Com uma combinação “excepcional” de clima favorável durante o ciclo inteiro em todas as regiões do Estado, o Rio Grande do Sul iniciou a colheita de soja desta safra 2014/15 com indicativos de que pode alcançar um novo recorde de produção, de 15 milhões de toneladas. A estimativa é do engenheiro agrônomo da Emater-RS, Alencar Rugeri, para quem a projeção inicial de rendimento médio das lavouras, de 2.781 quilos por hectare, feita antes do plantio, deve ser superada na colheita.
Acostumado a conviver com longas estiagens no verão, que nos últimos dez anos foram particularmente severas nos ciclos 2004/05 e 2011/12, o Estado conseguiu romper a barreira das 10 milhões de toneladas na temporada 2009/10. Na safra seguinte, o volume pulou para 11.7 milhões. Caiu na subsequente, mas ultrapassou os patamares de 12 milhões de toneladas em 2012/13 e de 13 milhões em 2013/14, de acordo com o IBGE.
Até agora, as previsões da Emater-RS, da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) e do próprio IBGE para o ciclo atual ficam entre 14.1 milhões e 14.7 milhões de toneladas, com área cultivada de 5.1 milhões a 5.2 milhões de hectares e rendimento médio de 2.781 a 2.817 quilos por hectare. Mas, segundo Rugeri, as primeiras lavouras colhidas renderam de 2.800 a 3.000 quilos por hectare em média e reforçaram a expectativa de um nível mais elevado de produção.
Para o agrônomo, o bom desempenho da soja nas duas colheitas anteriores também contribuiu para o resultado deste ano, pois os produtores vieram capitalizados para a safra atual e puderam investir mais em tecnologia. Além disso, os preços do grão, sustentados agora pela alta do dólar, seduziram os agricultores e a cultura ainda avançou principalmente sobre áreas de pastagens e milho, disse Rugeri.
O consultor Carlos Cogo atribui o crescimento da safra neste ano ao clima “perfeito”, sem os “bolsões de seca” comuns no Estado, e começa a perceber impactos positivos dos projetos de irrigação, que segundo ele vêm crescendo 20% ao ano nos últimos cinco anos e já alcançam 100.000 hectares na soma das lavouras de soja e milho, além de alguns avanços no uso da agricultura de precisão. “Há muitos relatos de produtividades superiores a 3.000 quilos e até de 4.000 quilos por hectare”.
Cogo lembra que nas últimas cinco safras a soja agregou mais de 1 milhão de hectares adicionais no Estado. Ele acredita na manutenção dessa tendência nos próximos anos porque a cultura proporciona um ganho médio, descontados os custos variáveis, de US$ 500,00 por hectare, o dobro do milho e da pecuária de corte. Segundo Cogo, em 2025 as lavouras do grão devem chegar perto de 6 milhões de hectares, com alta na produtividade média para cerca de 3.000 quilos por hectare no mesmo período.
Mesmo assim, conforme o consultor, a projeção que ele faz para o rendimento médio das lavouras gaúchas daqui a dez anos ainda equivale às estimativas médias da Conab e do IBGE para todo o Brasil na safra atual. De acordo com Cogo, aspectos culturais como o hábito dos produtores de usar sementes salvas na propriedade em pelo menos 20% da área e a estrutura fundiária local são fatores que impedem um salto mais acentuado no nível de produtividade no Estado.
O consultor afirma que apenas 9% das lavouras no Rio Grande do Sul têm mais de 100 hectares e rendimentos mais elevados, enquanto 51% delas vão até 20 hectares e registram desempenho de no máximo 2.500 quilos por hectare. Na média brasileira, as plantações com mais de 100 hectares chegam a 17% e em Mato Grosso, por exemplo, alcançam 89,5% do total, com maior emprego de tecnologia e produtividade acima de 3.200 quilos por hectare, compara.
Segundo o agrônomo Alencar Rugeri, da Emater, as estatísticas e projeções oficiais ainda não levam em conta a “safrinha” de soja que começa a ganhar espaço no Estado. Semeada em janeiro sobre áreas colhidas de milho, ela dobrou de tamanho nos dois últimos anos, para cerca de 100 mil hectares, mas apresenta rendimento médio entre 1.200 e 2.400 quilos por hectare por ser plantada após o período normal, que vai até dezembro, explica. Na opinião de Rugeri, se as cotações e o câmbio continuarem favoráveis, essas lavouras podem chegar a ocupar cerca de 200.000 hectares em mais dois anos.
Fonte: Valor Econômico