Chuvas favorecem a recuperação da próxima safra de cana no centro-sul

As chuvas que sucedem, desde o início da primavera, a severa seca do último inverno podem indicar um cenário menos pessimista para os produtores de cana do  centro-sul na próxima safra (2019/20), que começa em abril.

Embora ainda haja divergências quanto às perspectivas para a produtividade dos canaviais, o clima mais úmido em outubro já alimenta expectativas de alguma recuperação em relação à atual safra (2018/19), segundo representantes da indústria.

“Se o clima (do verão) for favorável, tudo indica que (a próxima safra) pode ser um pouco superior a esta. Mas continua inferior à safra 2017/18”, disse Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica). O dirigente pondera, contudo, que 80% do volume da próxima safra é definido pelas chuvas de novembro a março.

“Para a safra atual, cuja moagem está terminando mais cedo, o volume de cana processado deve ficar entre 30 milhões e 40 milhões de toneladas abaixo do ciclo passado, que foi de 596 milhões de toneladas”, afirmou Rodrigues. Até o fim de outubro, a moagem alcançou 508 milhões de toneladas, cerca de 90% do que deve ser moído nesta temporada.

A falta de investimentos nos canaviais e o clima adverso devem levar à menor produção desde o ciclo 2012/13, quando foram moídas 532 milhões de toneladas. A quebra está concentrada em São Paulo e no Paraná, onde a seca foi mais severa.

Após a forte seca do inverno, as precipitações da primavera já chegaram a superar a média histórica em várias regiões. Nas lavouras das usinas da Adeacoagro em Mato Grosso do Sul, as chuvas estão superando a média desde agosto, segundo Renato Junqueira, diretor de Açúcar, Etanol e Energia, em teleconferência com analistas.

Como efeito, a moagem deste ano deve estar 5% abaixo do previsto, mas 90% do processamento desta parcela deve ficar para 2019, acrescentou.

Na última entressafra do centro-sul, as empresas aumentaram, em relação à entressafra anterior, a área de renovação de canaviais que devem ser colhidos em meados na safra 2019/20, o que pode evitar mais reduções de produtividade. Mas, na safra atual, a área destinada à reforma deve ser menor que na temporada passada.

Nas regiões mais afetadas pela seca, o desenvolvimento das plantas atrasou, e em algumas áreas o trabalho teve de ser refeito.

“Se chover regularmente no verão, algumas áreas se recuperam. Mas é cedo para dizer”, disse Carlos Dinucci, presidente da usina São Manoel, no município paulista de mesmo nome. Segundo ele, em sua região, as chuvas voltaram à normalidade em agosto, e em setembro atingiram o dobro da média, em 280.000 milímetros.

Houve casos ainda de atraso nos trabalhos de plantio para a renovação de áreas no inverno. Foi o que aconteceu com a Zilor, dona de três usinas em São Paulo.

“Na usina de Lençóis Paulista, a companhia interrompeu o plantio de inverno por causa da estiagem prolongada e só retomou os trabalhos em agosto”, disse Fabiano Zillo, presidente da empresa. Por isso, a companhia estima que a produtividade da safra 2019/20 deve ficar ao menos 2% abaixo do esperado, em torno de 68 toneladas por hectare.

Mesmo com uma renovação em andamento, a extensão não foi suficiente para evitar o aumento da idade dos canaviais, o que torna as plantas mais suscetíveis a intempéries. Segundo Rodrigues, da Unica, “as lavouras do centro-sul desta safra estão com  idade média de 3,6 anos – 0,1 ano a mais do que no ciclo passado, o que já faz diferença no rendimento”.

A idade média ideal para que as plantas sejam mais resistentes às variações climáticas é de 3,2 anos. Com essa idade, a expectativa de produtividade seria de 85 toneladas de cana colhidas por hectare. Até o fim de outubro, o rendimento desta safra está bem abaixo desse patamar, em 74,45 toneladas por hectare, segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

 

Fonte: Valor Econômico

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