Dois pesquisadores, Silvio Crestana da Embrapa Instrumentação e Claudia De Mori da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos – SP), discutem a produção de alimentos, fibras e energia na era da economia e sociedade do conhecimento no livro “Propriedade intelectual e inovações na agricultura”, lançado na quinta-feira, dia 9, no Instituto de Economia da Unicamp (Campinas – SP).
O tema é abordado no segundo capítulo da primeira das três partes da publicação de 384 páginas, com contribuição de 30 autores de diversas instituições, além da Embrapa.
Organizado pelos professores da Unicamp, Antônio Márcio Buainain e Maria Beatriz Machado Bonacelli e pela pesquisadora da Embrapa Informática Agropecuária, Cássia Isabel Costa Mendes, o livro pode ser acessado pelo endereço: https://www3.eco.unicamp.br/nea/nucleo/146-destaque/570-seminario-propriedade-intelectual-e-dinamica-da-inovacao-na-agricultura-9-e-10-de-junho
Embora o País tenha conseguido dar passos gigantescos para o desenvolvimento do agronegócio – produção de alimentos, fibras e energia – Silvio Crestana e Claudia Mori chamam a atenção para o risco da dependência brasileira na produção das principais commodities agrícolas, considerando a importação de insumos.
“É preciso repensar as ferramentas empregadas há 15, 20 anos, quando o foco para aumentar a produção era via incremento da produtividade”, disse Crestana, ao lembrar que atualmente o conceito que gira em torno dos processos de produção é a sustentabilidade, em virtude da escassez dos recursos naturais.
Os autores discutem as tendências, premências e drivers que nortearão o futuro do sistema agroalimentar, da ciência, tecnologia e inovação em sistemas agroindustriais referentes às tecnologias convergentes, sistemas complexos e sustentabilidade; estrutura, políticas públicas e inovação organizacional.
Em relação ao sistema agroalimentar, os pesquisadores apontam no artigo quatro problemas em escala mundial, que são a fome, governança mundial, meio ambiente e a demanda crescente por energia. A pressão para se viabilizar as atividades agropecuárias, florestais e agroenergéticas tem sido, por exemplo, cada vez mais intensa.
O indicador terra agricultável per capita apresentado por eles, aponta que, em 1961, para uma população de 3.08 bilhões de habitantes, existiam 4.428 metros quadrados de área agricultável para cada habitante.
Em 2000, para uma população de 6.13 bilhões de habitantes, o indicador se reduziu a 2.479 metros quadrados por habitante e, em 2050, para uma população projetada de 9.55 bilhões, o mesmo indicador deve se reduzir a 1.809 metros quadrados por habitante.
Aliado a esse indicador, outros também se apresentam de forma crucial para a produção de alimentos, que são a disponibilidade/qualidade de água; uso e descarte adequados dos resíduos sólidos; mitigação do efeito estufa; suprimento de energia via fontes de recursos naturais.
Os autores acreditam que, diante das tendências alimentares, os processos agroindustriais deverão desempenhar funções estratégicas, com ênfase em: melhora da qualidade sensorial; conservação e manutenção do frescor dos alimentos; preservação do valor nutricional; maior praticidade dos produtos e flexibilidade para consumo; redução de resíduos e perdas; aumento da produtividade; flexibilidade na produção; melhora da segurança dos alimentos; desenvolvimento de sistemas de controle mais eficientes; sustentabilidade; biofortifiação; capacidade de proporcionar benefícios diretos à saúde.
Para que isso seja possível, os pesquisadores afirmam que, entre os desafios de inovação, estão desde a adequação de produtos e serviços aos novos hábitos de compra dos indivíduos ao uso de ingredientes orgânicos e inorgânicos visando a aumentar a vida útil dos produtos e torná-los mais saudáveis e atraentes sensorialmente.
“Podemos afirmar que a agricultura se tornará progressivamente um sistema otimizado e de alto desempenho (com eficiência, eficácia e efetividade)”, afirmam.
Mas lembram de que os grandes desafios do desenvolvimento sustentável, da tecnologia do conhecimento e da inovação exigem o emprego de diversas disciplinas. Se antes se caracterizava pela interdisciplinaridade, o futuro próximo será pautado pela inter e transdisciplinaridade.
“Embora ousado, não é exagero afirmar que tais ingredientes são e serão os principais drivers que guiarão as grandes mudanças paradigmáticas, em curso”.
Sem abrir mão dos métodos tradicionais adquiridos há uma década ou duas atrás, os autores lembram que atualmente as chamadas tecnologias convergentes – tecnologia da informação, nanotecnologia, ciências cognitivas e biotecnologia – é que estão na base da construção do conhecimento e da produção atual.
E para viabilizar uma nova revolução agrícola, sucedânea da revolução verde, mas que seja muito mais verde e socialmente mais justa sugere o que poderia ser chamada de revolução “agro-sócio-ambiental”.
Fonte: Embrapa