Com a semeadura do algodão recém-concluída em Mato Grosso, principal produtor da fibra do País, as perspectivas para a produção são animadoras, mas a estimativa de aumento da oferta global da commodity é fonte de incerteza para os produtores.
Diante da expectativa de que o clima ajudará o produtor brasileiro nesta safra 2016/17, a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) estima que a produção da pluma no País crescerá 10,3% em relação ao ciclo 2015/16, atingindo 1.4 milhões de toneladas.
“Estamos enxergando uma produtividade de 266 arrobas por hectare, acima da média”, disse Arlindo Moura, presidente da Terra Santa, uma das maiores empresas produtoras de grãos e fibras do País. Na comparação com a safra 2015/16, quando a produtividade das lavouras da Terra Santa foi de 235 arrobas por hectare, trata-se de um crescimento de 13,1%. Na atual safra, a empresa semeou 27.000 hectares de algodão em Mato Grosso.
Em contraste com o cenário positivo para a produção, a tendência de preços não é das mais animadoras, disse o sócio-diretor da Fibra Corretora, Christian Reich. “As vendas antecipadas que nós fizemos na outra safra foram melhores que as dessa”, disse. Segundo Reich, a valorização do real reduz a receita dos produtores.
Embora a recomposição da oferta de algodão seja positiva para a indústria processadora, ainda deve faltar algodão nesta entressafra, de outubro a abril, disse o consultor da FCStone, Elder Silveira. “Até o momento, a expectativa de produção é suficiente para atender a demanda interna e a exportação durante a safra. Mas durante a próxima entressafra, teríamos um estoque apertado”, disse.
Com o intuito de garantir o abastecimento da indústria até o início da colheita, em maio, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) entrou com pedido de tarifa zero para a importação de algodão. O setor demandou 100.000 toneladas, mas, após a negociação com produtores, o Comitê Executivo de Gestão (Gecex), órgão vinculado à Câmara de Comércio Exterior (Camex), autorizou a importação de até 75.000 toneladas isentas da Tarifa Externa Comum (TEC) de 6%.
Na avaliação do presidente da Abit, Fernando Pimentel, o cenário para a indústria ainda inspira cuidados, apesar da recuperação da produção. Segundo ele, a valorização do real pode estimular a importação de produtos acabados, diminuindo as vendas dos fabricantes brasileiros.
Fonte: Valor