Janeiro está sendo um mês atípico para os produtores de feijão. Depois de um ano difícil, marcado por preços baixos, a leguminosa registrou alta de 60% desde o fim de dezembro e, nesta semana, chegou a R$ 330,00 a saca de 60 quilos. Apenas nos últimos sete dias, a valorização foi de 30%.
Ocorre que a colheita da primeira safra (o feijão tem três safras por ano) ficou aquém do esperado devido à prolongada estiagem no Sul e no Sudeste do país, e os estoques estavam magros em decorrência de uma terceira safra na temporada 2017/18 (finalizada em outubro) também abaixo das expectativas.
“A quebra média na primeira safra (de 2018/19) foi de 30%, mas há regiões importantes no Paraná e em Minas Gerais (principais estados produtores neste período) aonde chegou a 50%”, disse o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe), Marcelo Lüders.
Por isso, ele sustenta que o atual aumento de preços não é especulativo. “Mesmo com menor demanda em janeiro, não temos feijão em quantidade disponível para atender a essa demanda”.
O consumidor deverá sentir os efeitos da alta em fevereiro. Sem possibilidade de importar feijão carioca, já que o Brasil é o único país que produz a variedade mais consumida no mercado doméstico, a indústria e o varejo costumam repassar imediatamente as valorizações no campo.
O feijão carioca tem peso de 4,55% no grupo de alimentos do IPCA, e de 0,14%, se levado em conta o indicador de inflação como um todo. Somente em dezembro (último dado disponível), o produto subiu 12,98% em relação a novembro. No ano passado, a alta foi de 4,55%.
No início deste ciclo 2018/19, a expectativa era que a primeira safra de carioca chegasse a 800.000 toneladas, mas em seguida a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu sua previsão para 623.000 toneladas, por causa da seca. Em seu último relatório, a estatal voltou a baixar expectativas e passou a prever 613.000 toneladas.
Somadas as três safras da temporada corrente, a produção da variedade deverá chegar a 1.8 milhão de toneladas, ainda segundo a Conab. Essa também é exatamente a estimativa para o consumo interno.
Mas, mesmo que o consumidor queira comprar outro tipo de feijão, a oferta não é abundante. A quebra do feijão preto (as outras variedades são insignificantes na primeira safra) também é estimada em 20%. Para esta variedade, a expectativa de colheita, que chegava a 311.200 toneladas, agora é de 291.000 toneladas.
Somados todos os tipos de feijão produzidos no país, a colheita deverá chegar a 3.1 milhões de toneladas em 2018/19, 0,6% menos que em 2017/18. O consumo total é estimado em 3.15 milhões de toneladas.
Para Lüders, o abastecimento de feijão será problemático até abril, quando começará a colheita da segunda safra da leguminosa. E a depender do comportamento do varejo e do consumidor, a saca poderá voltar a bater em R$ 400,00 como observado em meados de 2016.
“Os supermercados costumam subir os preços antecipadamente, antes de fazer novas compras, e as pessoas, com medo das pequenas altas, se abastecem mais de um produto que consideram essencial. Assim, as altas ficam mais expressivas. Foi o que vimos em 2016”, afirmou o presidente do Ibrafe.
Segundo ele, a atual valorização do produto, expressiva, pode causar problemas, já que dificulta a programação dos próximos plantios, estimula a entrada de atravessadores e afasta consumidores.
“A estabilidade é muito mais interessante para o produtor, desde que o valor de comercialização pague o custo de produção e gere certa rentabilidade”, disse. O custo de produção da primeira safra é calculado pelo Ibrafe em R$ 160,00 a saca.
Valor Econômico