Os suculentos pêssegos provenientes do Sul do País, que responde por 66% da produção doméstica da fruta, deverão chegar logo às mesas dos brasileiros. Mas, por causa de problemas climáticos, a oferta da região neste ano será menor que a de 2018, quando chegou a 104.400 toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região da Serra Gaúcha, as variedades precoces já foram colhidas, segundo a Emater/RS-Ascar, e a queda é grande.
Evair Ehlert, engenheiro agrônomo e responsável na Emater pela área de produção vegetal de Pelotas, uma das principais regiões produtoras de pêssegos do país, diz que o momento é de preocupação entre os produtores do Estado. Em anos anteriores, os pessegueiros de Pelotas produziram entre 50.000 e 60.000 toneladas, enquanto a previsão para a colheita deste ano é de apenas 35.000 toneladas. “Estamos com uma frustração de safra”, disse.
A redução da produção no polo gaúcho se deve ao clima. Maria do Carmo, melhorista e pesquisadora da Embrapa, explica que em 2019 o outono se prolongou e o frio acabou chegando mais tarde no Sul do país. “As safras das variedades bonão, granada e marcel estão atrasadas, e essas são justamente as frutas utilizadas pelas indústrias”, afirmou. Apesar da queda da oferta, a pesquisadora acredita que, em comparação com 2018, a qualidade das frutas está melhor.
Diante da perspectiva de retração na produção, a remuneração dos produtores da região de Pelotas também deverá cair. Segundo dados da Emater, em uma safra com produção de 60.000 toneladas, a remuneração dos produtores do polo chega a R$ 72 milhões. Neste ano, portanto, deverá ficar em cerca de R$ 42 milhões. De acordo com informações da Emater e do IBGE, a maior parte do cultivo nacional está concentrada em pequenos produtores, mais especificamente nas mãos de 1.041 famílias dos três Estados do Sul, só na região de Pelotas, são 605.
Um dos principais destinos da fruta do Sul é a produção de pêssego em calda. Segundo Paulo Croshemore, um dos fundadores da rede de doces que leva seu sobrenome e se abastece desses pessegueiros, o preço médio pago pelo quilo da fruta para o segmento é R$ 1,25. De acordo com o técnico da Emater, o valor pode variar a depender do tamanho da safra e também da qualidade dos frutos. “Na safra passada, a indústria estava pagando R$ 1,00 o quilo; agora, o preço pode chegar a R$ 1,30”, disse.
Para atender a demanda dos brasileiros, a importação tornou-se recorrente. Segundo o pesquisador da Embrapa Luiz Clovis Belarmino, como o consumo doméstico médio varia entre 80 milhões e 90 milhões de latas de 1 quilo de pêssego em calda, a produção nacional não é suficiente. “Produzimos cerca de 50 milhões a 60 milhões de latas por ano. O restante importamos basicamente da Argentina”. Para sanar a necessidade da produção de polpa da fruta, importante também para a produção dos sucos, as importações vêm de Argentina e Chile.
Entre os desafios da cadeia produtiva da fruta em 2020, Belarmino aponta a necessidade de elevação da produção de nectarinas, os pêssegos glabos, além de melhorar a produtividade. “Nossa média está em 11 toneladas por hectare e há tecnologia para triplicá-la”.
Índice Ceagesp
O Índice Ceagesp, baseado em uma cesta de 150 produtos negociados no entreposto da estatal na capital paulista, caiu 1,16% no ano passado “Com a manutenção dos juros baixos, o setor pôde investir mais e, com isso, aumentar a produção”, informou a Ceagesp. Segundo a empresa, foi esse aumento de oferta o principal fator de pressão sobre os preços. O segmento de legumes registrou queda expressiva ao longo do ano (11,6%), puxada por baixas superiores a 40% de produtos como beterraba, cenoura e berinjela. Mas houve alta do lado das verduras (quase 9%). No segmento de frutas, a variação média foi pequena.
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