Os produtores de soja de Mato Grosso devem respirar mais aliviados nos próximos dias, porque há chuvas nos mapas meteorológicos do Estado, maior produtor nacional de grãos. E desta vez, a previsão é que as precipitações serão mais abrangentes que as ocorridas desde o início do plantio da oleaginosa, em meados de setembro, o que tende a destravar os trabalhos no campo e sustentar as projeções de uma nova safra recorde. “Observamos uma mudança no padrão de chuvas e há um retorno gradativo”, adianta Tiago Robles, da Somar Meteorologia.
Segundo Robles, as “melhores chuvas” em Mato Grosso e no restante do Centro-Oeste começarão hoje e se estenderão até a primeira semana de novembro. Depois desse período, a perspectiva é do retorno de temperaturas elevadas e precipitações isoladas, mas as lavouras aguentarão essa lacuna de umidade, prevê o especialista da Somar. “Já na segunda quinzena de novembro, a previsão volta a ser favorável à soja, com mais chuvas”.
A estiagem em Mato Grosso atrasou o início dos trabalhos com a oleaginosa na atual safra 2015/16 e, em certa medida, ajudou a dar suporte às cotações da commodity no mercado doméstico, juntamente com o dólar valorizado. Mas aos poucos o ritmo de plantio tem se normalizado.
Levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica que a semeadura avançou para 19,57% da área prevista no Estado até 21 de outubro, muito próximo dos 20,11% do mesmo período de 2014, quando também houve um golpe da seca. O IMEA estima que Mato Grosso vá colher um volume 3,5% maior nesta temporada na comparação com 2014/15, de 29.1 milhões de toneladas – ou cerca de 30% da produção total do País.
Chuvas irregulares nas últimas semanas levaram parte dos agricultores mato-grossenses a arriscar o plantio de soja, mas o resultado não foi de todo bom. “Está difícil até olhar para a lavoura que já foi semeada, porque a aparência está muito ruim”, conta Laercio Lenz, presidente do sindicato rural de Sorriso, no norte do Estado. Segundo ele, há praticamente duas semanas os produtores locais estão com as máquinas paradas.
Lenz estima que 33% da área de soja já foi plantada em Sorriso, quando o normal para este período seriam 70%. À exceção do ano passado, lembra ele, quando os trabalhos engrenaram apenas depois de 20 de outubro. “Se não tivéssemos plantado nada até agora, teria sido melhor”, lamenta ele.
Em Primavera do Leste, na porção sudeste de Mato Grosso, a situação é semelhante: em torno de 30% da área está plantada e há 20 dias não cai uma gota do céu, diz José Nardes, presidente do sindicato rural local. “Esse ano está mais quente e mais seco que no ano passado. Vai haver replantios, com certeza”, afirma.
Contudo, tropeços no rendimento não são cogitados pelo setor até o momento. “Por enquanto, não vemos motivo de preocupação sob o ponto de vista da produtividade da soja, nem sobre o possível atraso no plantio do milho safrinha [feito na sequência da colheita da oleaginosa]”, afirma o analista Marcos Rubin, sócio da Agroconsult.
O fato é que fatia importante da safrinha de milho (que será plantada apenas no início de 2016) já foi vendida, o que aumenta a preocupação dos produtores de que algo dê errado se o plantio da cultura for “empurrado” pela soja. A Agroconsult estima que 30% a 40% da safrinha já esteja comercializada no Brasil – a maior parte em Mato Grosso, onde os preços estão remuneradores. “Temos visto ofertas de até R$ 19,00 a R$ 20,00 por saca”, diz Nardes. Há um ano, havia ofertas no Estado a R$ 11,00 e R$ 12,00.
O atual cenário de irregularidade de chuvas na região central brasileira é reflexo do fenômeno El Niño – que no Sul do Brasil tem provocado excesso de umidade. Em Mato Grosso, o fenômeno climático contribuirá com mais um período seco entre o fim de dezembro e janeiro. Já no Rio Grande do Sul, mais afetado pelas chuvas, o plantio de soja ainda engatinha, por isso não há perdas com a oleaginosa até aqui.
No Paraná, vice-líder na produção nacional de grãos, a semeadura está adiantada, com mais da metade da área plantada em boa parte do Estado. Os preços da soja também estão atraentes ao produtor. O indicador CEPEA/ESALQ para a saca de 60 quilos no Paraná acumula elevação de mais de 30% em um ano, atualmente muito próximo dos R$ 80,00 por saca.
Fonte: Valor Econômico