo na cadeia de produção de leite com recuo de 67%. “Boa parte desse resultado deve-se a problemas com importações subsidiadas da Argentina que dificultaram os preços”.

No caso a pecuária de corte, houve aumento de 9,7% nos abates. A produção de carne deve fechar o ano com elevação de 5% a mais que ano passado. “Porém, 2023 foi um ano desafiador para os produtores por fatores que não deveriam ter ocorrido como a questão da insegurança jurídica e do Marco Temporal”.

 

Insegurança jurídica

Um dos gargalos deste ano foi a insegurança jurídica, com ênfase para invasões de propriedades rurais. “Temos dados mostrando que até novembro foram 71 tipos de invasões ao produtor no Brasil. Esse número é muito maior que as 62 invasões ocorridas ao longo dos quatro últimos. É um problema que estava, basicamente, amenizado e que voltou com muito mais força, tirando o sossego de muitos produtores e interferindo em novos investimentos”.

Marco Temporal

Para o diretor técnico da CNA, a questão do Marco Temporal ainda é um tema a ser bastante debatido. “É esperado que nas próximas semanas, sejam derrubados os vetos do projeto de lei que foi já aprovado no Congresso, pelo qual estabelece o marco temporal e traz segurança jurídica para todos, inclusive para os povos indígenas”.

Estimativas para o PIB

A estimativa é que o PIB Brasil encerre o ano com aumento de 14,5%, representando 47% do PIB Brasil. “Não fosse o PIB Agropecuário, a produção brasileira cresceria 1,7%; ou seja, o PIB Brasil teria elevação de apenas 1,7%. Para o próximo ano, esperamos um crescimento tímido de 1,5% no PIB Brasil, e também de 15% no PIB Agropecuário.

O PIB do agronegócio, que envolve as receitas, além da produção, será negativo em, aproximadamente, 1% este ano. “Para a próxima safra, também não alimentamos expectativas positivas. Ele deve ficar entre menos 2 e 0%. Porém, a inflação está dentro da meta em 4,5%, em 2023, graças a essa superprodução ocorrida, não só no Brasil, mas como no mundo. Isso ajudou a reduzir a inflação de alimento”, afirmou o diretor técnico da CNA.

Crescimento econômico

Em termos de crescimento econômico mundial, o ano passado apresentou um crescimento de quase 6%. Já em 2023, um aumento de 3% e, em 2024, será basicamente a mesma coisa, com 2,9%. “Ainda há efeitos pós-pandemia que estão sendo arrefecidos. A inflação vem sendo controlada, o custo de energia no mundo continua muito alto. Os EUA ainda têm a sinalização do desemprego. A Europa apresenta a questão energética ainda sendo contornada. Não vão ter um consumo muito elevado no próximo ano, porque a economia mundial não vai dar sinais de crescimento de forma muito abrupta”, explicou Lucchi.

Seguro Rural

O diretor da CNA defende que o Brasil precisa de recurso para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). “Entendemos que essa deva ser uma política de Estado, uma política que transcenda governos. Ano passado, tivemos um orçamento aprovado de R$ 1,06 bilhões para o seguro rural. Porém, colocamos que seriam necessários R$ 2 bilhões no Plano Safra e, para 2024, R$ 3 bilhões. Esse recurso seria o mínimo necessário para atingirmos o mesmo cenário de 2021, onde tivemos basicamente 14% da área agrícola assegurada no Brasil”, disse o representante da CNA.

Próxima safra

Fatores como o clima e o mercado, auxiliam na previsão dos números da próxima safa. “Tivemos 321 milhões de toneladas na safa 202-2023. A CONAB, no seu último levantamento, no início de novembro, colocou 316 milhões de toneladas e o IBGE, 308 mi ton. Acreditamos que a CONAB, no próximo levantamento, vai reduzir ainda mais esse valor. Então, não temos um número agora, porque os eventos climáticos de dezembro e janeiro serão fundamentais para definir os rumos desta produção”.

A tendência é que o milho se mantenha prejudicado com preços mais baixos. “O produtor já havia sinalizado que, nesse ano, a área do grão seria bem menor, dando espalo para o algodão que entraria em boa parte das regiões, substituindo o milho. Com o replantio de soja neste momento, teremos ainda uma janela de plantio do milho muito menor para a segunda safra. Então isso pode ser mais um fator inibidor para esta cadeia”.

Preços

Os preços devem se manter estáveis e sem indicativo de melhora. Para o milho, talvez tenha uma melhora justamente por conta da redução de produção. “Isso, porque hoje boa parte dos estoques internacionais estão maiores. A soja está 14% maior, o milho está com elevação de 5% e o consumo não vai estar tão grande. Os Estados Unidos e a Argentina recuperam a produção principalmente de milho. Há uma tendência de não recuperação nos preços dessas cadeias”.

Exportações

Segundo dados oficiais referentes até outubro, houve um crescimento de 3% das exportações do agro. Se comparado com o mesmo período de 2021 e 2022, foram 32% de crescimento, ou seja, teve um crescimento bem menor.

A China aumentou sua participação nas exportações brasileiras com foco na soja e no milho, passando de 33% para 37%, se mantendo como principal destino. Já a carne bovina, houve redução. China comprou US$ 2,6 bi a menos de carne bovina in natura do Brasil.

A quebra da safra na Argentina fez com que o país passasse de 18º principal destino das exportações do agro para 5º principal destino, dobrando as exportações, basicamente de soja.

Dados sobre 2023 até outubro, com relação à participação do agro nas exportações, o setor foi responsável por 47,5%, ano fechado. “Se olharmos até outubro, vimos que o agro está responsável por 49,4% das exportações totais brasileiras. Fechamos outubro com US$ 140 bi exportados. O ano fechado foi US$ 159 bilhões. Então estamos fazendo uma previsão de um aumento, caso se mantenha 3%. Neste cenário, o ano deve fechar com US$ 164 bi de exportações”.

Abertura de mercados

A abertura de mercados deve continuar no próximo ano como consequência da polarização das economias mundiais, devido ao aumento das tensões geopolíticas.

Por Equipe SNA
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