As margens poderiam estar mais atraentes, mas mesmo assim a Cofco International vem cumprindo à risca a meta de fazer do Brasil o principal fornecedor de soja de sua controladora, a estatal chinesa de alimentos Cofco, uma gigante com faturamento superior a US$ 40 bilhões e consumo de mais de 22 milhões de toneladas do grão por ano.
Segundo Valmor Schaffer, principal executivo da Cofco Intl no Brasil e na América do Sul, no total as exportações de soja e milho colhidos do país na safra 2016/17 vão ultrapassar a marca de dez milhões de toneladas. O mercado chinês é o destino de cerca de 85% dos embarques de soja, que representam a esmagadora maioria do volume total.
A divisão também vende grãos para outros países e, no caso da soja, parte do volume originado alimenta sua unidade de processamento localizada em Rondonópolis, no Mato Grosso. A planta tem capacidade para quatro mil toneladas por dia, transformadas em farelo e óleo de soja. O farelo é destinado a empresas de carnes, e grande parte do óleo serve à fabricação de biodiesel.
O volume tende a continuar aumentando, em linha com a tendência de crescimento das necessidades da Cofco. Nos próximos anos, disse Schaffer, o consumo de soja da gigante deverá chegar a 30 milhões de toneladas, já incluídos os volumes demandados pela Chinatex, adquirida recentemente, e pela Sinograin, com a qual a Cofco mantém parceria.
Segundo o executivo, a soja importada é direcionada pela Cofco, sobretudo à produção de ração voltada ao segmento de carnes e à pecuária leiteira. E, com o afrouxamento da política chinesa de autossuficiência, ele acredita que as importações de milho brasileiro por parte do país asiático também vão avançar no médio e longo prazo.
Apesar de estar cumprindo seus objetivos, a Cofco International, como as demais tradings multinacionais de grãos que atuam no Brasil, está enfrentando turbulências no país este ano. Ocorre que os produtores estão segurando as vendas o quanto podem, à espera de melhores preços, e as tradings estão sendo obrigadas a abrir mão de margens para cumprir contratos com operadores logísticos e importadores.
“Em consequência desse ‘vende e para’, influenciado pela volatilidade do dólar, o caminho das margens tem sido errático”, disse Schaffer ao Valor. Em boa medida, lembra o executivo, o produtor de grãos está conseguindo “segurar” as vendas por estar capitalizado, após uma sequência de safras remuneradoras.
Ao que tudo indica, essas turbulências vão perdurar na safra 2017/18, cujo plantio terá início em setembro. Isso porque as vendas antecipadas dos volumes de soja e milho que serão colhidos na nova temporada também estão lentas. E, nas contas da Cofco, essas colheitas serão um pouco menores que em 2016/17. A empresa prevê 110 milhões de toneladas de soja e 98 milhões de toneladas de milho.
“Mas estamos otimistas em relação ao ano que vem. Começamos a dominar as dificuldades”, disse Schaffer. Para apoiar seu crescimento no segmento de grãos no Brasil, a Cofco Intl tem em curso dois investimentos de maior relevância: a construção de um silo com capacidade para 70 mil toneladas em Marcelândia, no norte de Mato Grosso, e a instalação de um porto fluvial com capacidade para 90 mil toneladas em Canoas, no Rio Grande do Sul.
Além de estar fortalecendo cada vez mais os negócios na área de grãos, a Cofco Intl também continua a reforçar os investimentos no segmento sucroalcooleiro no Brasil. Segundo fontes do ramo, a companhia está inclusive negociando a compra de uma usina no centro-sul, mas Valmor Schaffer não confirma a informação.
“Não estamos envolvidos em uma negociação específica, mas continuamos avaliando oportunidades”, disse. A Cofco Intl já é dona de quatro usinas em São Paulo, na qual processa, conforme estimativas, cerca de 15 milhões de toneladas de cana por safra. As exportações de açúcar da empresa a partir do Brasil ultrapassam quatro milhões de toneladas.
Desde que começou a tomar forma, em 2014, quando deu início às aquisições dos controles da holandesa Nidera e da divisão agrícola do grupo asiático Noble, a Cofco Intl, que deverá concluir a integração das empresas compradas até o fim do ano, já investiu cerca de US$ 1.5 bilhão no país. Segundo Schaffer, os negócios de comercialização de café brasileiro foram reestruturados e vão apresentar resultados mais relevantes no médio prazo. A empresa tem capacidade para exportar um milhão de sacas a partir do Brasil.
A Cofco International é uma das tradings de grãos que têm alimentado a expansão das exportações pelos portos do chamado Arco Norte, que recebeu investimentos bilionários dessas empresas em logística nos últimos anos. Como não conta com estrutura própria na região, a empresa é cliente do terminal da Hidrovias do Brasil em Barcarena, no Pará, e por lá movimenta volumes de soja e milho menores apenas que em Santos (SP) e Paranaguá (PR).
Segundo informações do Ministério da Agricultura, no total, os portos localizados no Arco Norte – Itacoatiara e Itaqui, no Maranhão; Santarém e Barcarena, no Pará, e Salvador, na Bahia, foram responsáveis pelo escoamento de 15.3 milhões de toneladas de soja e milho ao exterior entre janeiro e julho deste ano e já respondem por 24% dos embarques nacionais totais desses produtos.
No período, a liderança das exportações brasileiras desses grãos permaneceu com Santos. Segundo o ministério, pelo porto do litoral paulista foram escoadas 21.4 milhões de toneladas, e o volume anual deverá chegar a 37 milhões de toneladas. No porto de Paranaguá, o volume de soja e milho destinado ao exterior atingiu 11.8 milhões de toneladas, e no porto gaúcho de Rio Grande o total foi de 8.6 milhões de toneladas.
Fonte: Valor Econômico